Alexandra Leitão quer criar “redes de creches, lares e centros de dia em todos os bairros”

Alexandra Leitão reuniu-se com parceiros da coligação “Viver Lisboa” na corrida pela Câmara Municipal de Lisboa para ouvir as propostas dos lisboetas. A candidata diz que a sua lista “é humanista e progressista” e apresenta soluções “social-democratas” para governar Lisboa.

Numa ação de campanha designada “Vamos falar sobre o futuro de Lisboa?”, Alexandra Leitão organizou uma espécie de “estados gerais” do PS em Lisboa com a população para auscultar as suas ideias como forma de “melhorar a vida na cidade”, mas também as suas preocupações.

A candidata socialista discutiu em Alcântara as linhas gerais do programa à Câmara Municipal de Lisboa com os representantes de Livre, Bloco de Esquerda e PAN presentes na ação, mas também algumas dezenas de cidadãos que participaram em várias sessões de debate, apresentando propostas em sete salas da Biblioteca Municipal de Alcântara, ontem, dia 23 de julho.

Cada uma delas estava dedicada a temas como a habitação e urbanismo, economia e inovação, mobilidade e ambiente ou educação, ciência e cultura, entre outros.

Habitação no centro das preocupações

A sala da habitação e urbanismo foi uma das mais concorridas. Os munícipes usaram da palavra para manifestarem o seu descontentamento perante a realidade que se vive hoje na capital.

Um munícipe, que se identificou como funcionário da Câmara de Lisboa, defendeu a necessidade de reverter a “falha atroz no planeamento estratégico para a cidade”, apontando que “falta fazer um diagnóstico sério” sobre as intervenções prioritárias necessárias para “mudar a cidade”.

“Há muita conversa, mas não há ideias”, disse, exortando os políticos a “terem ideias concretas” para mudar o paradigma habitacional de Lisboa, mas também importará “mexer no PDM”, que “é altamente restritivo” e inviabiliza as mudanças estruturais de que a cidade necessita, segundo o interveniente.

Na sala da mobilidade, uma senhora, na casa dos 70 anos, revelou que “usava muito os transportes” no seu dia a dia, mas que os “autocarros estão cada vez pior”, com menos carreiras, sobrelotados, com falhas no cumprimento de horários. “Quem tenha crianças a seu cargo, é terrível. Ainda bem que não tenho netos. Se os tivesse, estaria muito preocupada”, lamentou.

Na educação, uma assistente social, que é funcionária do Município, alertou para o “facto de (Carlos) Moedas trabalhar para as redes sociais”, nomeadamente na pasta dos equipamentos sociais educativos, como as creches e na rede de pré-escolar.

“O programa está parado. O atual presidente diz que faz, mas, na prática, não faz nada”, governando para o “show off” mediático, diz a assistente social, e protelando ad eternum as “verdadeiras prioridades” que “continuam adiadas”, como a construção de creches “por toda a cidade”.

Candidatura “humanista e progressista”

No discurso de encerramento desta jornada de apresentação de propostas do povo de Lisboa, que foram enviadas por email para a direção de campanha de Alexandra Leitão, a candidata socialista enfatizou a união da coligação Viver Lisboa apesar das “diferenças”.

“Estamos com gente que quer construir e mudar Lisboa. Quero agradecer a quem apresentou propostas, é um programa responsável, progressista e humanista. Estamos a construir isto em conjunto. Jorge Sampaio soube unir e disse que nos devíamos unir nos objetivos e não na uniformização. Não apagámos as diferenças, mas temos um objetivo comum, a cidade”, recordou, recuando à associação de esquerda que Sampaio consolidou em Lisboa nos anos 1990.

Lisboetas vivem “num parque temático”

A cabeça de lista voltou a criticar Carlos Moedas, que alegadamente permitiu o excesso de turismo e consequente uso de habitações para alojamento local. “Numa notícia publicada ontem, o jornal Le Monde escreve que os lisboetas se sentem parte de um parque temático e acrescenta que a cidade é consumida por um turismo predador, que expulsa quem cá vive”, considerou.

“Junte-se a este retrato quatro anos de inação, desleixo e propaganda vazia e temos a receita para o abandono em que os Lisboetas se sentem”.

A socialista, ex-líder parlamentar, privilegia a habitação entre as temáticas e reafirmou a meta de 20% de habitação pública que já expressara na apresentação formal do acordo.
“20% de habitação pública, temos de garantir isto”.

“É uma meta a alcançar com novas construções, reabilitação, parcerias com cooperativas e entidades privadas, com regras claras. Temos de proceder ao agravamento do IMI sobre imóveis devolutos e novas soluções habitacionais. Queremos a erradicação de devolutos e utilização de terrenos municipais para casas modulares”, detalhou no encerramento da reunião.

Revisão do PDM

Alexandra Leitão assume que urge a “revisão do Plano Diretor Municipal (PDM)”, impondo “quotas obrigatórias de 25% de renda acessível em novos empreendimentos; impedimento da conversão de habitação em uso turístico em zonas saturadas; integração da mobilidade, espaço verde e uso do solo; regulação e fiscalização do Alojamento Local”.

Na área da higiene urbana, a candidata socialista pretende implementar um conjunto de medidas que convertam o espaço público em lugares “limpos, seguros e acessíveis – com ruas arranjadas, contentores modernos, recolha inteligente de resíduos e refúgios climáticos em todos os bairros com sombra, água e biodiversidade”.

A nível da intervenção na resposta social e intergeracional, Alexandra Leitão revela que quer criar “redes de creches e lares; centros de dia em todos os bairros; rede municipal de apoio domiciliário; unidades móveis de saúde e promoção do modelo “Housing First” para pessoas em sem-abrigo”.

Em defesa da “social-democracia”

Alexandra Leitão terminou a intervenção, voltando a citar Jorge Sampaio. “O autoritarismo nasce porque as pessoas perderam a confiança. Hoje, demasiadas vezes, ignoram-se dados e pareceres de instituições oficiais, amplificam-se medos, promovendo exclusões e recuando em direitos”.

Por isso, “é preciso dizê-lo com clareza: o verdadeiro espaço da moderação, da responsabilidade democrática, da convivência plural, é o da social-democracia. O nosso espaço. O espaço onde cabem soluções e cabe a justiça social”, acrescentou, concluindo: “Lisboa merece voltar a gostar de si — não por nostalgia, mas por esperança”.

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