A população e os autarcas falaram a uma só voz para reivindicarem a contratação de mais profissionais de saúde para a nova unidade de saúde de Santo Antão do Tojal, Loures. Ricardo Leão assume que o investimento da autarquia nas unidades de saúde “torna-se inglório” se não for acompanhado pela contratação de médicos de família.
Foi ontem inaugurada a Unidade de Saúde Familiar de Santo Antão do Tojal, em Loures, uma nova infraestrutura de saúde que irá servir cerca de 14 mil utentes da União das Freguesias de Santo Antão e São Julião do Tojal, e ainda da Freguesia de Fanhões.
O presidente da Câmara de Loures considera que este novo equipamento de saúde – substitui uma outra unidade que funcionava em contentores – vai ao encontro do cumprimento de uma reivindicação da população e do próprio município, que há muito reclamavam pela entrada em funcionamento desta nova unidade de saúde local.
Apesar de a inauguração representar a concretização de uma aspiração antiga, Ricardo Leão reconheceu sentir alguma ambivalência de sentimentos provocada pela ausência da Ministra da Saúde, Ana Paula Martins (declinou o convite, segundo autarca), na cerimónia de inauguração. “Hoje, estou particularmente triste. Gostaria que a Ministra estivesse aqui hoje, porque tinha um conjunto de coisas para lhe dizer”, designadamente o facto de o concelho de Loures “ter uma acentuada falta de médicos de família” e uma população bastante extensa que continua sem acompanhamento médico.
Ricardo Leão clarifica, no entanto, que a critica nada tem a ver “com a cor política” dos protagonistas, até porque Leão “trabalha com todos”, independentemente dos partidos, desde que atendam aos “pedidos para resolver os problemas” do território.
Elevado o tom de voz no discurso, o autarca revela que “já fiz uma proposta à Ministra da Saúde, mas ainda não recebi qualquer resposta”.
“O município quer fazer parte da solução do problema para que não haja falta de médicos de família no concelho, ‘chegando-se à frente’”, para construir os centros de saúde necessários para mitigar a carência de profissionais de saúde nas várias freguesias do concelho.
“Somos dos municípios que mais investe na Saúde”. Neste caso em particular, “investimos 600 mil euros num total de três milhões. Dos 27 milhões que o Estado investiu nos equipamentos de saúde em Loures, a Câmara investiu mais de 7 milhões de euros de orçamentação própria na requalificação e construção de centros de saúde”.
Pese embora o “reforço” do investimento da autarquia na Saúde, os equipamentos, por si só, não resolvem os problemas de saúde dos munícipes. Centros de Saúde sem profissionais de saúde não passam de elefantes brancos.
Ricardo Leão revela que, muitas vezes, os médicos se negavam a vir trabalhar para o concelho porque os equipamentos “não tinham as condições condignas de trabalho”. O autarca exemplifica com o caso do Centro de Saúde de Sacavém onde “chovia la dentro”.
Por essa razão, o município tem-se adiantado — “chegado à frente” – para criar as condições necessárias para atrair médicos de família para as unidades de saúde locais, requalificando aqueles que careciam de condições ou construindo de raiz, mas, posteriormente, cabe ao Governo tomar as medidas necessárias para colocar profissionais de saúde nas unidades.
“Construir equipamentos ou requalifica-los é fundamental para que as pessoas não entupam o (Hospital) Beatriz Ângelo”, mas, reforça o autarca, “as pessoas só vão para o Beatriz Ângelo porque não têm para onde ir”, vinca.
Evitar “Esforço inglório”
Segundo o edil lourense, já foi apresentada uma “solução” ao Ministério da Saúde para evitar que os utentes de Loures acorram ao hospital para tratar dos seus problemas de saúde.
Trata-se de uma proposta de alargamento de horário das unidades de saúde locais, até às 22h, mas não houve qualquer resposta da tutela.
