Moedas entrega Medalha de Honra a Manuela Eanes

O Salão Nobre dos Paços do Concelho foi palco da cerimónia em que a Câmara Municipal de Lisboa entregou esta terça-feira a Medalha de Honra da Cidade à antiga primeira‑dama Manuela Eanes, uma “figura indelével da sociedade”, em reconhecimento do seu empenho nas causas sociais, especialmente na defesa dos direitos das crianças.

A Câmara Municipal de Lisboa homenageou esta terça-feira Manuela Eanes com a Medalha de Honra da Cidade em reconhecimento do seu empenho nas causas sociais, tendo fundado o Instituto de Apoio à Criança, e diversos projetos de apoio a crianças maltratadas e abusadas.

Na cerimónia, em que estiveram presentes o general Ramalho Eanes, os Conselheiros de Estado Leonor Beleza e Marques Mendes, um porta-voz dos alunos do IAC, agradeceu com “um grande Obrigado” a Manuela Eanes por ter criado “há 42 anos o Instituto em defesa dos direitos das crianças”.

“Só existimos quando existimos para os outros”, respondeu Manuela Eanes que, citando Nelson Mandela, salientou: “as crianças são o mais belo projeto da humanidade e, por isso, é necessário cuidar delas”.

“Com saber técnico e amor continuamos a implementar a utopia de servir a Criança”, afirmou Manuela Eanes, sublinhando que o Instituto de Apoio à Criança foi fundado em 1983 no Palácio de Belém, durante o segundo mandato presidencial do general Ramalho Eanes, com o objetivo fundamental do “desenvolvimento integral da Criança e a Defesa dos seus Direitos, procurando em cada momento ser a voz que chama a atenção, pressiona, atua, realiza ações que ajudem a que mais Crianças vivam com alegria o tempo de ser Crianças”. De salientar que o IAC foi criado em 1983 e só em 1989 foi aprovada pelas Nações Unidas a Convenção dos Direitos da Criança.

Manuela Eanes, lembrando o dramaturgo e filósofo francês Molière, afirmou: “só existimos quando existimos para os outros”, para explicar o seu amor e dedicação em defesa de melhores condições, de mais bem-estar, e de mais dignidade para a infância.

A fundadora do Instituto de Apoio à Criança recordou que foi “com o nosso impulso que, pela primeira vez, se falou pública e pluridisciplinarmente de problemas gravíssimos que atingem as nossas crianças como por exemplo a criança maltratada e vítima de abuso sexual, assim como a divulgação de experiências de intervenção comunitária e as várias formas de acolhimento às crianças em idade pré-escolar”.

Citando Agustina Bessa Luís, Manuela Eanes falou ainda da “civilização de afeto” e lembrou, como dizia Nelson Mandela, que a “esperança reside nas crianças”. A antiga Primeira Dama portuguesa fez questão de salientar que trabalhou sempre “com grandes equipas” e que “não há ninguém no IAC que trabalhe por obrigação. Todos que trabalham no Instituto fazem-no pelo grande amor à criança”.

Mulher de causas que ouvia as pessoas

Por seu turno, Carlos Moedas salientou que a medalha agora entregue pretendeu destacar a mudança “na forma de ver a figura da Primeira-Dama para Portugal, que fez da figura da Primeira-Dama algo novo e inédito, que defendia causas, que ouvia as pessoas”.

“Ao longo de toda a vida, Manuela Eanes falou com firmeza e sem filtros sobre a pobreza e maus-tratos infantis, rompendo com tradições, nomeadamente relativamente ao papel da primeira-dama, o qual usou em prol das causas sociais”, afirmou Carlos Moedas.

“Todos temos de agradecer-lhe profundamente”, disse Carlos Moedas, destacando a coragem e a generosidade de Manuela Eanes, o “seu trabalho pioneiro na defesa da criança e em especial das crianças que viviam na rua”. Foi precisamente por isso, acrescentou, que “decidimos dar o nome à nova creche do Bairro de Madre de Deus. O seu bairro”.

Maria Manuela Duarte Neto Portugal Ramalho Eanes licenciou-se em Direito, pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, momento em que “despontou e se tornou visível a sua vocação para as causas sociais”, tendo sido presidente da Juventude Universitária Católica.

Nas décadas de 60 e 70 esteve ligada ao Ministério da Saúde e Assistência, nomeadamente ao Instituto das Obras Sociais – promovendo a assistência à população mais vulnerável, com as cantinas escolares, infantários/creches e subsídios de velhice e invalidez para antigos regentes escolares.

Direitos das crianças

Em 1970 casou com António Ramalho Eanes, que viria a ser eleito como o 16.º Presidente da República, exercendo o cargo entre 1976 e 1986. Como Primeira-Dama, Manuela Eanes destacou-se pelo seu empenho nas causas sociais, especialmente na defesa dos direitos das crianças.

Em 1983, apoiada pela sua experiência anterior, fundou o Instituto de Apoio à Criança (IAC), que se dedica à promoção e defesa dos direitos da criança, tanto na área da saúde e da segurança social como nos temas relacionados com os seus tempos livres. Foi sua presidente até 2013, quando se tornou presidente honorária.

Reunindo profissionais de diversas áreas, para levar a cabo a sua missão, Manuela Eanes, criou diversos projetos nomeadamente para apoio a crianças maltratadas e abusadas sexualmente: os Serviços SOS-Criança/Criança Desaparecida; Projeto Rua/Em Família para Crescer; Atividade Lúdica; Serviço Jurídico; Humanização dos Serviços de Atendimento à Criança em Serviços de Saúde e um Centro de Estudos e Documentação sobre a Infância.

Numa entrevista em 2019, afirmou: “Estamos num mundo desumanizado e indiferente (…) e é um mundo de grandes contrastes. Temos de pensar que não podemos mudar o mundo, mas que podemos mudar o ambiente para um ambiente de tolerância e de solidariedade com as pessoas que estão à nossa volta, seja na família, no trabalho ou na comunidade. Não se pode mudar o mundo, mas não vamos ficar de braços cruzados.”

 

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