Corte de jacarandás na Avenida 5 de Outubro motiva protesto dos lisboetas. A Câmara de Lisboa diz que a polémica não se justifica e assume que “quer salvar jacarandás” com a construção de uma “grande área de espaços verdes” onde antes estava instalada a Feira Popular.
Lembre-se que a onda de contestação pública nasceu quando se soube que a autarquia iria avançar com a construção de parque de estacionamento subterrâneo nos antigos terrenos da Feira Popular, prevendo o abate e transplantação de 47 árvores naquela área da capital. Em conferência de imprensa para explicar a intervenção, esta terça-feira, Joana Almeida, vereadora do Urbanismo, clarificou que a autarquia vai plantar mais árvores naquela zona da cidade e referiu que o megaprojeto que vai nascer nos terrenos da antiga Feira Popular vai significar uma nova “vida” para um espaço que estava “parado” há “30 anos” e que dará lugar a um bairro “com gente”.
“Não queremos descontinuidade territorial ou vazios urbanos, não queremos perda de identidade e património cultural”, proclamou, acrescentando que é objetivo que esta mudança traga “equilíbrio e diversidade de usos, queremos equipamentos, espaços verdes e comércio e serviços de proximidade”, referiu.
Segundo a vereadora, este novo megacomplexo da Avenida da República entronca na promoção de políticas públicas de habitação que assenta na criação de uma “cidade com gente, de uma cidade vivida”, em que os bairros de proximidade ganhem terreno a espaços descaracterizados e sem alma. “Este projeto vai contemplar a criação de equipamentos como creches e infantários, comércio local”, mas também novas áreas arborizadas.
“A Avenida 5 de Outubro vai ficar mais verde e com mais árvores”, explicou, referindo que “será duplicado o número de árvores naquela zona, o que contrasta com o plano original para a zona, que previa que todas teriam que ser cortadas” – o projeto anterior data de 2019 e foi aprovado pelo Executivo liderado por Fernando Medina, do Partido Socialista.
A vereadora aproveitou para clarificar que, dada a polémica, o executivo municipal quer agora “informar e comunicar” à população sobre os contornos da intervenção e anunciou que já na sexta-feira (dia 28) vai ser organizada uma sessão de esclarecimento público, no edifício Fórum Picoas, às 18 horas, que se repete na próxima quarta-feira, para esclarecer os mal-entendidos que possam ter sido suscitados.
A vereadora explicou que a construção de um parque de estacionamento subterrâneo, que incluirá zona de cargas e descargas e recolha de resíduos sólidos, vai de encontro às políticas de urbanismo “que já são feitas em muitas cidades”.
25 jacarandás abatidos
A diretora municipal dos Espaços Verdes, Catarina Freitas, explicou que no eixo em questão, situado na Avenida da República, existem 75 jacarandás, 30 serão mantidos, 20 serão transplantados (a que se juntarão dois plátanos) e os restantes 25 serão abatidos; simultaneamente, serão replantados 39 jacarandás, a que se juntarão 49 outras árvores.
Segundo a responsável, o eixo central da Avenida 5 de Outubro vai manter os atuais dois alinhamentos de jacarandás, mas “a diferença é que vai deixar de ter carros” à superfície, assinalando ainda que os passeios aumentarão para três metros e passarão a ter outras árvores, nomeadamente pereiras.
Catarina Freitas asseverou que a intervenção nas árvores vai avançar já na próxima semana, estando previsto o transplante dos primeiros cinco jacarandás.
“Estamos a salvar jacarandás”
O jacarandá é tido como uma espécie de bilhete postal de Lisboa. Na primavera, a cidade ganha uma tonalidade que encanta quer os lisboetas quer os milhares de turistas que visitam a capital. A vereadora do urbanismo assume que não gostaria de ser identificada como alguém que ceifou um dos ex-líbris naturais da cidade. “Não queremos perder a nossa identidade. O jacarandá é a nossa identidade, o nosso património. Neste executivo, salvamos jacarandás. Estamos a salvar jacarandás”, garantiu a vereadora do Urbanismo.
