Adozinda Borrego Pereira é vista pela comunidade oeirense como um exemplo de “mãe coragem”. O acidente do filho Luís, um ex-bombeiro no Dafundo, marcou tragicamente a história familiar desta mulher, que não verga ante as vicissitudes. Mas assume que não descansará até saber que o filho fica bem entregue a alguma instituição de recuperação de jovens acidentados.
Há 27 anos, um trágico acidente interrompeu o ciclo normal de vida da família Borrego Pereira. O então bombeiro Luís Borrego Pereira, que estava na flor da idade e tinha “muitos sonhos por cumprir”, teve o infortúnio de ter tido um terrível acidente. Com apenas 23 anos, o jovem voluntário dos Bombeiros do Dafundo, Oeiras, teve um acidente de moto que “só por milagre de Deus” não lhe tirou a vida, narra Adozinda Borrego Pereira ao “Olhar Oeiras”, a mãe do bombeiro e que é hoje o sustento da família.
Apesar do “milagre”, Luís Pereira ficaria tetraplégico e nunca mais pôde “ser um jovem normal”, uma vez que depois de ter passado pelo “calvário” de “uma longa recuperação”, ainda assim, ficou totalmente dependente dos pais – com uma incapacidade de 96%.
Sem chão, sem economias
Depois deste trágico acontecimento, Adozinda Pereira, residente em Carnaxide (Oeiras), viu-se na obrigação de passar a lutar, dia após dia, pela sobrevivência da família. “Sinto uma dor muito grande de não poder ajudar mais o meu filho. Eu e o pai fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para ele voltar a andar. Andou a fazer tratamentos e fisioterapia em Alcoitão e numa clínica em Guimarães, mas não se conseguiu que ele voltasse a andar. Gastámos todas as economias, só eu sei aquilo que passámos”, afirma a matriarca e cabeça de família.
O elogio do “presidente do povo”
Ainda assim, Adozinda Pereira não tem desistido de lutar contra ventos e marés com uma força de vontade hercúlea para não faltar com nada ao filho e ao marido, que também está impossibilitado de trabalhar devido à luta “de anos” contra um cancro.
Para levar a vida adiante, tem mantido um ritmo de trabalho já impróprio para a sua idade e estado precário de saúde para poder assegurar o sustento dos três. Antiga cozinheira, continua a fazer diversos tipos de artesanato, confecionar compotas caseiras, licores, frutos secos, queijos de ovelha e outros produtos da terra, que vende em algumas feiras e num espaço dentro do Mercado de Queijas.
“Andava a vender os meus produtos numa mezinha no meio das ruas, porque tinha de fazer alguma coisa para ajudar a minha família”, mas a Câmara de Oeiras soube da situação de risco social da família e disponibilizou as licenças de vendedor”.
“O presidente Isaltino Morais é um grande homem. É amigo do povo. Tem-me ajudado muito, conjuntamente com o presidente da junta Inigo Pereira, que também tem sido impecável comigo e a minha família”.
“Tenho licenças que me foram dadas pela Câmara de Oeiras para conseguir ganhar algum dinheiro. Depois de andar a ‘saltar’ de um lado para o outro, o Dr. Isaltino e o presidente Inigo arranjaram-me um espaço fixo para poder vender as minhas coisas dentro do Mercado de Queijas. Devo agradecer à Casa da Betânia, que me deixa vender dentro da sua loja”, reforça.
Adozinda Pereira aproveita para declarar “amizade eterna” ao presidente da Câmara de Oeiras. “Só não faz mais por nós porque não pode. Quando oiço falar mal dele, fico revoltada (…) Nunca me esquecerei que foi ele que ofereceu uma cadeira de rodas elétrica ao meu filho”, reitera.
Força a esvair-se
Depois de anos de luta pela sobrevivência, desabafa ao nosso jornal que as forças de outrora “começam a desaparecer” depois de “tanto lutar” para que “não falte nada” ao filho e marido, ambos incapacitados.
Aos 78 anos, e com uma saúde precária, continua a ser o pilar principal que sustenta a sua família. Mas faz questão de sublinhar que “não quer ser mal interpretada” e que pede apenas que “Deus lhe dê forças” para continuar a ajudar o filho.
“O meu filho, que é bombeiro do quadro de honra, sente-se desesperado. Passou mais de metade da vida numa cadeira de rodas e já não quer mais continuar a viver… Já tentou matar-se com uma faca… Há dias, o meu marido disse que se tivesse uma pistola em casa já tinha acabado com a vida dos três”, revela, com notória tristeza.
Perante este quadro de desespero, Adozinda Pereira deixa um apelo a quem desejar encomendar alguns dos seus produtos, que o pode fazer através do seu telemóvel de contacto: 924 397 971, ou que passe na loja do Mercado de Queijas, onde vende os seus produtos, para comprar algo que possa ajudar a Dona Adozinda.
Os interessados podem ajudar esta família carenciada através da doação de bens e/ou artigos mais antigos, para que Adozinda Pereira possa vender nas feiras de velharias onde também costuma participar para sobreviver.
Olhando para o futuro, vê apenas uma “grande nuvem negra”, mas assume que vai lutar “com todas as suas forças” para que o filho não “vá para um lar”.
“Com o meu coração de mãe destroçado, já assisti ao processo de sofrimento do meu filho todos estes anos. Como mãe, não consigo imaginar o meu filho a viver num lar… se for para ir para um centro de recuperação de jovens acidentados, não me importo, mas não consigo ver o meu filho num lar”, reitera, levando as mãos à cabeça.
Adozinda Pereira pede somente alguma “tranquilidade” de saber que o seu filho ficará entregue ao cuidado de uma instituição onde possa “ter algum tipo de vida”, alguma esperança.
Município elegeu Adozinda como exemplo de “mulheres que inspiram”
No âmbito da celebração do Dia Mundial da Mulher em 2024, na iniciativa “Mulheres que Inspiram”, a CMO homenageou esta mulher, de 78 anos, pela sua capacidade de resiliência e de “inspiração” para a comunidade.
Adosinda Henriqueta Borrego Pereira nasceu em 15 de abril de 1947, numa aldeia de Penamacor, Castelo Branco. Estabeleceu residência em Carnaxide, onde vive há aproximadamente 50 anos. Dedicou-se durante 30 anos à arte da culinária, exercendo a profissão de cozinheira.
No entanto, “um acontecimento pessoal significativo mudou o rumo da sua trajetória profissional: a doença do seu filho levou-a a buscar novas formas de rendimentos. Foi assim que, através da internet e com a ajuda de uma amiga, Adosinda Pereira aprendeu a criar bijuterias, transformando a sua paixão por artesanato. Adosinda Pereira destaca-se pelo seu compromisso com a comunidade. Ao longo dos anos, tem prestado apoio e auxílio a doentes crónicos da freguesia”, diz o texto da CMO sobre Adozinda Pereira.
“Nos tempos livres, dedica-se com prazer à criação de bijuteria, demonstrando a sua habilidade artística e a sua capacidade de reinventar-se em busca de melhores oportunidades. A sua história de superação, empreendedorismo e compromisso com a comunidade serve como inspiração para todos que a conhecem, evidenciando a sua generosidade e determinação em apoiar aqueles que mais precisam”, justifica o Município.