Ao segundo dia do mais rápido conclave, o fumo branco saiu da chaminé da Capela Sistina, no Vaticano, poucos minutos depois das 18h locais (17h em Portugal Continental), assinalando a eleição do novo chefe da Igreja Católica, o norte-americano Robert Francis Prevost. Dos EUA veio o 267º Papa eleito desde o início do Cristianismo e da afirmação da Igreja Católica como mãe de todas as igrejas cristãs.
Bastante emocionado, Leão XIV surgiu pela primeira vez na varanda da Basílica de São Pedro, passavam poucos minutos das 18 horas (hora de Lisboa). O novo Papa está apresentado. É o 267.º Sumo Pontífice da Igreja Católica.
Os sinos da Basílica de São Pedro tocaram a repique, a chamar o povo de Roma para conhecer o nome do novo Papa: o norte-americano Robert Francis Prevost, de 69 anos, que vai assumir o nome de Leão XIV.
O nome foi anunciado pelo protodiácono da Igreja Católica (o mais antigo cardeal da ordem dos diáconos, uma das três ordens de cardeais da Igreja Católica), Dominique Mamberti, um francês de 73 anos, que nasceu em Marraquexe.
Depois do fumo branco sair da chaminé da Capela Sistina, o Papa eleito, já com as vestes, surgiu na varanda central da Basílica de São Pedro, apresentando-se aos fiéis para dar a bênção “Urbi et Orbi”, reservada para o dia da sua eleição e para duas datas anuais: o Domingo de Páscoa e o Natal.
Passavam poucos minutos das 18 horas, quando Leão XIV surgiu pela primeira vez na varanda da Basílica de São Pedro, prometendo continuar o trabalho do Papa Francisco e escolheu um nome que indicia que vai dar continuidade ao trabalho social da Igreja, recordando o “Pontífice Leão Magno”, eleito no ano 452 d.C. – que incentivou as obras de caridade em uma Roma dominada pela escassez, pobreza, injustiças e superstições – e o Papa Leão XIII, eleito Papa em 20 de fevereiro de 1878, e que iniciou a Doutrina Social da Igreja, com a sua Rerum Novarum.
“Que a paz esteja com todos vós.” Estas foram as primeiras palavras do Papa Leão XIV para a Praça de S. Pedro, no Vaticano, onde discursou à multidão, repetindo aquela que, segundo os Evangelhos, é a saudação de Jesus quando aparece ressuscitado aos Apóstolos.
Deus ama-vos
Robert Prevost deixou várias referências ao seu antecessor, salientando: “Permitam-me dar seguimento a essa bênção do Papa Francisco. Deus ama-vos a todos, o mal não prevalecerá.” “Uni-vos sem medo, com Deus, vamos em frente”, continuou, terminando com um “obrigado ao Papa Francisco”.
“Sou filho de Santo Agostinho, um agostiniano. Que disse ‘convosco sou cristão e para vós, padre’. Neste sentido podemos caminhar todos rumo à pátria que Deus nos preparou”, defendeu o novo Papa que é considerado um reformista.
Falou depois em espanhol, dirigindo-se a Chiclayo, no Peru, onde foi nomeado bispo em 2015. Depois, deixou mais algumas pistas sobre a direção que quer seguir: “Queremos ser uma igreja sinodal, que procura sempre a paz (…) e atenta àqueles que sofrem”.
Antes da oração “Urbi et Orbi”, rezou um “Avé Maria”.
Reações
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já enviou uma mensagem de felicitações ao Papa Leão XIV, na sequência da sua escolha para Chefe do Estado do Vaticano e Sumo Pontífice da Igreja Católica, divulgou a Presidência da República numa nota publicada no site.
Marcelo “expressa a profunda alegria com que, em seu nome pessoal e em nome do Povo Português, saúda o Papa Leão XIV”, acrescentando que “as felicitações dirigem-se igualmente à Igreja Católica universal e, em particular, à Conferência Episcopal Portuguesa, no momento em que se abre uma nova fase na sua vida, na qual serão aprofundadas as excelentes relações entre o Estado português e a Igreja”
Por seu turno, o presidente do Conselho Europeu, António Costa, foi um dos primeiros a felicitar esta tarde a eleição de Leão XIV. “Milhões de europeus inspiram-se diariamente no compromisso duradouro da Igreja para com a paz, a dignidade humana e a compreensão mútua entre as nações”, escreveu António Costa.
