Bairros de Lisboa já começaram a marchar com muita cor e alegria

A Altice Arena já começou a acolher as 23 marchas que vão participar no concurso Marchas Populares de Lisboa 2025. Com muita cor e alegria, foram oito as marchas que se apresentaram ao público, sob o mote ‘A Alma de Lisboa’, tema escolhido para o certame deste ano. Na noite deste sábado, as exibições repetem-se, com mais oito marchas a concurso: Mercados, Bica, Penha de França, Carnide, Alfama, Bairro Alto, Alto do Pina e São Domingos de Benfica.

Com o mote ‘Alma de Lisboa’, tema do concurso das Marchas Populares e da Grande Marcha de Lisboa 2025, as Marchas da Voz do Operário, Lumiar, São Vicente, Mouraria, Graça, Bairro da Boavista, Bela Flor-Campolide e Marvila, apresentaram-se na noite desta sexta-feira, 30 de maio, no primeiro dia de exibições na Altice Arena. A data também ficou marcada pela entrada das Marchas Populares de Lisboa no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, um processo que se iniciou em abril de 2024 com o apoio das 28 coletividades que, todos os anos, prepararam e participam no concurso.

Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, marcou presença nesta exibição, começando por agradecer a todos os lisboetas por “serem a alma da nossa cidade”, mas também “pela vossa força e resiliência. Quero agradecer-vos pela forma como me recebem nos bairros”, referiu o autarca, que fez questão de estar presente nos ensaios de todos os bairros a concurso. “Os bairros de Lisboa são os melhores do mundo, graças a vocês”, acrescentou Moedas, para quem a entrada das Marchas Populares no Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial irá projetar a cidade no mundo.

Neste primeiro dia de exibições, a EGEAC/Lisboa Cultura apresentou outra novidade: uma caderneta de cromos sobre o universo das Marchas Populares de Lisboa e que têm como ‘Cromo número um’ Fernanda Maria Rodrigues, colaboradora da EGEAC que, há 30 anos, tem sido uma figura essencial na organização do concurso. Fernanda Maria foi homenageada na Altice Arena por Pedro Moreira, presidente da EGEAC/Lisboa Cultura, que lhe entregou um ramo de flores como agradecimento pelo seu trabalho ao serviço da Cultura da cidade.

Voz do Operário apelou à Paz

A primeira marcha a desfilar foi a marcha extra-concurso infantil A Voz do Operário, que desfilou sobre o tema ‘A Paz’, que traz ao concurso uma manifestação simbólica, que pede que Portugal e Lisboa continuem a ser espaços democráticos, de liberdade e respeito pelo outro, num momento em que valores fundamentais como a liberdade, a segurança e o direito a uma vida digna estão a ser postos em causa pela intolerância, a violência e a guerra, colocando em risco a vida de milhões de pessoas. A responsável e ensaiadora da marcha, organizada pela Sociedade de Instrução e Beneficiência A Voz do Operário, é Sofia Cruz e o figurinista é Nuno Lopes. Os padrinhos são os atores Custódia Gallego e José Raposo e os mascotes Álvaro Cruz e Madalena Miranda.

As marchas inéditas apresentadas foram ‘Aos poucos tantos’, de Ricardo Dias Gonçalves (letra), Carlos Alberto Vidal (música) e Francisco Santos (arranjo); ‘Ser outra vez criança’, de Tiago Torres da Silva (letra), Carlos Alberto Moniz (música) e Carlos Alberto Moniz (arranjo musical), ‘Queremos um sol’, de José Jorge Letria (letra), de Carlos Alberto Moniz (música) e Braga Santos e Carlos Alberto Moniz (arranjo musical). A segunda marcha a entrar foi a Marcha do Lumiar, organizada pela Academia Musical 1 de Junho 1893, com o tema ‘No Lumiar a cantar, há taberna e vinho a rodar’, inspirada nas tabernas dos primórdios do século XX. Com este tema, o Lumiar celebra as raízes e o simbolismo desses lugares de encontro, música e boa conversa, com o néctar dos deuses a ser lembrado nos figurinos dos marchantes, evocando a partilha, união e espírito que fazem parte da memória coletiva.

