Historiadora investigou o pulsar vibrante das Avenidas Novas

“Colectividades de Lisboa – Freguesia de Avenidas Novas”, é o novo livro de Maria João de Figueiroa Rego, apresentado no dia 6 de junho no Palácio Galveias, com apoio da Junta de Freguesia das Avenidas Novas e edição da Câmara Municipal de Lisboa. O livro constitui o 8º volume da coleção dedicada às freguesias e colectividades da capital.

Num mundo “cada vez mais digital, a cultura é cada vez mais importante, não podemos ter dúvidas: A cultura é o que nos pode diferenciar como país”, afirmou Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, na apresentação de mais este livro da coleção de Maria João Rego, “Colectividades de Lisboa”.

“Nestas páginas encontramos desvendada essa história de uma freguesia única na cidade. Uma história que se espalha pelos seus lugares e símbolos, que parte da imagem de um território rural e termina na urbanizada freguesia que hoje conhecemos, cheia de movimento e energia (…) Vemos a freguesia pelo inesgotável património, multiplicado nos seus palácios oitocentistas e novecentistas”, descreveu Carlos Moedas.

Para o edil, nem só de grandes obras e avenidas se faz o livro da história Avenidas Novas. “Esta é também a história das suas gentes. É uma obra das pessoas que deram e dão à freguesia o seu dinamismo. Dos nomes da cultura como Chaby Pinheiro, o ator António Silva, Margarida de Abreu, Raul Solnado”, entre muitos outros, a Avenidas Novas é também um território “de todas as pessoas, muitas delas anónimas, que dão vida às coletividades e associações culturais, desportivas, de bairro, que fazem de Lisboa uma cidade única e singular. É precisamente esta Lisboa que testemunhámos quando, no final de 2022, lançámos o primeiro Teatro em cada Bairro da cidade aqui nas Avenidas Novas”.

O presidente de Junta de Avenidas Novas, Daniel Gonçalves, aproveitou o momento para enaltecer o trabalho de Carlos Moedas no apoio à cultura da cidade e na promoção das freguesias lisboetas. “O engenheiro Carlos Moedas, tem demonstrado um compromisso sólido e coerente com a promoção da cultura na cidade e nas suas freguesias. A sua visão de uma Lisboa mais inclusiva, vibrante e culturalmente ativa tem vindo a traduzir-se em iniciativas concretas que aproximam os lisboetas da arte, da história, da música, do teatro e da criatividade em todas as suas formas. Como presidente da Junta de Freguesia de Avenidas Novas, deixo-lhe o meu sincero agradecimento por estar presente no lançamento deste livro e por apoiar trabalhos como este, que enaltecem as freguesias da nossa cidade”.

“Orgulho” da aposta na cultura

Daniel Gonçalves explicou que a cultura promove a forma como as pessoas interagem e comunicam entre si, “atribuindo-lhes crenças, normas e valores que tantas vezes são transmitidas por várias gerações, traduzindo-se na promoção de uma coesão social necessária e estruturante”, mas a importância da cultura nas nossas sociedades “nem sempre é acompanhada pelas ações, iniciativas ou apostas das entidades responsáveis pela sua promoção e execução”.


Para o autarca, a Junta de Freguesia de Avenidas Novas “orgulha-se da aposta feita na cultura”, olhando-a de forma estratégica, apostando de forma clara e consistente na promoção de diversas atividades culturais ao longo de todo o ano.

“Durante este mandato, a Junta de Freguesia de Avenidas Novas tem feito da Cultura uma aposta estratégica para o desenvolvimento da freguesia e da cidade de Lisboa. Não será demais reforçar que são os países e as cidades que mais apostam na sua cultura, que mais se desenvolvem, e eu na qualidade de presidente da Junta de Freguesia pretendo para esta e para as gerações vindouras, desenvolvimento e sustentabilidade que se traduzirá numa melhor qualidade de vida dos nossos fregueses”.

Segundo o líder da freguesia, as Avenidas Novas fazem parte do imaginário coletivo dos lisboetas, com comércio, ruas, avenidas, museus, hotéis, coletividades, associações, jardins, universidades e organizações, “que marcam a freguesia, a cidade e o país”.

“Olhando com orgulho para este património, a Junta de Freguesia de Avenidas Novas, através do pelouro da cultura, dinamiza as diversas vertentes culturais, com a programação de eventos que passam pela gastronomia, literatura, teatro, exposições e tantas outras expressões culturais que contribuem para o reforço de laços dentro da comunidade de fregueses”, anotou.

