Primeiro satélite construído em Portugal celebra um ano em órbita

Satélite O ISTSat-1, desenvolvido em Oeiras, já orbitou a Terra aproximadamente 5500 vezes e continua operacional. Depois de um ano a resolver problemas de comunicação, está quase pronto para começar a recolher sinais dos aviões.

O ISTSat-1, o primeiro satélite totalmente desenvolvido em Portugal, completa, este mês, um ano em órbita. Às 19h (UTC) de dia 9 de julho cumpriu-se também um ano sobre o início do bem-sucedido voo inaugural do foguetão Ariane 6, que levava a bordo o primeiro satélite universitário português, desenvolvido por estudantes e professores do Instituto Superior Técnico.

“Foi um marco importante para o IST, para a Academia Portuguesa, para Oeiras e, seguramente, para o sector do Espaço em Portugal”, defende Rui Rocha, professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) do Técnico, investigador no Instituto de Telecomunicações (IT) e diretor e um dos fundadores do IST NanosatLab.

5500 “voltas” à Terra

Nestes 365 dias no Espaço, o ISTSat-1 sobrevoou o campus Oeiras do Técnico, sua casa mãe, cerca de 1460 vezes e orbitou a Terra aproximadamente 5500 vezes. O ISTSat-1 está a 580 km da Terra – órbita baixa – e tem por missão descodificar mensagens enviadas por aviões, de modo a testar a capacidade de deteção da presença de aviões, em zonas remotas.

Ao longo deste ano, a equipa tem estado a superar um desafio inesperado. “Por problemas inerentes à ligação do rádio às antenas de transmissão de telemetria, a receção de sinais a partir de órbita revelou-se problemática. Teve então a equipa de procurar soluções que permitissem, em Terra, melhorar as condições de operação do ISTSat-1”, explica Rui Rocha.

“A resolução contínua de problemas é o que diferencia os estudantes, professores e investigadores do Técnico. Estão duplamente de parabéns por termos um satélite há um ano em órbita e por continuarmos a superar-nos para que o mesmo atinja os seus objetivos”, vaticina Rogério Colaço, presidente do Técnico.

Comunicação operacional

De acordo com o Técnico, a comunicação com o ISTSat-1 continua operacional e o esforço para solucionar o problema de comunicação passou pela construção de antenas gigantes (e sua recuperação após a passagem de algumas tempestades em 2024), até ao estabelecimento de outras estações de solo.

“Contando com a colaboração da comunidade radio-amadorística, vários foram os esforços desenvolvidos pela equipa e por radioamadores amigos. Em resultado destes esforços, e assim que o tempo o permitiu, a equipa teve sucesso em ligar todos os sub-sistemas a bordo e verificar que se conseguia atingir o modo nominal de funcionamento”, explica Rui Rocha.

As baterias do satélite construído no Instituto Superior Técnico mantêm-se também operacionais e os dados transmitidos, que têm sido descodificados com recurso a um agregado de antenas yagi (antenas direcionais para captação de ondas eletromagnéticas), instalado no campus Oeiras, permite assegurar que o mesmo não está a rodopiar de forma descontrolada no Espaço.

Para Rui Rocha, “este aniversário marca, pois, o atingir da situação porque todos esperávamos há muito: as condições para testar o descodificador de mensagens ADS-B, estando cada vez mais próximos do início da execução da missão para que o satélite foi desenhado: a programação das zonas de recolha de sinais de ADS-B dos aviões e a recolha desses dados que serão posteriormente analisados em Terra”.

O projeto teve o suporte financeiro do Instituto Superior Técnico, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID), do Instituto de Telecomunicações (IT), bem como do Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC). Contou também com a participação de elementos do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR-Lisboa), bem como com o apoio de várias empresas ligadas ao sector. O NanosatLab é um consórcio liderado pelo INESC-ID e dirigido por Rui Rocha (IT) e Gonçalo Tavares (INESC-ID).

Foto: Instituto Superior Técnico.

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