Páscoa tem tradições ancestrais em Oeiras

A Paróquia de Oeiras recordou, durante as cerimónias litúrgicas da Semana Santa, na Igreja-Matriz de Nossa Senhora da Purificação, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando foi recebido pelos seus discípulos e pelo povo com palmas e ramos de oliveira.

Em Oeiras, no passado Domingo de Ramos, o Senhor foi recebido e aclamado ao som de “Hosana ao Filho de David. Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel. Hosana nas alturas!”, marcando assim o início das comemorações litúrgicas da Semana Santa em Oeiras.

Para a Paróquia de Oeiras, “dirigida” espiritualmente pelo padre Sérgio Bruno Mendes, a celebração da Semana Santa “não é um tempo de calendário, mas um dom que nos é oferecido, um convite de Amigo a sentar-nos à sua mesa, a escutar a sua palavra como discípulos, a arrepender-nos das nossas traições e a participar na sua Páscoa”.

“Ajuda-nos a sentar-nos à mesa da Eucaristia, não como traidores a pensar nas ambições e outras seguranças, mas disponíveis para Te seguir fiéis, como o discípulo amado e tua Mãe dolorosa que quer estar onde está o seu Filho”, salientam os fiéis oeirenses.

O mesmo afirma o Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, que disse, esta quinta-feira, na homilia da Missa Vespertina da Ceia do Senhor, que a Eucaristia é o “sacramento da esperança”.

“A Eucaristia é o sacramento da esperança porque nela, Cristo antecipa a Sua vitória, transforma o pão e o vinho em penhor de eternidade”, referiu, na Sé de Lisboa D. Rui Valério.


Tradição antiga

Oeiras tem tradições ancestrais na celebração da Semana Santa. O padre da Paróquia de Oeiras alerta para a necessidade de os crentes se lembrarem do simbolismo da celebração e deitarem por terra o materialismo.

A Páscoa é uma das celebrações religiosas com mais devotos entre a população portuguesa e uma das mais importantes do calendário cristão. As origens da Páscoa remontam há milhares de anos, enquanto ritual celebrado por povos ancestrais que a consideravam como uma época que anunciava o fim do inverno e a chegada da primavera, com a transição de um tempo de escuridão para outro de luz e esperança.

A designação “Páscoa” teve origem na palavra “Pessach”, que significa “passagem” no hebraico. Esta é uma festa de origem judaica, que comemora a libertação do povo hebreu da escravidão dos egípcios.

Com um sentido semelhante de libertação das “trevas” e esperança, a Páscoa cristã surgiu posteriormente com o intuito de celebrar a ressurreição de Jesus Cristo e a sua passagem da morte para a vida, simbolizando a esperança de um novo caminho, da ressurreição para o “bem”.

Celebrações religiosas em Oeiras

O Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, entende que a Igreja só se compreende “como missão, como evangelizadora da paz até aos confins da terra e a Eucaristia funda e alimenta esta missão”.

Por isso, e dentro do espírito “globalizador” da igreja, Olhar Oeiras foi “ver” como se celebra a semana Pascal no Brasil, nomeadamente no município de Oeiras do Piauí, com que Oeiras assinou um protocolo de geminação.

Assim como em Portugal, o município brasileiro Oeiras do Piauí, no Brasil, leva a celebração da época muito a sério e mantém tradições ancestrais que perduram até aos dias de hoje. Para além das missas e procissões que ocorrem um pouco por todas as paróquias do município na Semana Santa, a data começa a ser preparada duas semanas antes da Páscoa, com a realização da Sexta-Feira dos Passos, uma procissão que junta uma multidão de crentes, num momento de partilha e fé.

É nesse momento que, em Oeiras do Brasil, começa a preparação para a Semana Santa, reunindo os fiéis em um verdadeiro clima de devoção. O ponto alto é a Procissão do Encontro, quando as imagens de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora das Dores se encontram no centro histórico da cidade. Um momento de fé, silêncio e tradição que atravessa gerações. A Sexta-Feira dos Passos é já parte viva da história e da espiritualidade do povo de Oeiras.

Sermão pela busca da espiritualidade

Em Portugal, da mesma forma que no Brasil, a Páscoa é um momento de reunião em família e de grande azáfama gastronómica. Cada região possui a sua tradição gastronómica. Pratos que incluem cabrito ou borrego integram a tradição da maioria das mesas portuguesas, que também se recheiam de folares de vários tipos, amêndoas, queijadas, ovos, entre muitos outros.

Para a Igreja, porém, a Páscoa tem um significado muito mais profundo, que vai muito mais além das meras “festividades”.

“O que aconteceu com a Páscoa é o mesmo que tem acontecido com tantas datas comemorativas: foram invadidas por ‘novidades’ e ‘valores’ que, ao invés de lhes dar mais sentido e compreensão, degradaram e corromperam a sua originalidade. Jogou-se fora as raízes, para ficar com as folhas”, anota o Padre Edivaldo Pereira dos Santos, pároco da Diocese de Oeiras do Brasil, num texto publicado na página da instituição.

Segundo a reflexão do pároco sobre os caminhos do Homem da era atual, há “mudanças comprometedoras”, nomeadamente o materialismo, ocorridas na sociedade atual que “corrompem” a busca pela essência da alma.

“As mudanças geradas pela tecnologia crescente, pelo comércio, pela industrialização, pela moda, pelos meios de comunicação social, foram determinando novos comportamentos, novas práticas, novos relacionamentos e novos valores que impuseram nova conceção sobre a história e os acontecimentos nela existentes. Com todas as conquistas da modernidade, as pessoas ganharam mais coisas, mas não ganharam mais ser; não ganharam mais interioridade. Pelo contrário, fomos habitados pelas coisas e pela matéria e, cada vez mais, estamos sendo esvaziados. O prejuízo é nosso”.

Compromisso com o amor

O Padre Edivaldo Pereira dos Santos, da mesma forma que os párocos portugueses, sustenta que a Páscoa “é símbolo e realização da passagem de uma vida enraizada ao egoísmo para uma vida comprometida com o amor e a fraternidade”.

E acrescenta: “A Sagrada Escritura descreve a peregrinação do povo de Deus que sai do estado de escravidão no Egito e caminha em direção à terra prometida. Lá, na terra onde corre leite e mel, se constituiria a nova sociedade, onde Deus é o único senhor, o único legislador e o único juiz”.

Segundo o pároco, a Páscoa é a metáfora perfeita para a “ressurreição”, uma vez que os sacrifícios, a penitência e o jejum que se fazem na quaresma têm sentido “na medida em que nos ajudam a concretizar o reino de Deus cujo ápice é a Páscoa. Isto significa que a ressurreição de Cristo é o centro de nossa fé. É Jesus Cristo que vence o mal e vence a morte. O mal, para Cristo, caracteriza-se pela maneira egoísta, orgulhosa e autossuficiente de viver, na desconsideração dos outros, no desinteresse pelo próximo, sem amor. É da própria natureza humana o viver em comunhão. É assim que Jesus Cristo nos ensina no evangelho. E a morte é (antes do descanso definitivo no campo santo) a permanência no mal”, reitera.

A Páscoa é também “uma resposta”, é uma “urgência” porque “é uma necessidade de cada um de nós”, sublinha, acrescentando: “Precisamos fazer sérias passagens de situações inumanas, de morte, de queda, de abismos, de absurdos para o Cristo, o verdadeiro sentido e referência para a pessoa que não quer viver sob o domínio do medo”.

NR: Artigo atualizado a 18 de abril pelas 12h50.

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