O responsável europeu espera que o novo Papa utilize “a sua voz na cena mundial para promover estes valores comuns e encorajar a unidade na prossecução de um mundo mais justo e compassivo”.
O primeiro-ministro português também já felicitou o novo Papa. “Felicito Sua Santidade o Papa Leão XIV pela eleição e desejo um pontificado pleno de luz, humanismo e universalismo”, escreveu Montenegro na rede social X em que felicita os católicos portugueses e de todo o mundo.
“Que nesta hora internacional de grande instabilidade e incerteza, o Papa Leão XIV e a Santa Sé possam ser ouvidos na promoção da paz, da empatia, da compaixão e da compreensão entre todos”, acrescenta o líder do Governo e do PSD que estava em campanha eleitoral em Fátima quando se conheceu o fumo branco no Vaticano.
Apesar deste cardeal norte-americano ser anti-deportações decretadas por Donald Trump, o Presidente dos EUA já reagiu à nomeação do Papa, dando-lhe os parabéns e falando num “momento muito significativo”.
“É uma grande honra saber que ele é o primeiro Papa americano. Que emoção e grande honra para o nosso país. Estou ansioso por conhecer o Papa Leão XIV”, escreveu na sua rede social, Truth Social.
Biografia
Nascido em Chicago, nos Estados Unidos, Prevost tem 69 anos e tornou-se o primeiro papa norte-americano da história da Igreja, sendo também o primeiro pontífice vindo de um país de maioria protestante.
Apesar da origem norte-americana, Prevost trabalhou, essencialmente, na América Latina, especialmente no Peru. Foi lá que se destacou até alcançar os cargos mais altos da Cúria Romana. Ao ser eleito, ocupava duas funções importantes no Vaticano: prefeito do Dicastério para os Bispos (órgão responsável pela nomeação de bispos) e presidente da Comissão Pontifícia para a América Latina.
De perfil discreto e voz tranquila, Prevost costuma evitar os holofotes e entrevistas. No entanto, é visto como um reformista, alinhado à linha de abertura implementada por Francisco. Tem formação sólida em teologia e é considerado um profundo conhecedor da lei canônica, que rege a Igreja Católica.
Entrou para a vida religiosa aos 22 anos. Formou-se em teologia na União Teológica Católica de Chicago e, aos 27, foi enviado a Roma para estudar direito canônico na Universidade de São Tomás de Aquino. Foi ordenado padre em 1982 e, dois anos depois, iniciou sua atuação missionária no Peru — primeiro em Piura, depois em Trujillo, onde permaneceu por dez anos, inclusive durante o governo autoritário de Alberto Fujimori. Prevost chegou a pedir desculpas públicas pelas injustiças cometidas no período.
Em 2014, foi nomeado administrador da Diocese de Chiclayo, cargo em que foi ordenado bispo e permaneceu por nove anos. Nesse período, enfrentou a principal crise de sua trajetória: em 2023, três mulheres acusaram Prevost de acobertar casos de abuso sexual cometidos por dois padres no Peru, quando elas ainda eram crianças.
Segundo as denúncias, uma das vítimas telefonou para Prevost em 2020. Dois anos depois, ele recebeu formalmente os relatos e encaminhou o caso ao Vaticano. Um dos padres foi afastado preventivamente e o outro já não exercia mais funções por questões de saúde. A diocese peruana nega qualquer acobertamento e afirma que Prevost seguiu os trâmites exigidos pela legislação da Igreja. O Vaticano ainda não concluiu a investigação.
Durante sua passagem pelo Peru, Prevost também ocupou cargos de destaque na Conferência Episcopal local e foi nomeado para a Congregação do Clero e, depois, para a Congregação para os Bispos. Em 2023, recebeu o título de cardeal — função que ocupou por menos de dois anos antes de se tornar papa, algo raro na Igreja moderna.
Durante a internação de Francisco, Prevost foi o responsável por liderar uma oração pública no Vaticano pela saúde do então pontífice.
Foto de Capa: Vaticano