São Vicente evocou as memórias do Terramoto de 1755

A coreografia e os arcos são um mergulho visual no ambiente das tabernas, onde não faltam barris, mesas de madeira, velas e copos de vinho, tudo em tons envelhecidos. Os responsáveis são António e Camila Botão, os ensaiadores Bruno Barros e Hugo Miguel Barros. Os padrinhos do Lumiar são Yola Dinis e Flávio Furtado. As marchas apresentadas foram ‘Taberna em festa’, de João Pedro Aleixo (Letra) e Nuno Feist (Música e Arranjo Musical). A segunda marcha apresentada foi ‘Saia que gira, vinho que inspira’ de João Pedro Aleixo (Letra) e Nuno Feist (Música e Arranjo musical); e ‘Vai com tudo, Lumiar’, de João Pedro Aleixo (Letra), António Duarte Martins (Música), e Francisco Bahuto (Arranjo musical). São Vicente apresentou-se com o tema ‘Primeiro estremece, depois floresce’, que remete ao terramoto de 1 de novembro de 1755.

Da destruição causada pelo fogo (representado pelos homens) e pela água (representada pelas mulheres) à reconstrução dos lugares, é homenageada a força e perseverança de quem fez nascer uma nova alma de Lisboa. O responsável da marcha, organizada pela Academia Recreativa Leais Amigos, é Bruno Santos e a ensaiadora Sofia Pereira. Nuno Gama e os ProEasy Design ficaram responsável pelo figurino e pela cenografia, respetivamente. Os padrinhos são a atriz Ana Brito e Cunha e Vasco Pereira Coutinho e os mascotes Bruno Couto e Carolina Costa. Já as marchas inéditas apresentadas foram ‘Um mundo novo’, com letra e música de Gimba (Eugénio Lopes) e arranjo musical de Luís Moreira da Silva; ‘Se o Santo não nos ajuda’, de Flávio Gil (letra e música) e Luís Moreira da Silva (arranjo musical). A terceira marcha apresentada foi ‘São Vicente num romance’, com letra de Mário Rainho, música e arranjo de João Vasconcelos.

Mouraria e Graça recordaram as tradições

Na Mouraria, rezou-se a ‘Oração da Mouraria’, que traz ao concurso a crença e devoção, inspirada na Procissão de Nossa Senhora da Saúde. É na Mouraria onde as ruas são corredores abençoados, as janelas portas para o sagrado, um bairro protegido pelas ‘colchas ricas’ penduradas nos estendais e cantadas por Amália. A responsável é Carla Correia e os ensaiadores Gerald Oliveira e Ricardo Morujo. Vasco Grou Catarino ficou encarregue dos figurinos e da cenografia. Os padrinhos da Mouraria são Joana Alvarenga e Duarte Siopa e os mascotes Laura Anacleto e Leonardo Jerónimo. As Marchas Inéditas apresentadas foram ‘Marcha da Oração da Mouraria’, de Francisco Guimarães (letra), Miguel Amorim (música) e Luís Moreira da Silva (arranjo musical); ‘Hoje a Mouraria canta’, com letra de Tiago Torres da Silva, música de Miguel Amorim e arranjo de Luís Moreira da Silva.

A terceira marcha foi ‘Grande Marcha da Mouraria’, de Frederico Valério (letra), Raul Ferrão (música), e Luís Moreira da Silva (arranjo). A quarta marcha a apresentar-se neste primeiro dia foi a Graça, que levou o seu ‘Namoro Operário’ e a história de uma florista e de um operário, figuras típicas de um bairro que se foi modificando com os tempos, mas onde continua a ser importante a presença e o papel das vilas operárias e das associações culturais e desportivas. Lugar de convívio da comunidade, era aqui que os residentes do bairro, oriundos de várias regiões do país, partilhavam com orgulho as suas tradições, onde os bailes e as festas faziam nascer paixões como o de Rosa e Chico.

Bairro da Boavista homenageou o pão, alimento do povo

O responsável pela Marcha da Graça, organizada pelo Clube Desportivo da Graça, é Filipe Coelho, os ensaiadores Alexandra Serra e Armando Tinita. Bruno Baleiras é o figurinista e cenógrafo e os padrinhos Joana Diniz e João Ricardo. Maria Madaleno e Santiago Madaleno são os mascotes. As marchas inéditas apresentadas são ‘Aqui na Graça’, de Tiago Torres da Silva (letra), Pedro Jóia (música) e José Silva (arranjos); e ‘Antes das duas’, com letra de Tiago Torres da Silva, música de João Filipe e arranjos de José Silva. A terceira marcha é ‘É Graça!’, apresentada em 1947, com letra de Frederico de Brito, música de Raúl Ferrão e arranjos de José Silva.

