O presidente da Câmara da Amadora, Vítor Ferreira, enaltece a multiculturalidade do território e a capacidade de acolhimento e de integração da Amadora. Em declarações exclusivas ao nosso jornal, manifesta a suas posições sobre a polémica da demolição da Cova da Moura, criticando a candidata do PSD por se mover “apenas por demagogia”.
A cidade da Amadora “engalanou-se” para celebrar o 46º aniversário do município, no dia 11 de setembro. No âmbito das comemorações, teve lugar no exterior dos Paços do Concelho a cerimónia do Hastear da Bandeira, que contou com a participação da Banda de Música da Sociedade Filarmónica Comércio e Indústria da Amadora, interpretando o hino nacional.
No discurso protocolar, o presidente da Câmara Municipal da Amadora começou por avisar que, “por respeito ao período eleitoral que vivemos a minha intervenção assume, hoje, um formato distinto do habitual”, mas assinalou que, ainda assim, “este é um dia a demasiado significativo” e que merece ser celebrado.
Vítor Ferreira lembrou que o quadragésimo sexto aniversário do Município da Amadora, representa a celebração de “uma cidade imensa na sua capacidade de acolhimento”.
“Neste aniversário, vou salientar aquilo que torna a Amadora ímpar: um município onde cabem todos os a procuram, onde as diversas origens se misturam e criam laços, novas histórias e sonham com novos futuros”.
Para o autarca, a posição estratégica da Amadora na Área Metropolitana de Lisboa e as suas gentes “conferem à nossa cidade uma vivacidade que nos diferencia do resto país”.
Vítor Ferreira sublinhou que a Amadora, não podendo crescer em território, “cabe-nos crescer em ideias, em inovação, em qualidade de vida, para todos os que aqui residem ou trabalham. Seguimos o exemplo das mulheres e homens que, desde cedo, reclamaram para a Amadora identidade, afirmação e futuro próprio”.
Em apontamento sobre o multicuralismo da Amadora, o presidente da CMA enalteceu os valores que “unem” a comunidade, como a coexistência entre as várias culturas.
“Hoje é tempo de enaltecer o que nos une – o mosaico das comunidades, o colorido das culturas, a força dos laços que aqui se criam e nos enchem de esperança”.
Na visão de Vítor Ferreira, cada esquina da Amadora “encerra trabalho, criatividade, generosidade e memórias de todos nós”.
A arte de acolher e integrar
Em declarações ao “Olhares de Lisboa”, o autarca reiterou o facto de a Amadora constituir um “mosaico” de culturas e de nacionalidades, mas apontou que não basta o concelho ser apenas o ponto de chegada de várias culturas, é preciso acolher e integrar, algo que tem sido feito “de forma exemplar” pelo território.
“A cidade da Amadora, neste momento, tem 110 nacionalidades a viver no nosso território. Já teve, em tempos, uma migração de alentejanos, beirões, algarvios, transmontanos, que vieram para aqui contruir as suas vidas. Amadora sempre foi um território que sabe acolher bem, mas, acima de tudo, bem integrar a que nos procura”, sublinhou.
A esta visão, acrescentou que a integração, de todos, “é a grande matriz deste concelho. Esse trabalho tem sido feito ao longo de muitos anos, é uma das grandes conquistas da Amadora. A Amadora é um grande mosaico humano que foi construído ao longo dos anos”.
Cova da Moura na mira
Questionado sobre o projeto da candidata de direita Suzana Garcia querer demolir a Cova da Moura — a candidata do PSD à Câmara da Amadora revelou estar a trabalhar com o Governo para erradicar a Cova da Moura, num plano que prevê demolir o bairro e realojar mais de duas mil famílias –, Vítor Ferreira mostrou-se desconfortável e hesitou em dar uma resposta, por não querer ser admoestado pela Comissão Nacional de Eleições.
Mas lembrou, porém, que a sua adversária “utiliza os programas de televisão para fazer campanha” e que ele próprio já tinha dado uma entrevista ao jornal “Expresso” a manifestar a sua posição, pelo que não haveria de vir mal ao mundo pelas suas explicações.
