A esquerda tem uma nova “geringonça” para enfrentar Carlos Moedas. Alexandra Leitão desferiu um duro ataque ao atual presidente do Município. Moedas deixa “um não legado” e uma cidade “esburacada”, “suja”, na qual apenas uns poucos conseguem viver. A socialista promete 20% de habitação pública e a construção de casas modelares em terrenos municipais para resolver o problema da habitação em Lisboa.
O consenso encontrado em torno da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara Municipal de Lisboa ditou uma espécie de romaria ao miradouro São Pedro de Alcântara, esta sexta-feira, 18 de julho.
Os turistas, curiosos, assistiram ao ajuntamento, que “invadiu” o “seu” espaço de lazer e aproximaram-se para perguntar “quem eram aquelas pessoas” que estavam a ser seguidas por um batalhão de jornalistas? Alguns acotovelaram-se com os profissionais das notícias para tirar fotografias ou indagar se “era o primeiro-ministro”, outros permaneceram sentados na esplanada, degustando cocktails com cores berrantes, com vista para a multidão que engoliu a sua tranquilidade.
O novo secretário-geral do PS, José Luís Carneiro, compareceu na iniciativa para mostrar o seu apoio a uma candidata que, mesmo não tendo sido nomeada por si, foi “uma escolha acertadíssima” pelas “qualidades humanas, cívicas e políticas” que possui e sobre as quais já deu provas no serviço ao país.
“(A Alexandra Leitão) é uma personalidade do melhor que o PS tem e, portanto, é para nós uma honra ter uma candidata deste calibre”, afirma, acrescentando o “excelente trabalho” na liderança da Bancada do Partido Socialista no Parlamento, no Governo de António Costa, mas também na vida civil, “onde é professora doutorada” em Direito, são garantias para Lisboa tomar um novo rumo.
José Luís Carneiro, secretário-geral do PS, defendeu a candidatura de Alexandra Leitão, criticando o “folclore de aparecer” de Carlos Moedas, atual presidente da autarquia e recandidato à mesma.
Em declarações aos jornalistas no Miradouro São Pedro de Alcântara, Carneiro desvalorizou a ausência do PCP do acordo que une as esquerdas porque “todos os que quiseram estar, estão”.
O socialista considerou que se deram “as mãos” e “juntaram-se as vontades” daqueles que “quiseram ter este espírito de serviço” e que “estão nesta partilha de uma responsabilidade e dever comum com a cidade e é isto que é muito importante”.
A viver durante a semana na capital, Carneiro destaca que Lisboa precisa “de uma atenção muito especial às condições de vida”.
José Luís Carneiro explicou que anda a pé pela cidade e de metro, e não gosta do cenário com que se depara nas suas deslocações diárias. Por exemplo, “andar a pé na cidade tem problemas graves”, devido ao piso em que as pessoas caminham. “As pessoas têm quedas quase todos os dias na cidade”, aponta o secretário-geral do PS.
Por isso, Lisboa “precisa de um carinho com as pessoas, não é fazer o folclore de aparecer, é de uma atenção muito especial às condições de vida”, sublinha ainda o secretário-geral quando questionado sobre se o projeto de Alexandra Leitão, sem o PCP, terá força para derrubar a candidatura de Carlos Moedas.
A acompanhar a candidatura socialista desde o início, o líder socialista argumenta que “desde a primeira hora está centrada nas questões concretas da vida das pessoas”.
Entrada de “leão”
Por seu turno, a ex-líder parlamentar do PS e a cabeça de lista da coligação Viver Lisboa, surgiu sorridente, com ar triunfante, ladeada pelos seus parceiros de coligação: o Livre, representado por Carlos Teixeira, Bloco de Esquerda, por Carolina Serrão, e o PAN por António Morgado Valente. Os líderes de PS, Bloco, Livre e PAN acompanharam a candidata a presidente e vereadores à capital.
Alexandra Leitão, que encabeça a coligação de esquerda, respondeu esta sexta-feira à letra a Carlos Moedas, o seu principal adversário na corrida à Câmara de Lisboa, acusando-o de ter uma estratégia política de “radicalismo disfarçado de moderação”, e de enveredar pela “propaganda” sem “substância” e pela “imagem” sem “ação”.
“É contra esse radicalismo disfarçado de moderação que esta coligação se levanta. Mas não se trata de escolher entre radicalismo e moderação, trata-se de escolher entre quem adia e quem decide, entre quem fala e quem faz”, afirmou Alexandra Leitão em resposta às últimas críticas desferidas por Moedas que acusava a candidatura de esquerda de “radicalismo e extremismo”.
No discurso de formalização do acordo com o Livre, Bloco de Esquerda e PAN, a candidata socialista foi a única a discursar, contra-atacando com várias tiradas duras para devolver as acusações a Carlos Moedas.