Ricardo Leão assume que o seu executivo tem assumido como umas das “prioridades” do mandato a construção de novas unidades de saúde no território, mas reforça que “esse esforço torna-se inglório” se não houver um acerto dos passos entre a Câmara e a tutela, “contratando mais médicos e enfermeiros” para as unidades.
Autarca sem médico de família
O presidente da Junta de Freguesia de Santo Antão do Tojal e São Julião do Tojal, João Florindo (CDU), mostrou-se feliz com a realização de um “sonho”, pela abertura da nova unidade, dizendo que “hoje é um dia grande” para a população, mas lembra que, dos 11250 utentes daquele território, 5 mil continuam sem médico de família atribuído.
O autarca enaltece o papel da Câmara Municipal nesta matéria, que “fez um esforço para dar as condições de dignidade aos profissionais de saúde e aos utentes”, mas lamenta a ausência da Ministra da Saúde. “Convinha a Ministra ter vindo cá para constatar as boas condições da Unidade, mas também para ficar a saber que só temos três médicos ao serviço. Não sei se teve medo de vir à nossa freguesia, mas não faríamos mal à Ministra da Saúde (…)”.
De resto, João Florindo revela que ele próprio é um dos moradores que ainda não tem médico de família.
Também Jorge Simões, presidente de Junta de Fanhões, considera que a inauguração do espaço representa um “momento histórico” para a freguesia vizinha. No momento em que usou da palavra, um morador interpelou-o para gritar que “é preciso mais médicos, pá”.
A presidente da CCDR Lisboa e Vale do Tejo, Teresa Almeida, enaltece o papel da Câmara Municipal de Loures no âmbito da transferência de competências alocadas para a Saúde, onde “tem feito um trabalho extraordinário”, adiantando-se, muitas vezes ao Estado Central, para fazer face às necessidades da população, contando com o apoio dos fundos europeus do PRR.
Teresa Almeida considera que “Loures tem feito muito bem as suas escolhas”, isto é, centralizando os investimentos nas áreas da Saúde e da Educação.
Levar “recado” ao Governo Central
Em declarações ao “Olhares de Lisboa”, a responsável reconhece a existência das “lacunas nos centros de saúde” relativas à falta de profissionais, mas argumenta que o Estado Central “já deu um primeiro passo” para a resolução do problema, construído este equipamento.
“É evidente que existe aqui uma lacuna, mas sem o equipamento era difícil reivindicar mais profissionais. A base de tudo é a construção do equipamento, com a dimensão e a qualidade que está feita, mas há um notório crescimento da população na Área Metropolitana de Lisboa, que recebeu mais 140 mil pessoas nos últimos anos, pondo em evidência a necessidade de redimensionar a oferta de serviços ao crescimento da população. Acredito que vai existir uma solução para responder à tarefa para que o equipamento foi construído”.
Teresa Almeida comprometeu-se a fazer eco das reivindicações dos autarcas e da população junto do Governo Central. “Sempre que nos reunimos, vamos dando uma palavra daquilo que vamos auscultando nestas visitas, porque tenho também essa missão, mas a tarefa de negociar a vinda de mais profissionais de saúde terá que ser feita diretamente entre o Ministério (da Saúde) e a Câmara Municipal”, conclui.
A nova Unidade de Saúde Familiar de Santo Antão do Tojal representa um investimento de cerca de três milhões de euros, financiado com verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e da Câmara Municipal de Loures.
Com uma área de implantação de 1390 m2, o novo edifício divide-se em quatro áreas: Unidade de Saúde Familiar, Unidade de Recursos Assistenciais Partilhados, Unidade de Cuidados na Comunidade e Área de Pessoal.
A Unidade de Saúde Familiar de Santo Antão do Tojal conta com diversos gabinetes de consulta e de enfermagem, salas de espera e tratamento, sala de colheitas, sala de movimento e parque geriátrico exterior.