Debaixo de um banho de afetos, a candidata e líder da coligação “Viver Lisboa” apresentou-se determinada e sem panos quentes para pedir uma vitória nas eleições autárquicas de 12 de outubro. A socialista, que citou uma música de Zeca Afonso, considera-se “melhor do que Moedas” para liderar a Câmara de uma cidade que necessita de uma injeção de adrenalina para mitigar as suas debilidades.
A sessão de apresentação do candidato socialista Jorge Marques à liderança da junta de freguesia da Ajuda transformou-se numa autêntica festa, terminando com todos os elementos da equipa de Jorge Marques, mas também Alexandra Leitão, em cima do palanque da coligação “Viver Lisboa” a dançar ao ritmo da música disco dos anos de 1980.
O presidente da Concelhia do Partido Socialista de Lisboa e deputado da Assembleia da República foi o primeiro a usar da palavra. Davide Amado começou logo por considerar que a Ajuda “não poderia ter melhor presidente que Jorge Marques”, um autarca “humano, que se preocupa verdadeiramente com os vizinhos, com todas as coletividades” da freguesia.
Mas rapidamente virou a página da sua intervenção. Fazendo uma crítica aos projetos “prometidos” para a Ajuda que ficaram na gaveta, nomeadamente a construção do Centro Intergeracional da Ajuda e do Pavilhão Multiusos, equipamentos que a Câmara Municipal “se comprometeu a fazer, mas não fez”.
Cidade “descuidada”
Para Davide Amado, a cidade de Lisboa “está descuidada, abandonada, as ruas, a falta de iluminação pública, a higiene urbana, as coisas mais básicas na gestão de uma Câmara, que não foram feitas”.
O deputado socialista considera que o “estado de abandono” a que a capital “foi votada”, merece uma mudança de 180 graus no dia 12 de outubro, nas eleições em que se vai decidir o futuro da cidade.
E “só há duas candidaturas” que têm a força necessária para vencer: a decisão dos eleitores vai escolher entre “Alexandra Leitão e Carlos Moedas”, segundo a visão do socialista.
As outras candidaturas, de “gritos” (Chega) e dos “amanhãs que cantam, mas já não voltam” (CDU), estarão fora da corrida pela liderança do município olissiponense, segundo Davide Amado.
O deputado lembra que, nos últimos meses, Alexandra Leitão “tem corrido a cidade de uma ponta à outra” para se inteirar dos problemas “reais” de quem vive em Lisboa”. Mas, agora, “apresenta as soluções” de que Lisboa “precisa” para emergir do “estado comatosa” em que alegadamente atualmente se encontra.
“As relações da Câmara com as juntas de freguesia estão paradas. Não há vontade de resolver problemas e criar soluções. A única coisa que este presidente (de câmara) faz, é dizer que deu uma verba às juntas, mas a verba é sempre a mesma e não tem em conta que tudo está muito mais caro e os orçamentos são sempre os mesmos”.
Na visão de Davide Amado, Carlos Moedas encarna o papel “da vitimização constante, mas a única vítima do seu marasmo é a própria cidade”, atira, terminando o discurso com o apelo no voto da coligação “Viver Lisboa”, lembrando a “importância” de os moradores não ficarem em casa e irem votar.
Alexandra Leitão (transfigurada) e determinada
Um dia depois do debate onde enfrentou Carlos Moedas (PSD), João Ferreira (CDU) e Bruno Mascarenhas (Chega) na SIC, a candidata à Câmara de Lisboa Alexandra Leitão (PS) surgiu com uma energia mais afirmativa, determinada, aparentando querer demarcar-se da imagem de “moderação” das últimas semanas. Com um discurso firme e, empolgada pelo apoio e as palavras de incentivo dos oradores, desferiu um cerrado “ataque” ao legado de Carlos Moedas nestes quatro anos de mandato.
Alexandra Leitão responsabiliza Carlos Moedas pela degradação de Lisboa. Mas assume que a coligação “Viver Lisboa” “não é contra ninguém” em particular. “Que Carlos Moedas não pense que é contra ele que nos candidatamos, porque ele não tem assim tanta importância…”
“Nós estamos que aqui pela cidade de Lisboa. É mesmo uma emergência. É por isso que vos peço que estejam presentes, e ‘levem um amigo também’, como diria o Zeca Afonso. Por que a cidade está desleixada, suja, e ninguém assume as responsabilidades. A culpa é dele (Carlos Moedas). E não vale a pena mudar a equipa (de vereadores) …”
Com um tom de voz firme, Alexandra Leitão descartou comparações com o seu rival mais direto na corrida pela liderança da autarquia. “Todos aqueles que acham que sou igual ao Carlos Moedas, estão a prejudicar a cidade”, porque “não somos, em nada, iguais”.