Alexandra Leitão apontou baterias para criticar o recandidato à Câmara de Lisboa por ter um “discurso vazio de ideias e de esperança”, devolvendo as críticas: “Dizem-se moderados numa cruzada contra radicais”, mas “radical é não ter uma política de habitação. Radical é assistir passivamente a uma cidade onde os trabalhadores da própria câmara, das escolas, dos hospitais, das forças de segurança já não conseguem viver; onde os jovens não têm casa, onde as famílias da classe média se veem forçadas a sair.”
Farpas e diretas
Prosseguindo com as farpas a Moedas, Alexandra Leitão não poupou palavras: “Ao fim de quatro anos de mandato, Carlos Moedas deixa uma cidade mais suja, mais desigual, mais cara, mais caótica e difícil de viver”.
Para a líder da nova “gerigonça” na luta contra a direita na Câmara de Lisboa, os opositores dizem-se moderados numa cruzada contra radicais, mas “radical é não ter uma política de habitação”. Radical “é abandonar o espaço público ao lixo, à degradação e ao desleixo”.
Alexandra Leitão referiu que a coligação foi inspirada pela candidatura de Jorge Sampaio à Câmara de Lisboa há 35 anos que formou uma coligação para devolver Lisboa aos lisboetas, tendo como grande prioridade a habitação pública.
Por isso, os partidos desta coligação voltam a “unir forças para construir uma cidade mais justa, próxima e humana e onde todas e todos possam viver Lisboa, em que morar não seja um privilégio, mas um direito”.
20% de habitação pública e casas modelares
Se vencer as eleições, Alexandra Leitão promete que “pelo menos 20% das casas em Lisboa sejam públicas, reabilitar edifícios devolutos, construir nova habitação com regras claras, usar o património municipal com critério social, investir em cooperativas, penalizar imóveis devolutos e criar um grande programa de requalificação dos bairros municipais”.
A candidata socialista também pretende “usar terrenos municipais para soluções inovadoras, casas modelares, construções rápidas que não comprometam a qualidade”. Até porque, justificou em tom de crítica a Moedas, “quem precisa de casa não pode esperar por quatro anos de anúncios”.
Para a socialista, a Carta de Habitação de Lisboa, aprovada pelo atual Executivo, “não responde às necessidades da cidade, não tem ambição nem visão para o futuro. Na prática, é assumir que a crise da habitação em Lisboa não começará sequer a ser resolvida na próxima década”.
“No vale de Santo António, pomposamente apresentado como ‘o maior projeto de habitação das últimas décadas’, Carlos Moedas não prevê a construção de uma única casa nos próximos dez anos. É um projeto para 2033, apresentado como a solução para 2026”, atira.
Nova mobilidade e políticas para voltar a pôr Lisboa nos eixos
Mas não é só na habitação que a socialista pretende intervir. Na mobilidade, “onde Moedas falhou”, promete “transportes gratuitos para residentes e horários alargados, mais corredores Bus e elétricos a chegar a novas zonas da cidade, terminais multimodais com conforto e serviços públicos, um plano metropolitano de mobilidade que integre verdadeiramente Lisboa com os concelhos vizinhos”.
Para Alexandra Leitão, a cidade “precisa de mudar”. “Não basta fingir que se faz para dois minutos de um vídeo de Tik Tok, é preciso fazer mesmo”, aquilo que Moedas “não fez”, ainda que tivesse tido “todas as condições para governar. Teve tempo, estabilidade, meios, fundos europeus sem precedentes”, mas deixa apenas um “legado vazio”.
Lisboa “esburacada”
De acordo com a candidata, Lisboa “está entre as cidades que mais perderam posições no Índice Global de Habitabilidade 2024”, caindo 40 lugares no Smart City Index, em cinco anos, “mesmo com uma fábrica de unicórnios”.
Não obstante os rankings, “não é preciso recorrermos a eles”, basta ouvir as pessoas. “E eu tenho ouvido muito as pessoas, que me falam do lixo acumulado, dos buracos nas ruas, do estado do espaço público, das rendas incomportáveis, das escolas degradadas porque a Câmara não mobilizou um cêntimo do PRR para modernizar os edifícios escolares, enquanto que as autarquias que o fizeram já estão a inaugurar essas obras”.
Alexandra Leitão concluiu o discurso pedindo o “fim da inação que destrói a cidade”, até porque Lisboa, “com ambição”, pode ser uma “referência europeia em inovação urbana, sustentabilidade, mobilidade, cultura e qualidade de vida”, mas é preciso “liderança, visão, capacidade de execução”.
José Luís Carneiro, por seu turno, afirmou que o objetivo do partido para as próximas autárquicas de 12 de outubro é ganhar Lisboa, Porto e Braga.