Serviço Público

Em relação ao livro, diz Daniel Gonçalves, vem confirmar a aposta determinada na cultura por parte da Junta de Freguesia de Avenidas Novas e representa aquilo que deve ser o verdadeiro serviço público prestado à comunidade, refletindo um trabalho conjunto com a Camara Municipal de Lisboa, “com uma palavra de reconhecimento e apreço pelo presidente da Camara Municipal de Lisboa, que colocou o seu cunho e entusiamo pessoal neste projeto”, reiterou Daniel Gonçalves.

O autarca concluiu o discurso, elogiando o “trabalho notável da sua autora, a investigadora, Dra. Maria João Figueiroa Rego, a quem agradeço e deixo uma palavra de sentido apreço pela enorme qualidade, empenho e cunho pessoal dedicado a este projeto, que abraçou com carinho desde a primeira hora”.

O novo e antigo combinados na Avenidas Novas

Esta coleção, diz a autora, Maria João de Figueiroa Rego, pretende “divulgar a história passada” e “ajudar a compreender o presente e projetar o futuro”, através da “evolução do sucesso social, a evolução histórica do território e compreender como essa freguesia, e os seus equipamentos e tudo aquilo que ela tem para nos oferecer, é vivida pelas pessoas”.

O livro apresentado, revela, teve uma particularidade que dificultou a conclusão da investigação: “Não sendo a maior freguesia de Lisboa, é uma das maiores em termos de território, com imenso património arquitetónico – nesta zona foram atribuídos muitos prémios Valmor – e uma história riquíssima”.

Para a autora, a Avenidas Novas é hoje um território que se liga à própria história da cidade, porque, sendo uma freguesia recente, “tem na realidade uma história que se perde no tempo”.

“Tem origem em São Sebastião da Pedreira, que era uma freguesia rural, e ficava nos arredores da cidade. Graças ao plano visionário de Ressano Garcia, que desenvolveu um plano de construção da cidade, desenvolvendo-a para norte, e começou com a construção da Avenida da Liberdade. Inicialmente, esta freguesia tinha uns limites que iam até São Domingos de Benfica, assim como Campolide”.

Graças ao plano de expansão da cidade, entre 1900 e 1950, a capital cresceu de tal forma que a freguesia da São Sebastião da Pedreira, que era uma freguesia rural e cheia de quintas, passou a ser muito urbanizada, com uma densidade populacional muito elevado (chegou a atingir os 89 mil habitantes) e foi entendido que era necessário dividir o território, explicou a historiadora.

“Em 2012, São Sebastião da Pedreira e Nossa Senhora de Fátima uniram-se e deram origem às Avenidas Novas. O nome foi muito bem escolhido porque foi pensado para refletir a construção das avenidas que deram origem a esta freguesia, como a Avenida da Liberdade. Era a nova Lisboa que nascia”.

Implantação da República e Rock Rendez Vous

De resto, segundo a historiadora, as Avenidas Novas estão intimamente ligadas ao “novo”, ao nascimento contante de “novidades”. “Esta freguesia já esteve envelhecida, mas volta a ter uma população jovem. Neste momento, é um território com muita história, com muito património arquitetónico. A construção da freguesia teve a colaboração de grandes arquitetos portugueses, e que foram os primeiros a ser premiados com o Prémio Valmor”.

A freguesia também foi palco de muitos momentos da nossa História, muitas revoluções, que tiveram o seu epicentro no que hoje é a Praça Marquês de Pombal. “Desde logo, o 5 de Outubro de 1910, e a Implantação da República. Graças a esse acontecimento, a Avenida Ressano Garcia passou a chamar-se Avenida da República”.

Esta freguesia teve espaços culturais tão variados como a Fundação Gulbenkian como o Rock Rendez Vous, uma sala de concertos que marcou algumas gerações de jovens que por lá passaram. Foi ali que se lançaram uma série de bandas que já fazem parte do imaginário coletivo, como os Xutos & Pontapés, os Rádio Macau, e onde atuaram nos seus primórdios Rui Veloso, Paulo Gonzo, entre muitos outros, lembrou Maria João de Figueiroa Rego.

Em suma, a Avenidas Novas é uma freguesia que sempre teve equipamentos culturais “muito interessantes”, mas também “coletividades históricas”, tanto antigas como novas, o que prova que o associativismo “está vivo e se recomenda”. “Haja quem tenha dedicação ao bem comum”, que é o trabalho feito nas colectividades e que “nem sempre é reconhecido”.

Maria João Figueiroa Rego, é uma historiadora e escritora portuguesa com um extenso percurso dedicado à investigação e divulgação da história de Lisboa e Portugal. É investigadora no Gabinete de Estudos Olisiponenses, da Câmara Municipal de Lisboa, cujos quadros integra desde 1989. Desde 2006, tem vindo a publicar uma obra dedicada às coletividades das freguesias, o seu património e a sua história.

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