Para sublinhar as “diferenças” entre os dois candidatos, a socialista ilustra-as com exemplos relativos a projetos que estavam previstos para a freguesia da Ajuda e que, passados quatro anos, ainda não viram a luz do dia. Em concreto, a já referida construção do Centro Intergeracional da Ajuda e do Pavilhão Multiusos.
Ajuda “abandonada”
De resto, Alexandra Leitão considera que a Ajuda “tem sido abandonada” pela Câmara de Lisboa e que o atual presidente da junta de freguesia e recandidato ao cargo tem sido marginalizado pelo município.
“O Jorge (Marques) é um grande presidente. É solidário, vive com os seus vizinhos os seus problemas. Tem resistido a todas as dificuldades que a Câmara lhe tem posto, mas tenho a certeza de que o Jorge vai continuar a ser presidente”, anota.
A terminar, Alexandra Leitão comprometeu-se a levar adiante os projetos relativos à Ajuda que ficaram estagnados nos gabinetes do poder municipal.
“Tudo isto é possível com a derrota de Carlos Moedas. A vitória nas eleições será decidida entre mim e Carlos Moedas. Acredito que vou ser eu a ganhar as eleições. Sou melhor do que ele”, atira.
“A primeira mulher a presidir” o município
Muito elogiado por todos os presentes, o arquiteto Jorge Marques contou com uma plateia metamorfoseada numa força motriz para a sua campanha. As dezenas de moradores que vieram dar o seu apoio ao atual presidente, gritaram e aplaudiram sempre que o seu nome era citado nos discursos.
Depois de agradecer a todos os apoiantes e demais equipa, Jorge Marques retribuiu em elogios as palavras de Alexandra Leitão a seu respeito. “Tenho a certeza de será a primeira mulher a presidir à Câmara de Lisboa”, que porá a cidade “na rota certa”, mas também que “ouvirá as pessoas que não têm sido ouvidas”.
O autarca lembra que, nestes dois mandatos, “fizemos muito, investimos muitos, com grandes esforços”, até porque “resolvemos aquilo que competia à Câmara resolver”, designadamente a construção do Centro de Saúde da Ajuda, que substitui o antigo, sem condições de dignidade para servir as pessoas; a abertura do Casalinho Verde; a renovação dos espaços públicos, como jardins e parques de estacionamento, a abertura de serviços de proximidade, entre outros equipamentos.
Jorge Marques lembra, porém, que a Ajuda “tem sido esquecida” pelo poder municipal e que tem estado sozinha a “resolver os seus problemas”.
Reabilitar casas devolutas
O autarca aponta o dedo à gestão de Carlos Moedas, que, “em quatro anos não fez uma única casa de habitação pública na Ajuda”, nem nas freguesias vizinhas, mas reitera que a freguesia tem “muitas casas devolutas” que necessitam de uma intervenção urgente para solucionar o problema da habitação na Ajuda.
Jorge Marques compromete-se, assim, a “lutar pela construção do Centro Intergeracional, exigir que a Câmara reabilite as casas abandonadas, a lutar pela vinda de metro de superfície, que ficará para os moradores atuais e para aqueles que vêm a seguir, a bater-se pela reabilitação do Pavilhão Multiusos; pela reabilitação da ‘Torre do Galo’; para que a Carris aumente substancialmente as carreiras para a Ajuda”.
De acordo com o autarca, a junta de freguesia tem já “muitos projetos aprovados”, bastando apenas que a Câmara “avance”.
“Cada vota conta”
A fechar o discurso, Jorge Marques lembra que o seu executivo “promete e cumpre”, mas pede aos fregueses que não deixem cair a sua liderança nas mãos dos outros partidos. “Preciso de vocês. Preciso que vão para a rua e possam partilhar este projeto de futuro com os vossos amigos, familiares, vizinhos”.
O autarca, apesar de estar confiante, não embandeira em arco uma vitória antecipada. E recorda que “cada voto conta”.
“Sabemos bem aquilo que custou ficarem em casa (nas últimas autárquicas) e o os resultados” desse desinteresse, concretizou.
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