JF das Avenidas Novas distinguiu oito mulheres no Dia da Mulher

O auditório da Ordem dos Contabilistas Certificados recebeu, na tarde deste sábado, 8 de março, uma iniciativa promovida pela Junta de Freguesia das Avenidas Novas (JFAN), a propósito do Dia Internacional da Mulher, e que homenageou oito mulheres ilustres, com feitos notáveis em diversas áreas.

No Dia Internacional da Mulher, que se assinalou neste sábado, 8 de março, a Junta de Freguesia das Avenidas Novas (JFAN) distinguiu oito mulheres ligadas à freguesia e que se destacam em diversas áreas. Daniel Gonçalves, presidente da JFAN, começou o seu discurso a recordar as lutas das mulheres ao longo dos últimos anos, lembrando que, “a 8 de março de 1857, com bravura e vincada coragem, várias mulheres operárias de Nova Iorque entraram em greve e ocuparam a fábrica, como forma de reivindicar a justa redução do horário laboral de 16 para 10 horas de trabalho, e a melhoria do correspondente salário, que era apenas um terço daquilo que era pago pelo mesmo trabalho com igual grau de exigência a um homem”.

Este dia, sublinhou, “representou um dia de glória, com a primeira greve levada a cabo exclusivamente por mulheres, na defesa dos seus direitos laborais e da sua dignidade pessoal, mas também representou igualmente um dia de vergonha, resultante da lamentável barbárie levada a cabo contra essas corajosas mulheres, por parte da polícia norte-americana. Nesse dia, foram trancadas 129 dessas mulheres, foi ateado fogo à fábrica onde se encontravam, tendo todas elas morrido carbonizadas. Foi com base neste trágico incidente que se decidiu instituir o dia 8 de março como o Dia Internacional da Mulher, como homenagem de todas as mulheres e de todas as que perderam a vida na defesa dos seus direitos”.

Honrar as conquistas das mulheres

“Longe vão os tempos em que à mulher era negado um papel livre na sociedade e que, constantemente, viam vedados os seus direitos. No nosso país, caminhamos numa estrada íngreme e estreita, mas temos conseguido muitas conquistas. Temos de honrar e homenagear todas as mulheres que, ao longo de muitas décadas, lutaram pelos seus direitos e por uma sociedade mais justa e igualitária no exercício da cidadania e do direito à educação. Há algumas décadas, em Portugal, algumas mulheres, essencialmente por questões profissionais, estavam impedidas de exercer profissões tão nobres como enfermeiras, hospedeiras ou telefonistas: tudo prosseguia sob autorização paterna ou de terceiros.

Até então, as professoras primárias careciam de autorização do Ministério da Educação para contrair matrimónio e apenas o poderiam fazer com um pretendente com respeitoso comportamento moral e civil”, prosseguiu Daniel Gonçalves, lembrando a “coragem e a tenacidade de mulheres como Adelaide Cabete e Carolina Beatriz Ângelo, cujo voto pioneiro abriu portas para a participação política das mulheres em Portugal. Estes apontamentos de história na sociedade portuguesa, em confronto com o que hoje temos, mostram-nos a felicidade e o conforto de um caminho evolutivo de conquista. Mas ainda falta tanto. Continuamos a verificar que, em Portugal, em pleno século XXI, existem desigualdades salariais absolutamente inaceitáveis.

Vítimas de violência doméstica aumentaram nos últimos três anos

“A lei na defesa dos direitos das mulheres existe, mas, lamentavelmente, falta ainda a sua total transversal aplicabilidade em todos os setores do nosso país. Mas estes apontamentos de história lembram-nos que há trabalho a ser feito e deve servir igualmente para incentivar, galvanizar e assinalar a luta pelos direitos das mulheres que, em muitas partes do globo, continuam a constituir forma de atraso civilizacional”. O presidente da JFAN lembrou ainda as vítimas de violência doméstica em Portugal, reforçando que, “nos últimos três anos, os números subiram quase 23%. A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) contabilizou 64.899 crimes de violência doméstica desde 2021. São, em média, quase 1.800 vítimas por mês. São 60 pessoas, na sua maioria mulheres, agredidas por dia”.


“Temos de lutar para salvar estas vítimas”, apelou Daniel Gonçalves, lembrando também todas aquelas que, “diariamente, sofrem a força da violência física e psicológica”, mas também “a todas as meninas que, só por nascerem meninas, têm como destino um caminho de vida desigual e muitas vezes pautada por uma violência insana e inqualificável. Neste dia, lembremo-nos que existe, em algum canto do mundo, uma mulher ou uma menina que precisa que falemos por elas, porque, infelizmente, o dia delas ainda não chegou. Ao continuarmos em frente, neste caminho de defesa dos direitos e do papel da mulher, estamos a contribuir para que, em qualquer canto do mundo, em qualquer rua, em qualquer casa, alguma mulher sinta que não está sozinha e sinta que vale a pena continuar a lutar pela sua dignidade e pela sua liberdade”.

JFAN tem 54% de mulheres nos quadros

O autarca das Avenidas Novas aproveitou ainda a sua intervenção para lembrar as mulheres de países como o Afeganistão, que não têm acesso a “direitos essenciais, como a educação, manifestação, livre escolha, sendo obrigadas a silenciarem-se perante tais circunstâncias, sob a capa de um dever religioso que nenhuma religião deveria apoiar.” Sobre as oito homenageadas desta sessão solene, Daniel Gonçalves vincou a “sua determinação, vontade e coragem de fazer mais e melhor. Cada uma delas, nas suas áreas de intervenção, consolidam e contribuíram para melhores alicerces sociais no nosso país. Cada uma das homenageadas, nos seus diferentes papéis, transformou, singular ou coletivamente, o nosso dia-a-dia. Obrigado por se juntarem a nós num dia tão importante.”

