Durante dois dias, Isaltino Morais teve de subir e descer bancadas, percorrer corredores e caminhos de terra batida, subir a escadaria de um prédio sem elevador, ouvir os pedidos e as queixas dos dirigentes associativos e das pessoas nas ruas, nos clubes, nas empresas. A “presidência aberta à Isaltino” voltou à estrada e o edil considera que esta é a melhor forma de se inteirar dos problemas das pessoas.
O presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Isaltino Morais, retomou as habituais visitas ao concelho, acompanhado por dirigentes e elementos do executivo municipal, para ver no terreno alguns projetos e/ou necessidades que atualmente existem em Oeiras.
Numa espécie de “presidência aberta à Isaltino”, o autarca visitou Algés, Linda-a-Velha, Cruz Quebrada e Dafundo, Carnaxide e Queijas, nos dias 2 e 3 de setembro.
O Olhar Oeiras acompanhou as visitas no dia 3 de setembro em Carnaxide e Queijas. Isaltino Morais fez-se acompanhar pelo vereador Pedro Patacho e pelos arquitetos e engenheiros do Departamento de Obras Municipais de Oeiras.
Visita ao complexo desportivo do SCLV
A visita do 3 de setembro foi iniciada com uma paragem nas instalações do Sporting Clube de Linda-a-Velha, uma instituição reconhecida pela Federação Portuguesa de Futebol como “clube formador” — ostenta ainda a bandeira da Ética e da Inclusão, tendo atualmente 320 atletas, com 300 miúdos na formação.
Antes de intervir, logo à chegada, Isaltino Morais informou os dirigentes que a “visita não tem a nada a ver com as eleições”.
A nova direção, encabeçada por Nuno Branco, mostrou o projeto para a reconstrução do complexo desportivo. Nuno Branco começou por pedir a construção de uma bancada nova, de 900 lugares, à qual Isaltino Morais torceu o nariz por este tipo de clubes, que trabalham na formação, “não precisarem de bancadas tão grandes”, mas não fechou a porta a uma obra de “melhoramento das bancadas”.
Nuno Branco apontou então para outra “prioridade”. O aproveitamento de um dos relvados de treino, de menor dimensão, ser convertido num recinto da prática de padel. O dirigente desportivo explicou que a reconversão desse campo seria “uma boa fonte de receitas” para o clube, mas Isaltino Morais, numa primeira reação, chutou a ideia para canto.
Também o relvado está danificado e necessita de ser substituído por um novo. Isaltino Morais quis saber as razões para a deterioração do piso, questionando se o mesmo “é regado?”. O presidente do clube admitiu que não tem sido regado com a frequência necessária, uma vez que a bomba de água “está avariada”.
O autarca lembrou que a relva necessita de muita água e prometeu “ajudar na compra de uma bomba nova”, deixando no ar a hipótese de a Câmara ajudar a pagar a conta da água do clube, até porque a manutenção dos relvados dos clubes acarreta “despesas astronómicas”, diz o vereador Pedro Patacho, que parou a conversa para insistir que “o ideal é inimigo do real”.
Após uma paragem técnica, e já depois de Branco referir que o projeto contemplava a construção de um edifício de raiz, com três pisos, a meio do complexo desportivo, ambas as partes chegaram à conclusão de que o projeto teria de “ser reformulado”, retirando-se a parte “megalómana” para dar lugar a uma obra fazível.
Autarca “reformula” projeto in loco
Após visitar o relvado principal, os balneários, a bancada e o campo que Branco pretendia transformar num equipamento de padel, Isaltino Morais reconsiderou a sua posição e mostrou interesse em apoiar a construção do equipamento, até porque custaria “apenas 25 mil euros” (por cada um dos 6 retângulos de jogo), e seria “uma boa fonte de receitas para o SCLV”.
Decidiu-se ainda deitar abaixo os edifícios junto desse relvado para derem lugar a um outro construído de raiz, que comportará balneários, gabinetes médicos, salas de recuperação, um ginásio e os escritórios do clube. O presidente do clube mostrou-se agradado com a ideia de Isaltino Morais, que, primeiramente, havia descartado a hipótese de construção de um edifício a meio do complexo desportivo.
Carrinha nova e novo projeto até final de outubro
No caminho de regresso, o edil reparou em duas carrinhas antigas estacionadas debaixo de um abrigo. “O que é que isto está aqui a fazer?”, questionou. “Se o senhor presidente tiver uma carrinha velhinha na Câmara, o clube agradece…”, respondeu o dirigente.
“É uma vergonha terem estes carros neste estado. Não tenho carrinhas velhas. Vou fazer para que tenham uma carrinha nova”, atirou Isaltino Morais.
Em jeito de conclusão, ficou acordado o clube apresentar um novo projeto (menos ambicioso do que o original) até final de outubro para a Câmara estudar e apresentar o veredicto final.
Tapada Crew está nos bastidores dos grandes acontecimentos culturais
A “presidência aberta” seguiu viagem para Carnaxide, para visitar a empresa Tapada Crew, que se dedica à prestação de serviços na área de montagem e assistência de todo o tipo de espetáculos, desde o mais pequeno ao maior evento.
A sede da empresa fica num prédio sem elevador, num terceiro andar. Isaltino Morais não ficou muito agradado com a ideia de uma empresa estar sedeada num prédio habitacional sem elevador. Ao subir a escadaria, foi questionando se a empresa “estava legalizada”, mas os responsáveis tranquilizaram o autarca, explicando que já estavam no mercado desde 1986.
