A Associação de Moradores 18 de Maio tem nos seus pergaminhos uma vitória de uma batalha hercúlea, que se arrastou por décadas, pela melhoria das condições de vida dos moradores deste bairro municipal de Carnaxide. Nascida para lutar pela dignidade de vida dos seus moradores, é hoje um exemplo na promoção dos valores da solidariedade e da retidão de carácter.
Os moradores do bairro 18 de Maio, em Carnaxide, lutam incansavelmente há quatro décadas pela possibilidade de adquirirem os terrenos das suas habitações camarárias. Por detrás desta batalha, está a Associação de Moradores 18 de Maio, uma instituição que nasceu há 50 anos e que tem dado voz às reivindicações dos habitantes do Bairro. Nascida ainda no tempo em que o Bairro era um amontado de barracas, a AM 18 de Maio forjou-se pela necessidade de dar dignidade à vida de todos aqueles que, nas décadas de 70/80, vieram à procura de um futuro melhor na “grande cidade”. O Bairro foi, na altura, o ponto de encontro dos milhares de migrantes, tanto nacionais como estrangeiros, que “ocuparam” os subúrbios da Grande Lisboa e o lugar possível onde aquelas pessoas conseguiriam viver.
Com os alvores do 25 de Abril, vieram então as promessas de construção de casas dignas para as frangas da população que viviam marginalizadas em autênticos bairros da lata que circundavam a capital, como os habitantes do 18 de Maio. Mas os processos burocráticos fizeram arrastar a resolução (e avanço efetivo) dos problemas da habitação precária em Oeiras. Ainda assim, os moradores do Bairro persistiram e nunca baixaram os braços, recorda, com orgulho, Fernando Jorge, presidente da AM 18 de Maio, em entrevista ao “Olhares de Carnaxide e Queijas”.
A luz ao fundo túnel
Mas esses tempos de dificuldades já terão ficado como “apenas” um registo traumático na memória dos habitantes, pois a situação é hoje bem distinta dos tempos em que as “casas” não tinham as condições mínimas de habitabilidade. Aliás, o dirigente associativo afirma que a “maioria das habitações” já está na posse dos moradores, graças a um acordo com o Município, e que, dentro em breve, todos eles terão a possibilidade de comparar as suas habitações – a preços simbólicos – e, enfim, poderem dormir descansados.
“É curioso, falei há tempos com um dos moradores mais antigos do bairro, que tem quase 90 anos, e ele me disse que ‘já poderia morrer descansado’ porque sabia que a sua casa ficaria, finalmente, na posse da sua família”, anota Fernando Jorge, que explica que a assinatura dos protocolos com a CMO prevê que as habitações transitam para os descendentes diretos dos primeiros moradores do Bairro, que ficam com possibilidade de usufruto.
Talvez por essa razão, Fernando Jorge não se canse de elogiar o trabalho “pioneiro e vanguardista” do presidente do Município, Isaltino Morais, que tem estado na linha da frente da resolução dos “problemas reais” das pessoas, com a habitação à cabeça. “O presidente, Dr. Isaltino, tem sido excelente e sem ele não tínhamos conseguido resolver o nosso problema”, atira.
Desporto e ação social
Mas nem só de lutas pela melhoria das condições gerais da habitação vive a AM 18 de Maio. O incentivo à prática desportiva e aos valores da sã camaradagem proporcionada pelo desporto são outras das bandeiras que a Associação tem erguido bem alto. Tem tradição no atletismo associativo, mas também na formação de várias equipas de futsal. “Já tivemos aqui equipas de futsal em todos os escalões, mas agora não conseguimos manter os miúdos porque somos um clube formador e não temos capacidade financeira para reter os atletas. Houve um ano que tínhamos uma equipa de benjamins, mas, passadas algumas semanas, os ‘tubarões’ da modalidade vieram cá e lavaram-nos quase todos os miúdos, ficámos apenas com dois atletas e fomos obrigados a desistir…”, lamenta, acrescentando que já ocorreu, bastas vezes, os miúdos que engrossavam as fileiras das equipas da Associação virem de realidades socais “muito preocupantes”, onde a única “refeição” era consumida dentro das portas da 18 de Maio.
A ação social é, por isso, outra das razões de ser da 18 de Maio, que não deixa ninguém para trás e consegue manter a miudagem do Bairro nos “bons caminhos”, ao invés de enveredarem pela marginalidade. “Já tivemos muitos pais de famílias normais, de classe média, que trazem os seus filhos para as nossas atividades desportivas e nos pedem para pormos os filhos ‘na linha, porque eles não conseguem fazer nada deles. Não toleramos faltas de respeito ou maus comportamentos e acho que os pais nos agradecem”, conta o dirigente´, admitindo que a 18 de Maio é também uma “escola de valores”.
De resto, não é em vão que a AM 18 de Maio é hoje conhecida por todos como sendo uma Associação que pugna pelos valores da solidariedade, igualdade e fraternidade.