Morreu Carlos Matos Gomes “um dos mais ilustres Capitães de Abril”

    O escritor e militar Carlos Matos Gomes, coronel que fez parte do movimento dos Capitães de Abril que liderou a revolução do 25 de Abril de 1974, faleceu aos 78 anos. A informação foi partilhada pela família de Matos Gomes no perfil do militar no Facebook.

    A filha do militar especificou as circunstâncias em que a morte ocorreu: “A todos os amigos e seguidores do meu pai, Carlos Matos Gomes, é com profunda tristeza que informo que faleceu hoje, 13 de abril, no Hospital Cuf Tejo. Partiu sereno e com músicas de Abril. Direi por aqui todos os pormenores sobre as cerimónias que se seguem. Grata a todos pelo carinho e admiração que tinham por ele.”

    Carlos de Matos Gomes nasceu em 24 de julho de 1946, em Vila Nova da Barquinha. Foi oficial do Exército, das forças especiais “comandos”, tendo cumprido comissões em Angola, Moçambique e na Guiné-Bissau, onde esteve às ordens do General Spínola.

    Liberdade de pensamento

    Considerado pelos amigos e admiradores como um homem de causas e um indomável defensor da liberdade, era uma voz respeitada e independente, que não se coibia de pensar o lugar de Portugal no mundo, manifestando, por exemplo, o seu veemente apoio ao papel de Otelo Saraiva de Carvalho na arquitetura da Revolução dos Cravos ou a defesa do período do PREC como a altura em que Portugal “teve mais liberdade”. Através dos escritos do seu blogue ou no Facebook, o militar manifestou sempre uma posição humanista, mas assumidamente de esquerda, contra o “imperialismo americano” e a “subserviência da União Europeia” aos interesses norte-americanos.

    Foi como livre-pensador que agregou uma multidão de seguidores. Apesar de ter sido considerado como um “bravo combatente” pelos seus camaradas de armas – tinha duas distinções Cruz de Ferro – opunha-se à guerra como solução para resolver os conflitos. E era um dos poucos que se assumia frontalmente contra o apoio militar (e financeiro) do Ocidente ao governo de Zelensky, na Ucrânia.

    Obra vasta sobre a Guerra Colonial

    Matos Gomes, sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz, publicou vários livros sobre a temática da Guerra Colonial, entre eles, “Nó Cego”, “Os Lobos não Usam Coleira” (1995), que foi adaptado ao cinema por António-Pedro Vasconcelos, “Os Imortais” (2003).
    No ano passado, em nome próprio, Matos Gomes publicou “Geração D” que, em entrevista à Agência Lusa, definiu como uma homenagem e uma autobiografia da sua geração, a que conheceu a ditadura, a Guerra Colonial e fez o 25 de Abril de 1974.


    Em 2020, com o seu camarada de armas Aniceto Gomes, publicou o ensaio “Guerra Colonial”.

    Partiu “um dos mais escritores portugueses”

    A Associação 25 de Abril lamentou a perda “de um dos mais importantes membros do Movimento dos Capitães da Guiné, berço do nascimento do 25 de Abril” e acrescenta: “O Carlos Matos Gomes transformar-se-ia num dos mais ilustres Capitães de Abril, seja pela sua permanente ação na defesa dos valores que nos levaram à epopeia coletiva do dia 25 de Abril, seja pela sua notável obra literária, que fez de Carlos Vale Ferraz um dos maiores escritores portugueses”.

    O velório estará aberto ao público na Capela da Academia Militar na terça-feira, a partir das 19h até às 23h, e a cerimónia fúnebre será na quarta-feira pelas 11h, de onde partirá para o Cemitério do Alto de São João para ser cremado.

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