Preço dos terrenos sobrevalorizado
Para contextualizar, o autarca explicou que, aquando da construção da cidade da Amadora, em 1979, existiam 35 bairros degradados, em condições indignas para mais de 26 mil pessoas. “O Partido Socialista, em 1988, chegou à Câmara e resolveu praticamente o problema de todos os bairros. Aquilo resta é a Estrada Militar da Damaia e a Cova da Moura. A Cova da Moura é território de propriedade privada. Os proprietários querem vender essa propriedade e é preciso negociar. Juntamente com os proprietários, os moradores, as associações locais e o Governo Central, é preciso sentarmo-nos à mesa para resolver esta questão”.
Reunir consensos
Vítor Ferreira recorda, porém, que já houve um plano do anterior Governo, liderado pelo PS, em incluir a Cova da Moura na operação dos Bairro Críticos, mas a medida acabou por não avançar, pelo que urge “reunir todos os interessados” para “se chegar a um consenso” para resolver o problema, assumindo que “está disponível para ouvir toda a gente”.
Ainda assim, o autarca considera que o projeto da candidata Suzana Garcia “não passa de demagogia política”, uma vez que “que diz que, em 4 anos, erradica o bairro todo, o que é completamente impossível”. “Neste momento, residem na Cova da Moura 7 mil pessoas. Só para a demolição, seriam necessários 7 milhões de euros. E as pessoas vão viver para onde? Não se pode resolver uma questão destas em 4 anos”, defende o edil.
Foco na Cova Moura
Apesar da complexidade da resolução do problema deste bairro, Vítor Ferreira esclarece que, após o término da intervenção da Estrada Militar da Damaia e da Quinta da Laje, o “grande foco” da CMA “é a Cova da Moura”.
Para o autarca, “é preciso encontrar uma solução de consenso para aquele bairro. Não se pode chegar lá e dizer ‘agora vamos demolir tudo’, porque isso é demagogia política, é impensável”, até porque a demolição total do bairro e a posterior construção dos 662 fogos novos, que é aquilo que é possível construir à luz do Plano Diretor Municipal, bem como os arruamentos, a construção de equipamentos, “custaria 175 milhões de euros”, aos cofres da autarquia. Ademais, a construção dos 662 fogos que resultaria da reconstrução do bairro “não resolveria o problema de habitação da população que lá vive”.
Acresce que o preço dos terrenos do bairro, segundo Vítor Ferreira, está inflacionado. “Tivemos uma reunião com os proprietários, há dois anos, e não chegámos a acordo. Os donos dos terrenos queriam 14,7 milhões de euros pelo terreno e a Câmara não está para isso, pois fizemos uma avaliação do terreno de que resultou um valor substancialmente abaixo do pedido pelos proprietários, 9,2 milhões de euros”.
Demolição de construções ilegais
Relativamente à polémica da demolição de algumas casas ilegais na Amadora, Vítor Ferreira esclarece que a Câmara cumpriu a legislação. “Demolimos 7 construções ilegais no Bairro de Santa Filomena. Este bairro já tinha sido extinto há uma série de anos. Os contribuintes da Amadora pagaram uma fortuna para resolver aquele problema. Não posso admitir que, no ano de 2025, numa área que já estava erradicada, se façam construções ilegais, até porque muitas delas nem são construções habitacionais, são verdadeiras barracas. Como é possível que no século XXI se aceite que pessoas possam pôr os seus filhos a dormir em amontados de zinco e madeira? É inaceitável”, atira, acrescentado que as pessoas que vieram ocupar os terrenos do Bairro de Santa Filomena “vieram de fora, de outros territórios, e não podemos aceitar uma situação deste cariz”.
Filho da terra
Vítor Ferreira apanhou com comboio da liderança da CMA “a meio”, pela mudança para Bruxelas da anterior presidente Carla Tavares, mas assume que, por ser filho da terra e de ter desempenhado as funções arquiteto no município, conhece “todos os problemas e soluções” como a palma das mãos.
Confiante na vitória nas eleições de 12 de outubro, Vítor Ferreira anuncia que tem um projeto “para uma década” para o concelho, que passa pelo reforço na higiene urbana e na transferência de competências para as juntas de freguesia, mas põe nas mãos dos amadorenses a decisão final.