O último governador português de Macau e antigo Chefe do Estado-Maior do Exército morreu esta madrugada de quarta-feira, aos 85 anos, em Lisboa. O tenente-general Vasco Rocha Vieira nasceu a 16 de agosto 1939 e exerceu o cargo de governador de Macau entre 1991 e 1999, quando se processou a transferência do território para a China. A Câmara Municipal de Lisboa já lamentou o falecimento do tenente-general Vasco Rocha Vieira.
Morreu o tenente-geral Vasco Rocha Vieira, último governador de Macau (entre 1991 e 1999), informou um porta-voz do Exército. O tenente-general Vasco Rocha Vieira, que foi também ex-ministro da República para os Açores, morreu aos 85 anos. Além disso, foi Chefe do Estado-Maior do Exército.
A Câmara de Lisboa já emitiu numa nota de pesar a lamentar o “falecimento do Tenente-General Vasco Rocha Vieira. Rocha Vieira dedicou a sua vida à defesa do interesse nacional, servindo notavelmente Portugal como Chefe do Estado-Maior do Exército e como último Governador de Macau”.
Carlos Moedas, que diz ter sido “uma honra contar com o depoimento de Rocha Vieira na primeira cerimónia de evocação do 25 de novembro nos Paços do Concelho, em 2023″, defende que o Tenente-General, um “estadista de visão”, assegurou uma “transferência pacífica da soberania de Macau para China. Homem de coragem, contribuiu para a consolidação do processo democrático, sendo peça fundamental do 25 de novembro de 1975”.
Marcelo lamenta
O Presidente da República também já manifestou o “seu mais profundo pesar pelo falecimento do Senhor General Vasco Rocha Vieira”, lê-se em nota publicada no site oficial da Presidência da República. Na nota, Rocha Vieira é descrito como “um dos mais ilustres oficiais do Exército Português na transição para a Democracia e nas primeiras décadas da sua afirmação.”
“O simbolismo do momento da transferência da administração portuguesa para a chinesa permanecerá na memória de muitos portugueses como um exemplo de sentido de Estado, sentido de serviço da causa pública e de marcado patriotismo”, destaca o Presidente da República.
Do Algarve a Macau
Vasco Rocha Vieira nasceu em Faro (Lagoa) no ano de 1939. Em 1956, ingressou no Colégio Militar e recebeu o prémio Alcazar de Toledo por ser o finalista com melhor avaliação de entre todos os alunos, tendo-se licenciado em Engenharia Civil. Foi chefe do Estado-maior Territorial Independente de Macau entre 1973 e 1974, ano em que volta a Portugal por causa do 25 de Abril.
Tornou-se depois o chefe do Estado-Maior do Exército entre 1976 e 1978. Foi membro do Conselho da Revolução na altura em que Otelo Saraiva de Carvalho, um dos estrategas da Revolução dos Cravos, foi colocado na reserva compulsiva.
Mais tarde, Rocha Vieira assumiu ainda o cargo de ministro da República nos Açores entre 1986 e 1991, antes de voltar a Macau entre 1991 e 1999 para ser governador do território — o último antes de passar a estar sob a administração da China. Cerca de dois anos depois, o tenente-general passou à reserva.
Chanceler de antigas ordens militares
Entre 2006 e 2016, foi chanceler do Conselho das Antigas Ordens Militares por indicação de Ramalho Eanes, de quem era muito próximo. Nesse ano, publicou o livro O 25 de Novembro e a Democratização Portuguesa em co-autoria com o sociólogo António Barreto.
Foi ainda o representante de Portugal no Comando Aliado da NATO e subdiretor do Instituto de Defesa Nacional. Vasco Rocha Vieira recebeu de Aníbal Cavaco Silva, em 2015, a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito. Antes disso já tinha sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1986), a Grã-Cruz da Ordem de Cristo (1996) e com o Grande Colar da Ordem do Infante D. Henrique.
Mas o seu percurso também foi marcado por polémicas. Financiou, com dinheiro macaense, a Fundação Jorge Álvares, cuja criação foi proposta pelo próprio tenente-general ao então Presidente português, Jorge Sampaio, a dois meses de abandonar o cargo de governador — um caso que terá provocado atritos entre ambos.
Foto de capa: CMLisboa