O “Festival do Nascimento do Buda” trouxe uma onda de energia positiva para uma das zonas mais movimentadas da capital. Durante este fim de semana, celebram-se os ensinamentos do budismo e a difusão da mensagem pacifista desta religião milenar.
A BLIA Lisboa (Associação Internacional Buddha’s Light) e o Templo Fo Guang Shan Portugal estão a realizar o “Festival do Nascimento do Buda” nos dias 10 e 11 de maio, no Jardim da Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa.
A mestre budista Ru Hai encarna a personificação de um mestre zen. Está vestida com os trajes (simples) dos mestres budistas e tem o cabelo cortado a pente zero. Irradia uma aura de paz e harmonia e é justamente essa mensagem que quer passar a todos os crentes curiosos que queiram mergulhar no acontecimento religioso.
Explica ao “Olhares de Lisboa” que esta iniciativa religiosa tem como ponto de partida a celebração do nascimento do Buda, tendo como objetivo maior a difusão dos seus ensinamentos, “desejando que mais pessoas possam ser tocadas pela sua sabedoria e compaixão, contribuindo assim para a redução da violência e dos conflitos, promovendo a harmonia social e a paz mundial”.
O bem no centro de tudo
Ru Hai acredita convictamente que o budismo “pode ajudar a melhorar o mundo”. Esta celebração, diz a mestre, procura, acima de tudo, promover a “harmonia e paz” entre os participantes, mas também “divulgar a cultura chinesa e budista” para o público. Ru Hai defende que quer que as pessoas participantes “absorvam” os mantras aprendidos nos mosteiros budistas: “falar o bem, fazer o bem, ter uma mente pura”.
“O importante mesmo é sermos boas pessoas e também conseguir atrairmos pessoas de bom coração, que tragam harmonia para a celebração. O Festival é inclusivo e queremos ter connosco as pessoas de todas as confissões religiosas, porque o importante é vivermos todos juntos e em harmonia”, reitera.
Questionada sobre a aceitação e a prática do budismo em Portugal, Ru Hai sustenta que o caminho está a ser feito “com calma e sem ansiedade”, pois a implementação de um credo religioso “leva muito tempo a ser conseguido”.
E exemplifica com a lenta entrada do budismo na China, onde é hoje uma prática religiosa corrente, que demorou “100 anos” para se afirmar. Em Portugal, diz Ru Hai, os passos já estão a ser dados, mas “vai levar tempo a estar plenamente consolidado”.
Português, portuense, budista
Eduardo Patriarca é português e budista. Representa a BLIA na cidade invicta. Natural do Porto, veio propositadamente do Norte para participar ativamente no Festival. Explica que aderiu ao budismo em 1990. “Foi, de facto, a religião onde sentia mais empatia e onde encontrava mais respostas para as minhas dúvidas existenciais”.
O budista portuense defende que há uma procura “cada vez maior” pelos cursos sobre o budismo. “Há um bocadinho uma onda ‘new age’ em que as pessoas procuram caminhos menos convencionais para encontrarem a sua espiritualidade. Posso dizer-lhe que o interesse das pessoas pelo budismo tem vindo a crescer. No nosso curso sobre o budismo temos cerca de 80 participantes. O curso é online e noturno, às quartas-feiras à noite, e tem vindo a crescer, o que pode ser demonstrativo da expansão do budismo em Portugal”.
O individualismo (o egoísmo) ocupou hoje o trono dos valores mais tidos em conta no Ocidente. Com o mundo assolado por conflitos e guerras sem fim à vista, bem como atritos vários entre vários países e culturas, a religiosa acredita que os valores do budismo deveriam prevalecer “no coração das pessoas”, pois esta prática religiosa fomenta a “paz e harmonia” em detrimento do ódio e das divisões estéreis, bem como do individualismo e o perpetuar dos conflitos com o outro, connosco próprios.
Eduardo Patriarca lembra que esta religião “foca-se justamente na nossa [relação] com o outro”. “O budismo prepara-nos para assimilarmos que somos responsáveis pelos nossos atos. E, portanto, quando eu faço qualquer coisa de má ao outro, estou a fazer mal a mim próprio, porque o retorno acaba sempre por virar-se contra mim (ou a nosso favor). Ou seja, se faço o bem, recebo o bem, se faço o mal, recebo o mal”, conclui.
À procura de sorte para o dérbi
A família Félix está equipada a rigor com as camisolas do Sporting Clube de Portugal – o cão da família também está vestido com uma camisola do clube e é o mais irrequieto do grupo. Vivem nas imediações da Fonte Luminosa e não quiseram perder a oportunidade de indagar o ambiente da festa do nascimento de Buda. Assumem-se “muito bem impressionados” com a “boa onda” que “há no espaço”.
Nuno Félix assume, entre risadas, que vieram também para “levar a bênção de Buda” para o jogo mais esperado do ano: o dérbi da capital entre o Sporting e o Benfica. “Esperemos que não haja conflitos entre os adeptos, mas que a sorte de Buda ilumine o nosso Sporting”, atira.
A programação do Festival inclui, para além do tradicional banho na imagem do Buda menino, meditação, apresentações artísticas e culturais, dança do leão, fórum sobre Budismo Humanista, prática do Tai Chi e comida vegetariana.