Pedro Vasconcelos, CEO da Tapada Crew, explicou que companhia “já fez grandes espetáculos e concertos”, os “maiores que foram realizados em Portugal”, mas não soube exprimir com desembaraço aquilo que a empresa realmente fazia.
Virando-se para sua equipa de assessores, Isaltino Morais insistiu em saber as razões da visita àquela empresa em concreto. “Recebo milhares de convites para visitar empresas, mas gostaria de saber porque razão vim a esta?”, desabafou.
Depois de um leve embaraço, a assessora da Câmara leu o email da companhia a solicitar a presença de Isaltino Morais, uma vez que a Tapada Crew cumpre 40 anos de existência, mas também porque dizem ser “seguidores” dos vídeos do autarca nas redes sociais. “Ah, já percebi tudo!”, proclamou Isaltino Morais, sorrindo.
Sentado numa das cadeiras das chefias, Isaltino Morais gravou um vídeo para falar da Tapada Crew, que o autarca considerou como uma entre “as milhares de pequenas e médias empresas” que gravitam em redor do ecossistema empresarial constituído pelas grandes empresas que vieram para Oeiras, mas também as PME.
“Oeiras não é só grandes empresas. Na realidade, as grandes empresas são sempre um chamariz para as mais pequenas. Eu vim aqui sem saber ao que vinha, mas fiquei surpreendido com aquilo que aqui encontrei”, admitiu.
E acrescentou que, com um núcleo de 60 pessoas, esta empresa presta apoio na organização de grandes eventos, como a “web sumitt”, estando por detrás da organização de concertos, organizando eventos, grandes e mais pequenos. “O que me faz questionar se as pessoas sabem realmente quem está por detrás, nos bastidores, para que nada falhe nos espetáculos e para que as pessoas se sintam confortáveis, seguras. Realmente, vocês fazem um trabalho extraordinário, mas que, muitas vezes, passa despercebido (…) Se um artista pede um capricho, ou acontece algum imprevisto, são vocês que estão lá para resolver”, concluiu.
Pedro Vasconcelos concordou, resumindo: “nós somos os invisíveis da Cultura”.
A fábrica de chocolate de Queijas
A última parte da visita ocorreu numa oficina de chocolate de Queijas, a “Chocolate da D’Odette”. A marca Chocolate d’Odette foi criada em 2014, pelas mãos da chocolatier Odete Estêvão, fundadora e presidente do Cacau Clube de Portugal. O qual promove os benefícios do chocolate e do cacau.
Como explicou a fundadora da companhia, Odete Estevão nasceu no Zimbabué, e mais tarde apaixonou-se pelo chocolate, levando-a essa paixão a fazer parte de “uma elite de alquimistas que talentosamente convertem a semente do cacau no mais sublime chocolate”.
No seu diversificado currículo destaca-se o Curso de Chocolate na École du Grand Chocolat, um mestrado em nutrição clínica e duas licenciaturas, uma em nutrição humana, social e escolar e outra em design de equipamentos. Para além de ter fundado a empresa Chocolate d’Odette, com o objetivo de criar experiências inesquecíveis, é promotora do inovador conceito de nutrição “Choconutrition”.
Sentados lado a lado, Isaltino Morais queria saber a história da empresa, qual a proveniência dos cacaus utilizados, mas revelando, também, que já conhecia a artesã do chocolate de um evento ocorrido na FIL, onde ficaria acordado que a chocolatier passaria a fabricar os chocolates da marca Villa Oeiras.
Odete Estevão referiu que no Chocolate d’Odette todos os produtos “são artesanais com ingredientes genuínos e de excelente qualidade, um produto final de excelência. Os sabores e texturas foram pensados e criados para estimularem todos os sentidos numa experiência de degustação sublime. Tendo como chocolatier uma mestre em nutrição, todo o chocolate utilizado na confeção dos produtos tem obrigatoriamente que ter um alto teor de cacau, garantindo assim as suas melhores propriedades nutritivas”.
Isaltino Morais (e toda a comitiva) provaram alguns dos bombons e um bolo de chocolate “à francesa”. O autarca aprovou com nota alta os produtos degustados, ouvindo um tímido pedido da dona da empresa para que a Câmara promovesse workshops de chocolataria nas escolas do concelho.
“Se visse que já não tinha energia, ficava em casa”
No final das visitas, em declarações ao nosso jornal, Isaltino Morais considerou que este tipo de visitas “são fundamentais para ouvir as pessoas”, mas também para auscultar “as solicitações que chegam à Câmara”, quer de munícipes, quer de instituições ou empresas.
“Estas visitas servem para ficarmos a saber da opinião das pessoas e dos seus problemas. Ou porque reclamam pelo jardim que não está tratado, reclamam pelo lixo na rua, pelos contentores que estão cheios, ou seja, venho ouvir os vários pedidos das pessoas e venho ao local para, depois, levar a informação para a Câmara e resolver as situações”, explica.
A minimaratona das visitas obrigou o autarca a desgastar a sola dos sapatos. Subiu e desceu algumas centenas de degraus, caminhou centenas de metros e ouviu as pequenas confissões e as pequenas histórias que fazem a história do concelho.
O autarca já passou a barreira dos 75 anos. Questionado pelo Olhar Oeiras se ainda se sentia com vitalidade para continuar este tipo de ações de “porta a porta” no próximo mandato, caso seja eleito, Isaltino Morais respondeu prontamente: “Ando nisto há 40 anos. Se visse que já não tinha energia, ficava em casa.”