A Câmara de Lisboa inaugurou esta quinta-feira, dia 25 de julho, o Parque Papa Francisco, em memória dos “momentos únicos de união” ocorridos no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2023.
A inauguração do Parque Papa Francisco, anteriormente designado de Parque Tejo, espaço verde que liga Lisboa ao concelho vizinho de Loures, ocorreu no palco-altar da JMJ e foi realizada no âmbito do 16.º World Scout Moot, um evento que reúne milhares de escuteiros de todo o mundo, que estão acampados no local, no dia 25 de julho.
O Papa Leão XIV associa-se à inauguração do Parque Papa Francisco, enviando uma mensagem lida pelo encarregado de negócios da Nunciatura Apostólica, monsenhor José António Teixeira Alves, que transmitiu uma mensagem, manifestando a vontade de que o apelo à paz do antecessor se eternize.
O atual sucessor do Papa Francisco formula votos de que, com o ato de vincular o espaço onde decorreu a última fase da JMJ à figura inspiradora do Papa Francisco, “se perpetue o eco do seu veemente apelo à paz, à convivência fraterna, à construção de pontes, ao diálogo entre gerações, ao cuidado da natureza, à oferta de uma sólida esperança para os nossos jovens e crianças”.
O Papa Leão XIV agradeceu a quem teve “tão nobre iniciativa” de atribuir o nome do Papa Francisco ao Parque Tejo, que acolheu a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, associando-se ao momento e saudando todos os que nele participam.
O sumo pontífice “revive com gratidão os lindos momentos passados em Portugal e recorda o rosto feliz do Papa Francisco no meio dos jovens de todas as partes do mundo, marcados pelas mais variadas culturas e unidos pela mesma alegria”.
O Papa norte-americano recordou o momento da vigília durante a JMJ Lisboa 2023, a 5 de agosto, em que naquela zona ribeirinha, Francisco “desafiou os presentes a pensar em alguém que tivesse sido nas suas vidas um raio de luz”.
No final da mensagem, confiante de que o testemunho do seu antecessor será guardado, o Papa Leão XIV, com sentimentos de viva comunhão, assegurou nas suas orações uma particular lembrança de D. Rui Valério e de todos os habitantes da zona metropolitana de Lisboa e, de bom grado, invocou “sobre as respetivas autoridades civis, eclesiásticas e militares copiosas bênçãos celestiais”.
A cerimónia ficou marcada pelo descerramento de uma placa evocativa da atribuição do topónimo “Parque Papa Francisco”, das intervenções de D. Rui Valério, que abençoou o espaço.
O patriarca de Lisboa considerou a homenagem ao Papa Francisco como “um gesto profético”, lembrando a capacidade que teve de juntar “pessoas oriundas de todas as proveniências” durante a JMJ: “Não é apenas um memorial à paz, mas o Parque Papa Francisco quer ser uma fonte [de] inspiração para a paz”, considerando que este espaço denuncia também as situações onde a paz ainda não existe, desde a Ucrânia a Gaza.
Acompanhado do patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, que abençoou o Parque Papa Francisco e [do] cardeal D. Américo Aguiar, o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, lembrou a JMJ como um evento que foi “além da igreja católica, que tocou todas as religiões, que tocou todos os cidadãos desta cidade”.
O autarca agradeceu a mensagem do sumo pontífice e considerou que as palavras do Papa Leão XIV “tocam-nos a todos”, e aproveitou para convidar o Papa para fazer uma visita a Lisboa.
“Hoje, com a presente homenagem, evocar a pessoa luminosa de Francisco não faz olhar só para trás, mas convoca a promover a cultura da amizade social de abertura a todos, todos, todos, com uma particular preferência pelos pobres, tal como o ensina Jesus Cristo”, destacou.
Memórias do Papa argentino
Ao relembrar as JMJ, Carlos Moedas realçou a marca “inesquecível” do Papa Francisco, que em 2023 juntou 1,5 milhões de pessoas em Lisboa durante a JMJ, em que se viveram “momentos únicos de união, de união da cidade, de união do mundo”.
“Nós tínhamos de agradecer ao Papa Francisco, dando-lhe o nome deste parque”, afirmou Moedas, destacando a mensagem de união e de paz durante a JMJ, resumida a: “Todos, todos, todos”.
O “choque” transformado nas “melhores JMJ de sempre”
O Parque Papa Francisco, na parte de Lisboa, tem 30 hectares de espaço verde, que já pode ser utilizado pela população, mas que a câmara pretende “melhorar e ter mais projetos”, excluindo betão.
Em crítica implícita à liderança do socialista Fernando Medina no Município, Carlos Moedas relembrou que, quando chegou à Câmara Municipal de Lisboa, “fiquei quase em choque: a dois anos da Jornada, este parque era um descampado onde só havia algumas estacas”.
Ainda assim, “não nos impediu de sonhar em fazer a Jornada Mundial de Juventude mais bem organizada de sempre”, trabalhando “todos juntos”, Igreja, Câmara Municipal, Proteção Civil, Bombeiros, Polícia Municipal, “conseguimos tornar possível o que parecia ser impossível”.
As declarações de Carlos Moedas para se referir à realidade encontrada nos terrenos das JMJ, que “encontrou um descampado com algumas estacas”, não caíram bem entre os vereadores socialistas presentes.
“Obra inacabada”
Em declarações ao “Olhares de Lisboa” no final da cerimónia, Pedro Anastácio, vereador do Partido Socialista, elogiou, com ironia, a “habilidade comunicacional do sr. presidente Moedas, que teve a feliz coincidência de marcar esta inauguração durante o encontro mundial de escuteiros”, sublinha, acrescentando: “se as pessoas vierem cá a um dia de semana, vão constatar que o projeto, que foi pensado para ser uma grande infraestrutura verde de Lisboa, não está a ser percecionado como tal pela cidade”, pois “não houve o investimento de infraestruturas que beneficiem as famílias”, como um parque infantil, um quiosque, restauração, locais com sombras.
O vereador socialista diz, aliás, que “a obra feita no parque”, como a requalificação do aterro de Beirolas e a própria ponte que faz a travessia sobre o rio Trancão para o lado de Loures, foram feitas através de concurso público “pelo Executivo socialista de Fernando Medina”.
“Este tipo de ações são um exemplo perfeito da forma de trabalhar de Carlos Moedas. Recebeu (a obra) e, em vez de continuar aquilo que estava preconizado para transformar esta infraestrutura num grande espaço ao serviço das famílias, deixa uma obra inacabada”, atira, acentuando que o Parque Papa Francisco mereceria outro cuidado e atenção “para que as famílias usufruíssem de um projeto que foi pensado para elas”, mas que Carlos Moedas terá deixado cair, segundo Pedro Anastácio.