Joana Almeida lembrou, por outro lado, que o projeto do anterior executivo prevê a construção de “400 habitações de renda acessível, que já estavam a ser construídas”, mas revela que está prevista a edificação de “700 habitações” no mesmo empreendimento.
A atual proposta urbanística, segundo a vereadora, foi objeto de “mais de 120 reuniões” e foi aprovada pela CML com o voto a favor do PS, principal partido da oposição, que “tem estado ao nosso lado” neste projeto.
De acordo com a responsável, o executivo conseguiu alterar o projeto no sentido de reduzir o número de jacarandás a serem transplantados e abatidos, ao mesmo tempo que foi acordado com o promotor do projeto, Fidelidade Property, um reforço de duas centenas destas árvores na cidade.
Catarina Freitas bateu na tecla das “críticas infundadas” e reiterou que “não autorizamos abates de árvores de forma gratuita, é uma decisão sempre muito ponderada, muito refletida e é aquela que não nos oferece, de facto, alternativa”, garantiu, explicando que os 25 jacarandás a abater estão em mau estado ou até em apodrecimento, “muito afetados por manobras de estacionamento”.
A replantação de 39 novos jacarandás estará concluída a par da construção do parque de estacionamento no subsolo previsto no projeto, concluído previsivelmente no segundo semestre de 2027, segundo Miguel Santana, administrador da Fidelidade Property, gestora do projeto urbanístico.
Bloco de Esquerda questiona medida
Em comunicado, a vereadora do Bloco de Esquerda, Beatriz Gomes Dias, diz que enviou hoje um requerimento formal a Carlos Moedas sobre o abate dos jacarandás na Av. 5 de Outubro. “O Bloco de Esquerda considera que o plano de Carlos Moedas é inaceitável e que é necessário garantir a preservação das árvores que se tornaram um ex-líbris de Lisboa”.
O requerimento sublinha que esta decisão “tem gerado significativa preocupação entre os cidadãos”, resultando na criação de uma petição pública que, até ao momento, reuniu mais de 34 mil assinaturas.
“A CML afirmou que, após a conclusão da obra, o número de árvores na área será duplicado, contrastando com o plano original que previa o corte de todas as árvores existentes. No entanto, persistem dúvidas e preocupações relativamente aos seguintes pontos”, nomeadamente quais foram os “critérios para o abate e transplante das árvores”, questionou, especificando: “quais foram os critérios específicos utilizados para determinar quais árvores seriam abatidas e quais seriam transplantadas? Foi realizada uma avaliação independente do estado fitossanitário das árvores em questão? Que estudos de impacto ambiental foram conduzidos para avaliar as consequências do abate e transplante das árvores na biodiversidade local e na qualidade do ar?”
Quanto à transparência e participação pública, a vereadora bloquista interroga: “Considerando a significativa mobilização cidadã contra o abate dos jacarandás, que medidas foram ou serão tomadas para assegurar a participação efetiva dos munícipes nas decisões relacionadas com o projeto?”
Beatriz Gomes Dias questiona ainda Carlos Moedas sobre as alternativas ao projeto atual: “Foram consideradas alternativas que permitissem a construção do parque de estacionamento sem necessidade de abater ou transplantar as árvores existentes? Se sim, por que razão foram descartadas?
A vereadora do Bloco aproveita para interrogar sobre as compensações ambientais previstas no projeto. “Além da promessa de duplicação do número de árvores, que outras medidas compensatórias estão previstas para mitigar o impacto ambiental resultante do abate dos jacarandás?”
O requerimento termina com o questionamento sobre “quais as espécies de árvores que serão plantadas para substituir as abatidas? Será mantida a coerência paisagística da avenida, considerando a importância histórica e estética dos jacarandás?”
Nr: O OL errou.
Por lapso, o título da peça publicada ontem sobre o abate de jacarandás em Lisboa no site do nosso jornal referia: “O abate de 47 jacarandás no centro de Lisboa gera controvérsia”, quando o que se pretendia dizer era: “O abate de 47 árvores no centro de Lisboa gera controvérsia”.
Na verdade, serão abatidos 25 jacarandás e não 47, como poderá ler no corpo da notícia.
Pelo erro, pedimos desculpa aos nossos leitores e aos visados.
Notícia com título atualizado às 18h33.