Alexandra Leitão acusa Moedas de confundir politização com escrutínio

Três semanas depois do acidente no elevador da Glória, a oposição quer que Carlos Moedas explique os dois incidentes que aconteceram no ano passado. Mas Moedas marcou a reunião para 13 de outubro. Mariana Leitão considera “estranho” que o autarca de Lisboa tenha convocado reunião extraordinária “para o dia seguinte às eleições” e acha lamentável que não esclareça “factos novos e gravíssimos”.

A candidata da coligação PS/Livre/BE/PAN à Câmara de Lisboa acusou esta segunda-feira – á margem de uma cerimónia de apresentação da candidata socialista á freguesia da Misericórdia, Carla Almeida – o presidente do município de confundir “politização com escrutínio democrático”, considerando lamentável a recusa em esclarecer “factos novos e gravíssimos” sobre o acidente com o elevador da Glória.

“Causa-me grande estranheza que esta reunião seja marcada para o dia seguinte às eleições com o argumento de não se politizar. Eu acho que o atual presidente da Câmara de Lisboa e também candidato – o que é um fator relevante – confunde politização com escrutínio democrático e, por mais que me queiram condicionar, eu não deixarei de dizer que são coisas diferentes”, declarou a cabeça de lista da coligação às eleições de 12 de outubro, Alexandra Leitão.

A candidata falava aos jornalistas após o presidente da Câmara de Lisboa, o social-democrata Carlos Moedas, ter recusado esta segunda-feira o pedido da oposição para uma reunião extraordinária na quinta-feira sobre o acidente com o elevador da Glória, tendo agendado o encontro para 13 de outubro, dia seguinte às autárquicas.

Carlos Moedas justificou a opção por esta data com o intuito de “não partidarizar um tema que deve merecer todos os esclarecimentos técnicos”, acusando o PS de ter visto “na tragédia do elevador da Glória uma oportunidade para tentar politizar e ganhar votos”.

O pedido do PS, subscrito também por Livre, BE e Cidadãos por Lisboa, para uma reunião extraordinária surgiu na sequência de duas reportagens da comunicação social, em que está em causa, nomeadamente, a “ocorrência de dois acidentes anteriores – em outubro de 2024 e maio de 2025 – que foram publicamente negados pelo presidente do Conselho de Administração (CA) da Carris e pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas que a própria Carris veio agora confirmar”.

Também o PCP considerou que há informações contraditórias quanto ao apuramento de responsabilidades sobre o acidente com o elevador da Glória e exigiu “o cabal esclarecimento” por parte do presidente da autarquia, inclusive sobre o concurso público lançado em 2022, “face ao preço anormalmente baixo apresentado pela empresa MNTC, Lda., que veio a ganhar o concurso para a execução de trabalhos de manutenção dos ascensores e elevador operados pela Carris”.

De acordo com o PCP, as recentes reportagens televisivas testemunham, contrariando o que foi afirmado e garantido pelo presidente da câmara e pelo CA da Carris, “a existência de evidências, inclusivamente documentais, que provam a apresentação, em momentos oportunos, de fundamentados alertas por parte de organizações representativas dos trabalhadores da Carris sobre um deficiente funcionamento de sistemas de segurança do elevador”, suscitando questões sobre a qualidade da manutenção efetuada.

Assim, os vereadores comunistas propuseram uma audição dos representantes das organizações representativas dos trabalhadores, uma nova audição do CA da Carris, para “clarificar as contradições” relativamente a aspetos do processo de manutenção, e uma audição com membros do anterior CA sobre as opções tomadas em concursos anteriores a 2022.

16 mortos e duas dezenas de feridos

O elevador da Glória, em Lisboa, sob gestão da empresa municipal Carris, descarrilou no dia 3 de setembro, num acidente que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.

“Estamos perante dois factos novos, e é por causa desses factos novos, posteriores às duas reuniões havidas, uma na Câmara e outra na Assembleia Municipal de Lisboa, que os partidos da oposição pediram uma reunião extraordinária da Câmara de Lisboa não para apressar os inquéritos, não para politizar nada, mas para discutir estes dois aspetos que são, objetivamente, muito relevantes”, destacou Alexandra Leitão.

O requerimento surgiu na sequência de duas reportagens da comunicação social, que dão conta da “ocorrência de dois acidentes anteriores – em outubro de 2024 e maio de 2025 – que foram publicamente negados pelo presidente do conselho de administração da Carris e pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, mas que a própria Carris veio agora confirmar”.

Antes da emissão das duas reportagens, a tragédia do elevador da Glória tinha sido abordada em duas reuniões camarárias extraordinárias, em 8 e 16 de setembro, e em Assembleia Municipal, no dia 9 do mesmo mês.

Factos novos

Para a candidata à autarquia da capital, estes são “factos novos, gravíssimos, importantíssimos” que têm de ser esclarecidos, considerando que Carlos Moedas evoca “o argumento da politização para se furtar a prestar esclarecimentos”, algo que a socialista define como “uma coisa muito lamentável”.

“Politizar é fazer aproveitamento político, era eu estar aqui a pedir demissões, a exigir coisas. Não estou a fazer nada disso. Eu só quero que na sede própria, os vereadores da oposição querem que na sede própria, que é a Câmara de Lisboa, se esclareçam novos factos vindos a lume por uma reportagem de uma cadeia de televisão e que são relevantíssimos”, insistiu.

Para Alexandra Leitão, os lisboetas têm direito de conhecer “ou de pelo menos ter respostas antes de irem votar no dia 12”.

“É importante que, quando alguém vai votar, tenha todos os elementos”, reiterou, detalhando que, nesse sentido, a sua candidatura está a “analisar as regras procedimentais aplicáveis ao caso para perceber em que termos” é que a reunião poderá ser antecipada para antes das eleições.

A candidata socialista lembrou que não tem “pedido a demissão de ninguém”, precisamente por querer os esclarecimentos que “estão agora a ser negados”, mas reconheceu que, caso seja eleita, vê “com dificuldades a manutenção do presidente do conselho da administração da Carris”, Pedro Bogas, “pela perda de confiança que tem com os lisboetas”.

 

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