A cidade de Lisboa assinalou esta segunda-feira, 25 de agosto, o Dia do Bombeiro, com uma cerimónia de homenagem junto à lápide evocativa do incêndio do Chiado, ocorrido há 37 anos, que marcou profundamente a capital, sendo considerado uma das maiores catástrofes urbanas da capital portuguesa no século passado, mudando para sempre a paisagem daquela zona histórica e a forma como se combate o fogo em Portugal.
A Câmara Municipal de Lisboa e o Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa (RSBL) – o corpo de bombeiros mais antigo do país – realizou na Rua do Carmo, uma cerimónia de homenagem aos Bombeiros do Município, junto à lápide que assinala o trágico incêndio do Chiado, ocorrido há 37 anos, em 1988.
A cerimónia, que contou com a presença do presidente da autarquia, Carlos Moedas, teve início às 10h30 com a deposição de uma coroa de flores em memória dos bombeiros que combateram e dos que faleceram no incêndio. Seguiu-se o cerimonial de homenagem com os tradicionais toques de silêncio e alvorada.
O objetivo da iniciativa foi homenagear a perseverança, o altruísmo e o esforço diário dos Bombeiros do Município de Lisboa — homens e mulheres que, muitas vezes, colocam a própria vida em risco para proteger pessoas, bens, animais e o ambiente.
No local foi montada uma exposição estática de viaturas de socorro, que integram os meios operacionais do RSBL.
A pior catástrofe desde o terramoto
“Hoje, neste Dia Municipal de Bombeiro, invocamos um momento que marcou para sempre a história da nossa cidade. Foi exatamente há 37 anos, naquela madrugada de 25 de Agosto de 1988, a pior catástrofe que Lisboa viveu desde o terramoto. As chamas devastaram o coração de Lisboa”, afirmou Carlos Moedas durantes a intervenção na cerimónia.
“Mais de 20 edifícios destruídos, centenas desalojados, dezenas de feridos e duas vítimas mortais. Um deles, o nosso querido colega bombeiro, Joaquim Catana Ramos. Hoje, recordamos-lhe o seu nome com emoção. Ele tinha apenas 31 anos, a lutar por nós lisboetas, a lutar contra este flagelo…morreu em serviço. É a nossa obrigação, é o nosso dever, é a nossa missão recordá-lo sempre.
De facto, na madrugada de 25 de agosto de 1988, um incêndio deflagrou nos então extintos armazéns Grandella, no Chiado, destruindo 18 edifícios, muitos deles históricos. A tragédia provocou duas vítimas mortais — um bombeiro, Joaquim Ramos, de 31 anos, e um residente, um eletricista reformado do Arsenal da Marinha com cerca de 70 anos — e deixou mais de 50 feridos. Além disso, cinco famílias, num total de 21 pessoas, foram desalojadas e cerca de duas mil pessoas ficaram desempregadas devido à destruição de negócios locais.
Na sua intervenção, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, evocou os bombeiros que tombaram em serviço “a lutar por nós, lisboetas. É a nossa obrigação, o nosso dever e a nossa missão recordá-los sempre”, salientando a necessidade de atribuir mais meios, mais apoios, aos “nossos bombeiros voluntários, para que cumpram diligentemente esta missão, e queremos fazer mais. Este executivo está do vosso lado”.
Entretanto, num comunicado enviado após a cerimónia, a Câmara de Lisboa anunciou a duplicação do número de meios afetos à emergência pré-hospitalar em permanência, a partir de 01 de setembro, que passa assim a contar com 12 Ambulâncias de Socorro dos Bombeiros Voluntários da cidade para apoio direto ao INEM.
Esse reforço insere-se no Dispositivo Integrado Permanente de Emergência Pré-Hospitalar (DIPEPH), coordenado pelo Serviço Municipal de Proteção Civil (SMPC), “que garante um modelo de coordenação, gestão centralizada e otimizada dos meios de emergência pré-hospitalar disponibilizados pelas seis associações humanitárias de bombeiros voluntários da cidade de Lisboa”.
Investimento nos bombeiros
“Jamais podem ser esquecidos. É a dor que nos atravessa a alma, mas também um profundo agradecimento e admiração por quem nos protege”, sublinhou o autarca.
Carlos Moedas destacou o investimento realizado na corporação, com o reforço do número de profissionais, que já ultrapassam os mil operacionais, novos concursos a decorrer e a construção do maior centro de operações e formação, em Chelas. “Tenho um grande orgulho em poder dizer que em Lisboa temos os melhores bombeiros do mundo”, afirmou o autarca que salientou ainda que, durante o seu mandato foram reabilitados dois quartéis do RSB e construídos dois novos quartéis para os bombeiros voluntários na Ajuda e no Beato.
A cerimónia acontece num momento em que Portugal continua a ser assolado por incêndios florestais de grande dimensão, colocando à prova a capacidade de resposta das corporações e levantando a questão dos apoios financeiros e logísticos ao setor. Apesar das recentes medidas anunciadas pelo Governo, muitas corporações continuam a alertar para a escassez de recursos.
“Mas hoje, o nosso país vive mais de uma vez a tragédia dos incêndios florestais, mais uma vez continuamos esta guerra contra os incêndios, que consomem o nosso país, que destroem o nosso coração. E no meio desta tragédia, mais um dos nossos, mais um dos vossos, o bombeiro Daniel Agrelo perdeu a sua vida, a lutar por nós portugueses. Neste dia, prestamos-lhe homenagem. Como Joaquim Catana Ramos, ele jamais será esquecido”, sublinha Carlos Moedas.
Tragédia do Chiado mudou forma de atuar dos bombeiros
Por seu turno, o comandante do RSB, Alexandre Rodrigues, afirmou aos jornalistas que “a tragédia do incêndio do Chiado tornou-se um ponto de viragem na forma como os fogos urbanos são combatidos em Portugal. Desde então, evoluiu-se significativamente na organização do teatro de operações, nos postos de comando e nos meios utilizados pelos bombeiros. Assim como na legislação.
No entanto, como defendeu, apesar dos avanços técnicos e operacionais, os acessos continuam a ser o maior desafio para a intervenção rápida em bairros antigos, onde ruas estreitas, tráfego intenso e estacionamento desordenado dificultam a chegada de veículos e equipamentos essenciais.
Por outro lado, e a semelhança do que disse Carlos Moedas, o comandante Alexandre Rodrigues recordou que o RSB de Lisboa tem uma participação ativa e fundamental no combate a fogos florestais em Portugal, integrando o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (DECIR). Trinta e um operacionais do RSB e 10 viaturas estiveram, em permanência, mobilizados para proteger populações, aldeias e florestas em áreas afetadas por incêndios rurais, como as recentes missões em Pedrógão Grande, Sátão, Arganil e Vila Real.
O RSBL é uma unidade profissional integrada na estrutura da Câmara de Lisboa, composta por 1112 operacionais, com mais de 150 viaturas e 11 quartéis estrategicamente distribuídos pela cidade. Para além da sua missão em Lisboa, está apto a intervir em qualquer ponto do país ou no estrangeiro, sempre que solicitado.
Nr: Notícia atualizada às 22 horas e 53 minutos de 25/08/2025