Ricardo Leão publicou um vídeo nas redes sociais para dar conta da sua posição relativamente à polémica gerada com o derrube das barracas do Talude Militar. O autarca assume que “não vai recuar” e reitera que não aceita que movimentos políticos ou figuras públicas “se aproveitem da pobreza e da fragilidade de algumas pessoas apenas para ganhar protagonismo”.
Acossado por uma onda de críticas relativas à sua intervenção no Bairro do Talude Militar, que têm proliferado nos últimos dias na comunicação social, o presidente da Câmara de Loures, o socialista Ricardo Leão, publicou um vídeo para “pôr a limpo” a decisão de demolir dezenas de habitações ilegais, uma medida que gerou críticas, mesmo no seio do PS.
Leão recusou-se a recuar, apesar do inquérito aberto pelo Ministério Público esta quarta-feira, e criticou os seus opositores: “Promover a desordem não é ser solidário, é ser cúmplice de um ciclo de exclusão e de injustiça”.
Em entrevista recente ao nosso jornal, Leão sustentou que “há redes criminosas” que estarão a operar neste tipo de edificações ilegais em Loures, vendendo as barracas a “4 ou 5 mil euros” a migrantes.
E deu como exemplo a situação encontrada numa das barracas, que, entretanto, já foi demolida: “Encontrámos um bilhete de avião de uma pessoa que tinha chegado no dia anterior…”, pelo que ficou “claro” que estes negócios estarão a proliferar e a aproveitar a precariedade de quem vem à procura de uma vida melhor, mas se depara com condições degradantes, diz Leão.
Na intervenção das redes sociais, Leão começou por justificar a necessidade de esclarecer o sucedido. “As notícias dos últimos dias exigem um esclarecimento da minha parte sobre um problema complexo que temos. Não posso aceitar que movimentos políticos ou figuras públicas se aproveitem da pobreza e da fragilidade de algumas pessoas apenas para ganhar protagonismo”, explicou.
O autarca sublinhou a sua responsabilidade em agir para evitar tragédias: “Em nome da segurança e da dignidade humanas, não aceito que ninguém viva nessas condições”.
“Aproveitamento” da “pobreza”
Ao defender a decisão de demolir as construções ilegais, Leão criticou, também, quem se aproveita da pobreza para “ganhar protagonismo ou alimentar causas populistas”.
“Há movimentos e associações e figuras públicas que em nome de uma suposta solidariedade acabam por promover a indignidade.
A ideia de que basta construir uma barraca, ocupar ilegalmente um terreno ou instalar sem regras para ter de imediato uma casa é profundamente desonesta para com as mais de mil famílias que estão em espera por habitação municipal, mas também para as que cumprem, que aguardam com dignidade e confiam nas regras e nas instituições”, disse.
Para Ricardo Leão, “justiça social não é dar a quem grita mais”, uma vez que as construções ilegais “colocam em causa a segurança, a salubridade e a dignidade das pessoas”.
O autarca alertou que o problema das construções ilegais não é exclusivo de Loures, mas sim uma “realidade que se repete em muitos concelhos da área metropolitana”, exigindo, por isso, “uma responsabilidade partilhada com o próprio Governo”.
A autarquia, reforçou Leão, já demoliu cerca de 250 construções idênticas desde 2021, mantendo a “intransigência” nesta matéria, com vista a “defender a segurança das pessoas” e “garantir condições mínimas de dignidade humana”.
“Justiça para todos”
Conforme a posição defendida na referida entrevista ao nosso jornal, a ideia de “justiça para todos” é central na argumentação de Leão. O autarca reitera que as mil famílias que estão em lista de espera para aceder à bolsa de habitação no concelho têm prioridade.
E critica a noção de que construir uma barraca confere “de imediato” o direito a uma casa, considerando-a injusta para aqueles que “aguardam com dignidade e confiança”.
O autarca sustenta que “Loures está ao lado de quem precisa, mas não abdicamos da justiça com critério”.
A reitera que a sua liderança está ao lado do “país real”, garantindo que a decisão não será revista.
Referindo-se às 55 famílias afetadas (das quais 10 têm demolições suspensas por providência cautelar), o autarca assegurou que todas foram “informadas e abordadas pessoalmente”.
Leão lamentou, contudo, que apenas 29 famílias tenham recorrido ao apoio social e que a maioria das 11 famílias com crianças tenha recusado as propostas de acolhimento da Linha 144.
Ricardo Leão revela que, das famílias “que nos procuraram, ninguém ficou sem resposta” e que “nenhuma pessoa ficou sem apoio”, tendo sido encontradas soluções como o pagamento de rendas ou a atribuição de vales alimentares.
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Foto: Arquivo OL