A ministra do Ambiente e a Comissária Europeia responsável pela área do Ambiente acompanharam hoje, dia 22 de julho, Carlos Moedas para visitar a conclusão do túnel resultante do Plano de Drenagem de Lisboa. O autarca considera que esta intervenção “é a obra do século em Lisboa”, pois vai permitir que a cidade esteja melhor preparada para enfrentar as chuvas torrenciais que se têm registado ultimamente.
Em dezembro de 2022, Lisboa ficou inundada e caótica. Trânsito com engarrafamentos infindáveis, estradas alagadas, vias interrompidas, escolas fechadas, serviços perturbados, estabelecimentos e habitações inundadas, muros caídos, carros danificados, transportes afetados…
O chamado Plano de Drenagem de Lisboa, previsto há muito (em março de 2008 foi quando foi, pela primeira vez, votado em reunião de Câmara), pretende pôr um ponto final neste tipo de ocorrências, ainda para mais porque as alterações climáticas estão a provocar cheias recorrentes por toda a Europa e Lisboa quer ficar de fora das notícias de calamidades públicas provocadas pelas cheias.
“A obra do século em Lisboa”
O presidente da Câmara Municipal de Lisboa chama o projeto de “a obra invisível que prepara a cidade para o futuro”, uma vez que a tuneladora opera a mais 30 metros de profundidade e já chegou a Santa Apolónia.
Uma comitiva de algumas dezenas de técnicos e trabalhadores acompanhou Carlos Moedas na visita à obra do Plano Geral de Drenagem de Lisboa (PGDL) em Santa Apolónia, para assinalar “um marco histórico” neste projeto que “vai proteger a cidade das cheias e inundações”, com a chegada da tuneladora a Santa Apolónia e a conclusão da escavação do túnel, com cerca de cinco quilómetros de extensão, desde Monsanto/Campolide.
O autarca lembrou que esta obra “vai preparar a nossa cidade para o futuro, evitando as cheias, e vai tornar Lisboa mais sustentável com o reaproveitamento das águas”.
De acordo com Carlos Moedas, o Plano Geral de Drenagem de Lisboa “prepara a cidade para os eventos extremos provocados pelas alterações climáticas”, reduzindo “significativamente as inundações e cheias e os consequentes custos sociais e económicos”.
Com Moedas “muito feliz” por, finalmente, poder mostrar a fase final da “maior obra de sempre da história de Lisboa”, mas também “a maior obra na Europa continental”, que esteve quase 20 anos no “papel”, mas que Moedas quer concluir ainda neste mandato.
Moedas lembrou que a obra tinha sido iniciada pelo então presidente António Carmona Rodrigues, que avançou com o processo de lançamento do Plano Geral de Drenagem de Lisboa.
O líder do Município recordou que teve até um indesejado aliado: as enormes inundações do mês de dezembro, com invulgares níveis de pluviosidade, com “chuvas que só ocorrem de 100 em 100 anos”, que permitiram demonstrar a toda a gente a necessidade imperiosa de avançar com o Plano.
Para Moedas, esta é considerada a “obra do século em Lisboa”. Este Plano tem nos dois túneis de drenagem a sua espinha dorsal. Um ligará Monsanto a Santa Apolónia, o outro Chelas ao Beato. “São estruturas de grandes dimensões, com 5,5 metros de diâmetro que irão captar a água recolhida em dois pontos altos bem como em pontos adicionais ao longo do percurso (Avenida da Liberdade, Santa Marta e Avenida Almirante Reis) conduzindo esse volume de água até ao rio. O primeiro desses túneis tem cinco quilómetros de extensão e o outro um quilómetro”.
De acordo com o autarca, os túneis e as bacias irão permitir captar e armazenar as primeiras águas da chuva, que são as mais poluídas por trazerem os resíduos depositados na superfície dos pavimentos, conduzindo-as posteriormente às fábricas de água (ETAR) já com um prévio tratamento de decantação, minimizando os efeitos de poluição das águas lançadas no rio.