Depois da Graça, entrou o Bairro da Boavista, que homenageia o pão, alimento que é a alma do povo, fruto do trabalho árduo de quem semeia, ceifa ou amassa, sustento dos pobres, riqueza dos humildes e símbolo de partilha à mesa. Para a Boavista, ‘Casa sem pão, todos ralham e ninguém tem razão’, e foi por isso que se decidiu homenagear este alimento e o laço que ele cria na comunidade. Esta marcha é organizada pela Associação Recreativa de Moradores e Amigos do Bairro da Boavista e tem como responsável Anabela Rebelo. O ensaiador é Rafael Ribeiro Rodrigues, sendo que Paulo Miranda é o figurinista, tendo também colaborado na cenografia a par com Jorge Rodrigues.

Bela Flor-Campolide e o amor que uniu todos os bairros da freguesia

Os padrinhos são Liliana Filipa e Daniel Gregório e os mascotes Joana Quaresma e Tomás Caldeira. As marchas inéditas apresentadas são ‘Pão para todos’ e ‘Casa onde não há pão’, com letra de Tiago Torres da Silva e música e arranjos de Nuno Feist; e ‘Da Terra se tira o pão’, com letra de Rafael Ribeiro Rodrigues e música e arranjo de Carlos Dionísio. Da Boavista, passamos para a Bela Flor-Campolide, que homenageia o ‘Amor que nos Uniu’. Símbolo da união de Campolide, esta marcha traz a identidade e a história desta freguesia, mas também o espírito comunitário e o sentimento de orgulho em cada um dos bairros que a compõe. Da Serafina, passando pela Cascalheira à Liberdade, são notórios os laços e as memórias que existem em Campolide.

A coletividade organizadora é a Academia de Artes Internas, e o responsável pela marcha é José Carlos Almeida. O ensaiador é Leandro Portelinha, o figurinista José Almeida e o cenógrafo Daniel Oliveira. Os padrinhos são Sónia e Ricardo Landum e os mascotes Marc Gomes e Milena Pinto. As marchas inéditas são ‘Um Amor que nos uniu’ e ‘A marchar pelo meu bairro’, de Nádia Correia (letra e música) e Gilberto Pinto (arranjo); e ‘Canta Bela Flor e Campolide’, com letra e música de Ricardo Landum e arranjo de Gilberto Pinto. Por fim, e a fechar este primeiro dia de exibições, uma das marchas mais esperadas da noite, Marvila, a segunda classificada de 2024.

Marvila, o bairro dos sonhos simples

‘Marvila, bairro dos sonhos simples’, é o tema escolhido este ano, que homenageia a vida comunitária, o espírito trabalhador e a resiliência dos moradores. Marvila traz ao concurso os momentos mais marcantes do bairro, pintado pelas antigas quintas da nobreza e burguesia, mas também pelas fábricas e armazéns, antigas barracas e prédios modernos. A Marcha de Marvila é organizada pela Sociedade Musical 3 D’Agosto 1885 e tem como responsável Marco Silva. Os ensaiadores são Cristiana Silva e Paulo Jesus e o figurinista e cenógrafo é Paulo Miranda. Os padrinhos são Luciana Abreu e Matay e os mascotes Lya Monteiro e Tomás Antunes.

As marchas inéditas apresentadas foram ‘Marvila, o bairro dos sonhos simples’, com letra e música de José Vala Roberto e arranjo de Fernando Ramos; e ‘Por ti, Marvila’, com letra de João Medeiros e Mariana Peres e música e arranjo de Fernando Ramos. A terceira marcha apresentada foi ‘Nossa marcha é esta’, de Frederico de Brito (letra), Alves Coelho Filho (música) e Fernando Ramos (arranjo). Esta noite, segundo dia de exibições, são esperadas as participações das Marchas dos Mercados, Bica, Penha de França, Carnide, Alfama, Bairro Alto, Alto do Pina e São Domingos de Benfica.

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