Alexandra Leitão conheceu a realidade dos “prédios devolutos” da freguesia da Ajuda e aproveitou para criticar a existência de centenas de edifícios “entaipados”, que poderiam ser “facilmente requalificados” e reaproveitados para a habitação pública.
Sob um sol abrasador, a candidata da coligação “Viver Lisboa” esteve hoje, dia 28 de julho, na freguesia da Ajuda e reuniu com os representantes Federação Portuguesa dos Táxis, na zona de Telheiras.
Na reunião com os homens do volante, Alexandra Leitão deparou-se com a célebre fotografia de um outro outrora autarca, do PSD, que foi derrotado nas eleições autárquicas de 1989. O “taxista” era nem mais nem menos que o mesmíssimo Marcelo Rebelo de Sousa, que aparece na imagem com um vidro aberto, braço pendurado na janela, a levantar o polegar em sinal de controlo da situação.
O atual Presidente já então mostrava propensão para as “campanhas de choque”, dando mergulhos televisionados num rio Tejo poluído até à margem, conduzindo ficticiamente táxis, entre outras ações chamativas, mas acabou derrotado pelo socialista Jorge Sampaio – como recordou o vereador Pedro Anastácio.
Alexandra Leitão, apesar de partilhar com Marcelo Rebelo de Sousa o facto de provir da ‘incubadora de políticos’ da Faculdade de Direito de Lisboa, não pretende “conduzir táxis”, mas o episódio motivou uma entrada mais descontraída para a reunião entre a candidata e os dirigentes da FPT.
Em declarações ao “Olhares de Lisboa”, a socialista explica que esta ação está relacionada com a necessidade de perceber a realidade laboral dos taxistas da cidade, “que é extremamente regulada”, mas também para a candidata se informar sobre os locais de Lisboa onde é necessário intervir.
“Os taxistas, pela sua atividade, conhecem a cidade como ninguém e deparam-se com constrangimentos vários no seu dia a dia. Viemos ouvir aquilo que estes profissionais têm para nos dizer, porque é importante escutar quem anda na rua todos os dias”, explica.
Roteiro da habitação municipal devoluta
Da parte da manhã, Alexandra Leitão fez o “roteiro da Habitação Municipal abandonada” na freguesia da Ajuda. Acompanhada pelo presidente da Junta de Freguesia, o arquiteto socialista Jorge Marques, que lhe mostrou “várias dezenas de prédios de habitação da Câmara devolutos” e que “poderiam ser aproveitados para fazer casas de habitação pública”.
“Em toda a zona ocidental da cidade, na Ajuda, em Belém ou em Alcântara, a habitação pública foi simplesmente ignorada. A proposta estava aprovada pelo anterior executivo da Câmara, mas nem sequer saiu do papel”, atira.
“A freguesia da Ajuda é emblemática porque tem um número substancial de prédios, pequenos edifícios camarários ou de outras entidades públicas, que estão fechados há imenso tempo. Nestes prédios, mesmo nos privados, seria imensamente fácil fazer uma requalificação e pôr ali muitas famílias a viver”.
Alexandra Leitão assevera que em toda a zona ocidental “há cerca de 4 mil prédios que estão devolutos” e que poderiam ser “rapidamente requalificados e transformados em habitação pública”, mas a candidata socialista dá como exemplo da inércia e da burocracia camarária, o caso de uma senhora (privada) que queria reabilitar a parte superior do seu prédio, “mas que estava à espera há 5 anos para avançar com uma obra, que daria para alugar a quatro ou cinco famílias”.
Ajuda, o paradigma dos prédios entaipados
Por essa razão, Alexandra Leitão defende que a construção de habitação pública deve ser “uma realidade”, pois “há zonas da cidade onde se pode construir, como a Alta de Lisboa, o Vale de Santo António, mas também há muitos sítios, e a Ajuda é exemplo disso, que, com o edificado que já existe, se conseguiam fazer umas centenas de fogos espalhados pela freguesia”.
Se nada for feito, diz Alexandra Leitão, pode repetir-se “aquilo que tem vindo a ocorrer naquela zona: vir um grande promotor imobiliário e transformar aqueles prédios num condomínio de luxo”, barrando o acesso à habitação a quem mais dela precisa, isto é, os jovens e a classe média empobrecida.
“Não tenho nada contra a habitação privada. Mas, na verdade, este género de aquisições não resolve o problema da habitação e de quem está a ser expulso da cidade”.
Zona ocidental sem a construção “de uma única casa”
Por mais do que uma vez, o autarca da Ajuda, Jorge Marques, já se manifestou declarando que a sua freguesia “tem sido marginalizada pelo poder municipal”.
Alexandra Leitão diz que “é verdade” e ilustra a realidade vivida nas freguesias de Lisboa ocidental com o “facto de não ter sido construída uma única casa de habitação pública nos últimos quatro anos”.
E exemplifica a “indiferença do Município” ante a resolução dos problemas da Ajuda com o caso do Centro Intergeracional, que estava previsto nascer no centro da freguesia, “mas que continua por fazer”.
Antigo Centro de Saúde está devoluto
Para Alexandra Leitão, “alguma coisa tem que ser feita pela freguesia da Ajuda” e promete estudar os dossiers das intervenções necessárias para revitalizar aquele território.
“Há imensos edifícios entaipados, o que também gera um problema de segurança para os moradores”, aponta, acrescentando um outro exemplo “chocante” de falta de intervenção da Câmara naquele território.
“O antigo Centro de Saúde da Ajuda, que foi o meu durante muitos anos, funcionava num prédio de habitação, mas não tinha condições para funcionar como tal. Com a construção do novo equipamento, que substituiu o antigo, o prédio foi abandonado. O edifício está fechado e podia, e deveria, ser requalificado para habitação pública”.
Falta de fiscalização municipal
Na visão da candidata, a legislação atual “já permite cobrar mais IMI nos prédios devolutos para obrigar os donos a porem estas casas no mercado”, mas “o problema está a montante”, porque para passarem a ser considerados prédios devolutos “é preciso identificá-los como tal”.
“Quando existe um prédio entaipado, a cair aos bocados, mas que não é identificado como devoluto, fica tudo na mesma”.
“Temos de parar de adiar Lisboa. Estamos prontos para desbloquear projetos, acelerar decisões e dar resposta às necessidades reais da cidade”, conclui.