Reutilização de água reciclada
Mas esta obra, para além de prevenir inundações, vai ter “outro efeito fundamental”, pois vai permitir utilizar água reciclada para lavagem de pavimentos, para regas e combate a incêndios. Isso será possível porque nos túneis vai ser construída tubagem que conduzirá água reciclada das fábricas de água até às bacias antipoluição no sentido inverso ao da drenagem.
Esta água, explica o autarca, será depois reservada em depósitos independentes alimentando os marcos de água reciclada a instalar na cidade.
“Esta é uma aposta responsável do Município de Lisboa”. Em termos de sustentabilidade, “vamos conseguir poupar como nunca a água potável. E também vamos conseguir diminuir drasticamente os custos financeiros. A Câmara paga uma fatura de 4 milhões de euros por 3 milhões de metros cúbicos de água potável. Desse volume, 75% não é usado para fins exigindo água potável, o que representa um verdadeiro “crime ambiental”, isto numa altura em que urge combater os efeitos das alterações climáticas e a promoção de projetos sustentáveis “que fechem o ciclo da água”.
“Obrigado, Europa”
Esta é uma obra no valor global de 250 milhões de euros, para a qual contribuiu o financiamento do Banco Europeu de Investimentos (BEI) — os túneis representam 132,9 milhões de euros + IVA, mas o valor total do investimento é cerca de 250 M€, metade dos quais financiado por empréstimo do BEI.
Por essa razão, Carlos Moedas agradeceu entusiasticamente à União Europeia: “Obrigado, Europa! Sem a UE, não estaríamos aqui hoje”, mas também à ministra do Ambiente, Maria Graça Carvalho, uma ministra “que está do nosso lado”.
Embalado pelo entusiasmo do momento, Moedas aproveitou para lembrar o seu passado de “emigrante em França”, enaltecendo o papel dos “grandes trabalhadores” que estão no terreno a efetivar os referidos túneis de drenagem, nomeadamente os portugueses e os estrangeiros, bem como todos aqueles que chegam ao país “para procurar uma vida melhor”.
Obra “prioritária” para o Ministério do Ambiente
Por seu turno, a ministra do Ambiente destacou também a importância desta obra para o aproveitamento e reutilização da água, evitando desperdícios.
“É a maior obra, como já foi dito, na Europa continental e é uma obra que é exatamente uma das prioridades do nosso Ministério e do Governo, que é a água. Para nós, a água passa pela qualidade e a disponibilidade, pela luta contra as ineficiências e as perdas”, refere Maria Graça Carvalho.
A ministra lembrou que esta obra está alinhada com os objetivos do Governo em “proteger as cidades dos eventos extremos”, como as cheias, e apontou que o Governo está a mitigar os efeitos das cheias “em várias zonas do país”, como em Algés ou Aveiro.
Graça Carvalho considerou que os túneis de drenagem de Lisboa “são a nossa obra emblemática”, mas lembrou que, “agora, é tempo de executar os projetos de água”, aludindo aos sucessivos atrasos que meteram este projeto “na gaveta” por quase 20 anos.
Comissária europeia “impressionada”
A Comissária Europeia Jéssica Roswall, responsável pelas áreas do Ambiente, Resiliência Hídrica e Economia Circular Competitiva, elogiou a atuação da Câmara de Lisboa, considerando que os túneis de Lisboa “são um projeto histórico”, mas também nas políticas de gestão do dossier da água na cidade.
“Quero dizer que a resiliência em matéria de água é uma das prioridades da Comissão Europeia. Projetos como este são um exemplo, porque precisamos de ação. Estou muito impressionada com isto”, declarou, anotando que a cidade “está alinhada” com as preocupações na gestão dos recursos hídricos do velho continente.
E exortou os estados-membros para “atuarem” com medidas alinhadas com os objetivos de sustentabilidade preconizados pela UE.
O primeiro projeto seria anunciado em 2006 (no tempo da liderança de Carmona Rodrigues, do PSD), mas só avançou em 2015, com Fernando Medina (PS) na presidência da autarquia, mas as grandes intervenções, nomeadamente a construção de túneis, só arrancaram em 2023 sob a presidência de Carlos Moedas (PSD).
Os túneis são compostos por dois percursos: Monsanto – Santa Apolónia (TMSA) e Chelas – Beato (TCB).