Na reunião extraordinária na Câmara Municipal de Lisboa sobre o descarrilamento no ascensor da Glória, que decorreu esta segunda-feira, foram aprovadas na sua maioria as três propostas em cima da mesa (do executivo, PS e PCP), incluindo várias recomendações para a Carris e a homenagem às vítimas. Mas a oposição à liderança PSD/CDS-PP na Câmara de Lisboa criticou o facto do presidente da autarquia, Carlos Moedas (PSD), ter saído da reunião extraordinária. O Chega entregou, entretanto, na Assembleia Municipal de Lisboa uma moção de censura ao presidente da autarquia, Carlos Moedas (PSD), acusando-o de falhar no dever de “garantir a segurança da cidade”.
A reunião extraordinária da Câmara Municipal de Lisboa sobre o acidente com o Elevador da Glória terminou, esta segunda-feira, com a aprovação de todas as propostas apresentadas pelo PCP, PS e pela coligação de Carlos Moedas. Entre as propostas está a criação de um portal da transparência, um fundo de apoio às vítimas e a realização de uma segunda reunião extraordinária para ouvir novamente o presidente da Carris.
No fim da reunião extraordinária, o vice-presidente da câmara de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, reconheceu que “é muito importante” promover uma política de “partilha de informação”, razão pela qual justifica a aprovação do Portal da Transparência por parte do Executivo camarário. “Para que a informação e a documentação que seja relevante possa ser disponibilizada”, completa.
Da parte da Carris, há uma vontade de explicar “cabalmente” o acidente, garantiu. “Ninguém está a lidar com isto à defesa. Queremos que toda a informação seja de conhecimento público, independentemente das consequências”.
Anacoreta Correia disse ainda que a segurança está no topo das preocupações: “Em todas as decisões que tivemos, a segurança foi sempre absolutamente decisiva e no futuro será seguramente também a segurança que se imporá a qualquer outro tipo de critérios, portanto não haverá qualquer tipo de limites nem ideológicos nem financeiros para que seja de novo reposta a confiança no transporte coletivo de passageiros da Carris na cidade de Lisboa”.
O número dois da autarquia lisboeta disse também que, no sentido de “olhar para o futuro”, a Câmara de Lisboa vai reavaliar aquilo que é necessário “para criar condições de confiança”.
Apesar de não ter feito declarações aos jornalistas após a reunião desta segunda-feira, já que saiu a meio, Carlos Moedas “continuará a dar a cara”. “Penso que isso não está em causa”, apontou, antes de frisar que o autarca não tem fugido às responsabilidades.
Segundo o gabinete do presidente da Câmara, Carlos Moedas saiu da reunião do Executivo municipal pelas 12:00 para se encontrar com a ministra da Saúde no sentido de ter “um ponto de situação sobre os feridos” do descarrilamento do Elevador da Glória.
As críticas da oposição
Ainda à saída do encontro, partidos da oposição não pouparam nas críticas ao presidente da Câmara. Rui Tavares, porta-voz do Livre, entende que as consequências políticas da tragédia “têm de ser apuradas na sua cadeia hierárquica”.
“Quanto, indiretamente, nas centenas de milhões, ou até nos milhares de milhões, em turismo para a cidade estes símbolos trouxeram e por que é não foram cuidados como deveriam ter sido?”, questionou o deputado.
Pedro Anastácio, vereador do PS, revelou que, durante a reunião, os socialistas fizeram 22 perguntas, das quais apenas viram respondidas uma. Considera, por esse motivo, que ainda “há muitos aspetos” que precisam de ser respondidos.
“No momento mais trágico dos últimos 60 anos na cidade de Lisboa”, o vereador entende que Carlos Moedas deveria ter convocado “mais cedo” a reunião extraordinária.
Para além de uma segunda audição ao presidente da Carris, a proposta do PS incluía ainda a criação de um memorial na Calçada da Glória e de um Gabinete Municipal de Apoio às Vítimas e um Fundo Municipal de Apoio às Vítimas, assim como um painel público de acompanhamento no portal da Câmara de Lisboa.
Pedro Anastácio congratulou-se com a aprovação da proposta da vereação socialista de “apoio às vítimas, esclarecimento cabal e restituição da confiança no futuro da cidade”, lamentando que a ideia de voltar a ouvir o presidente da Carris tenha sido aprovada com os votos contra da liderança PSD/CDS-PP.
Criação de comissão de avaliação
João Ferreira, do PCP, informou que o partido que representa propôs a constituição de uma comissão de avaliação, que procure “reforçar as condições de inspeção e de manutenção”.
Valorizando a aprovação das medidas, o comunista avisou que “as coisas não podem ficar no papel como tantas vezes acontece”.
Também Ricardo Moreira, deputado municipal pelo Bloco de Esquerda, acredita que a manutenção levada a cabo no Elevador da Glória “não servia os interesses da cidade de Lisboa” nem dos turistas.
“Isso é completamente inaceitável. Carlos Moedos disse que daqui ninguém foge, mas hoje fugiu, objetivamente, desta reunião de Câmara, onde os vereadores das forças de oposição estavam a fazer perguntas (…) Esconde-se atrás de toda a gente – do seu vice-presidente e do presidente da administração da Carris. O Presidente da República já foi claro. A responsabilidade política é de Carlos Moedas e Carlos Moedas foge dessas responsabilidades como o diabo foge da cruz.”
A oposição também criticou Moedas por, mais uma vez, se escudar no vice-presidente da autarquia e não ter sido o próprio a falar aos jornalistas. Pedro Moreira, do Bloco de Esquerda, apontou ainda a presença do diretor de campanha de Moedas, um ex-chefe de gabinete que já não é funcionário da Câmara, no perímetro de segurança no dia do acidente. “É absolutamente inexplicável. É de alguém que gere a Câmara Municipal como uma agência de comunicação”, acusou.