Atualmente, concluiu o autarca, que espera “estar novamente aqui no próximo ano”, existem “54% de mulheres nos quadros da Junta das Avenidas Novas.” A primeira homenageada desta cerimónia foi a atriz e encenadora Maria do Céu Guerra, também fundadora do teatro A Barraca, em Santos. Maria do Céu Guerra, que vai estar em cena no Teatro Variedades com a peça ‘Amor é Um Fogo que Arde sem se Ver’, confidenciou, no seu discurso, que só soube que ia ser distinguida no “momento em que entrou” na Ordem dos Contabilistas Certificados, espaço que acolhe esta cerimónia.

A atriz aproveitou para agradecer à JFAN pela distinção e terminou o seu discurso a ler um poema de Maria Teresa Horta. Já a segunda homenageada foi Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica, e nomeada pelo Papa Francisco, em 2022, como consultora do Dicastério para a Educação e Cultura da Santa Sé. Esteve também por detrás da criação da Faculdade de Medicina da Universidade Católica, em 2022, e tem mais de 150 artigos científicos publicados.

Médica Ana Fatela e jornalista Aura Miguel foram outras das homenageadas.

“O Dia da Mulher não está ultrapassado”, referiu Isabel Capeloa Gil no seu discurso, lembrando que, em algumas partes do mundo, os direitos das mulheres ainda não são respeitados, e que, por isso, é importante continuar a lutar pelos direitos e igualdade de géneros. A terceira homenageada foi Ana Fatela, diretora da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), e que foi também uma das fundadoras das consultas de Menopausa e diretora do internato naquela unidade hospitalar. Ana Fatela, médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, recebeu o prémio “em nome de todas as mulheres da Maternidade Alfredo da Costa, e espero que continuemos o trabalho de excelência que prestamos.” Outra das homenageadas, que não conseguiu estar presente por motivos profissionais, foi a jornalista da Rádio Renascença, Aura Miguel, especialista em acompanhar temas ligados ao Vaticano e à Santa Sé.

Através de uma mensagem em vídeo, enviada a partir de Roma, onde a jornalista se encontra a acompanhar o estado de saúde do Papa Francisco, Aura Miguel referiu estar “muito honrada por este convite da JFAN”, aproveitando para saudar todas as restantes homenageadas desta cerimónia, exemplos “do génio feminino”, uma expressão utilizada pelo líder da Igreja Católica. A quinta homenageada foi a Intendente Paula Cunha, comandante da 5ª Divisão Policial do Comando Metropolitano de Lisboa, que teve direito a um vídeo com mensagens dos seus colegas da divisão, que destacaram a sua “visão estratégica, lado humano e profissionalismo.”

JFAN homenageou ainda quem se destacou na Cultura e na Educação 

Paula Cunha resumiu a sua intervenção a duas palavras: “gratidão, pela homenagem da JFAN e da 5ª Divisão Policial” e “equilíbrio que temos de ter enquanto mulheres”. Emília de Noronha, coordenadora da Universidade das Avenidas Novas para a Terceira Idade (UNANTI), foi a sexta homenageada desta iniciativa. A também professora do ensino secundário, é licenciada em Filologia Romana, viveu mais de 15 anos na freguesia das Avenidas Novas e distinguiu-se como fundadora de várias universidades sénior, o que lhe valeu a honra de ser eleita como Comendadora da Ordem de Mérito pelo antigo Presidente da República Jorge Sampaio. Emília de Noronha começou a sua intervenção a agradecer ao presidente Daniel Gonçalves “por tudo o que tem feito pela Cultura e pela Ação Social” na freguesia, lembrando ainda o papel ativo da UNANTI na terceira idade.

“Há 40 anos que luto pelo combate aos estereótipos ligados aos séniores. A tónica da nossa equipa é a de que a terceira idade é uma fase importante. As universidades séniores são sítios onde podemos continuar a crescer e a ser membros ativos. Queremos criar uma sociedade justa e fraterna para todas as idades”, concluiu. A diretora municipal da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Laurentina Pereira, foi outra das homenageadas nesta cerimónia. No seu discurso, referiu que “sou uma funcionária pública, sirvo para servir os outros”. Laurentina Pereira foi nomeada diretora municipal da Cultura pelo vereador com o mesmo pelouro, Diogo Moura, após um longo percurso como Chefe de Divisão de Ação Cultural da CML.

Cerimónia terminou com um momento cultural

“A CML é a minha casa”, acrescentou Laurentina Pereira, que aproveitou para dedicar esta homenagem “a todas as mulheres que não têm oportunidades. A minha forma de estar na vida é de alma e coração”, concluiu. A última homenageada foi Paula Mouzelo, técnica do departamento de Educação da Câmara Municipal de Odivelas e que vive com uma deficiência visual. Paula perdeu a visão em 2007, na altura em que era estudante do Liceu Maria Amália, mas não desistiu perante a sua condição e decidiu prosseguir os estudos, tendo concluído o ensino superior com distinção na área da Nutrição.

“Este prémio é para todas as mulheres que se cruzaram no meu caminho”, apontou Paula Mouzelo, ressalvando que, ao contrário de muitas pessoas com deficiência visual, “tive muita gente a acreditar em mim”. No final desta cerimónia, houve ainda um momento cultural, que ficou a cargo das ‘Três Sopranas’ (Constança Melo, Helena de Castro e Mariana Chaves), e um Porto de Honra.

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