Avenidas Novas homenageou “a filha pródiga” da freguesia

A Junta de Freguesia das Avenidas Novas organizou uma homenagem à vida e obra da escritora Alice Vieira, como forma de celebrar os 82 anos de vida e os 45 anos de obra literária de uma das mais respeitadas escritoras e jornalistas portuguesas, e que é também uma “filha pródiga” das Avenidas Novas.

Ao longo do dia 27 de março, a autarquia organizou vários momentos de homenagem para celebrar os 82 anos da escritora, que viveu nas Avenidas Novas várias décadas e onde ainda mantém casa.

Em declarações ao Olhares de Lisboa, o presidente da Junta de Freguesia de Avenidas Novas, Daniel Gonçalves, explicou que as iniciativas pretenderam reconhecer o contributo inestimável de Alice Vieira para a cultura e literatura portuguesa, mas também por “ser uma figura ilustre da freguesia”.

“Esta celebração é uma oportunidade para enaltecer o impacto da sua obra e reunir a comunidade em torno do seu legado. Tivemos vários momentos desta justa homenagem, como a atribuição do nome da escritora a uma sala da Universidade Sénior das Avenidas Novas, um almoço de confraternização e um colóquio/tertúlia intitulado ‘Retratos contados de Alice Vieira’”, em que se revisita a trajetória de uma mulher cuja escrita “marcou gerações”.

O autarca assume a admiração pela obra e pela escritora, mas também pelo facto de ser “a filha pródiga” das Avenidas Novas. “Alice Vieira morou muitos anos na nossa freguesia. Agora, está a viver na Ericeira, mas volta cá muitas vezes, o que nos orgulha enquanto moradores e vizinhos de tão ilustre mulher de letras”, sublinha.


As cidades “são as pessoas”

Alice Vieira está sentada a conversar com os muitos amigos e curiosos que a vieram ouvir numa unidade hoteleira de Lisboa. Quando é avisada de que o jornalista do OL a quer entrevistar, interrompe a conversa, e solta um sonoro: “Oh camarada, sente-se aqui comigo”.

A escritora revela que “ainda gosta muito das Avenidas Novas”, que mantém a identidade e não está descaraterizada, “como tantas zonas de Lisboa”.  Não obstante, assume que a Lisboa que ela ama “já desapareceu”, porque as cidades “são as pessoas” e já não reconhece (ou conhece) muita gente nos lugares que frequentava (no centro da capital e no Bairro Alto). “Sempre que volto a Lisboa, sinto-me estranha… Já conheço poucas pessoas, e os sítios estão diferentes, descaraterizados, mas, felizmente, o meu bairro tem resistido à pressão do turismo (e outros) e mantém a alma. Como já não tenho cá ninguém, porque os meus filhos já não vivem cá, sinto-me um pouco ‘perdida’. Ainda para mais, uma das minhas grandes amigas também se mudou para a Ericeira, pelo que, há cinco anos, que sinto que a minha casa é na Ericeira”.

Decana do jornalismo português

Alice Vieira agradece, no entanto, a “bonita homenagem” levada a cabo pela autarquia, mas assume que “não se sente alguém importante”, e que é “apenas” uma jornalista “e só depois escritora”, que está atenta ao mundo que a rodeia. De resto, sublinha que sempre se “sentiu jornalista”, muito mais que “escritora”.

“Já escrevi dezenas de livros (mais de 80), mas quando me tratam por escritora, não acho piada. Sou, fui e sempre serei jornalista. Uma jornalista que escreve livros, apenas isso. Quando comecei a trabalhar no ‘Diário de Notícias’ puseram-me na seção de cultura. Eu queria lá estar a escrever sobre escritores… pedi para me mudarem para a secção de sociedade, porque eu gostava era de andar a descobrir histórias sobre pessoas, que era o assunto que me interessava. Andava sempre à cata de histórias, em todo o lado. Escrevia reportagens e entrevistas por autorrecriação. Entregava aos editores já depois de estarem escritas. Nunca nenhum deles rejeitou publicar aquilo que eu escrevia. Outros tempos…”

A jornalista escritora diz que nunca parou de trabalhar e que mantém colaborações com jornais e revistas, mas lamenta a “deriva” em que a maior parte dos jornais se encontra atualmente. Para a decana do jornalismo português Alice Vieira, os meios de Imprensa perderam o “carisma” de outros tempos.

Alice Vieira não se considera “importante”, mas foram várias as figuras da política nacional que marcaram presença na sua homenagem, como o candidato à Presidência da República Luís Marques Mendes, a deputada e ex-presidente da Câmara de Sintra Edite Estrela e a ex-ministra socialista e agora candidata à Câmara de Sintra Ana Mendes Godinho. Todos eles fizeram questão de dar um caloroso abraço à jornalista e escritora por ser uma referência maior da cultura portuguesa.

 

 

 

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