Com os olhos no retrovisor para vigiar a subida da CDU, Alexandra Leitão assume que as prioridades da coligação “Viver Lisboa” são “habitação, habitação, habitação” e promete 4500 casas de habitação pública, travão ao turismo e aos “unicórnios”. José Luís Carneiro quer uma Lisboa “que se oponha à cidade da resignação de Moedas”.
O secretário-geral do Partido Socialista esteve ao lado de Alexandra Leitão para respaldar as propostas da ex-ministra para “mudar” a cidade de Lisboa.
José Luís Carneiro garante que Alexandra Leitão, cheia de ambição, apresenta a solução para os problemas de Lisboa nomeadamente a habitação, os transportes e a higiene pública.
Carneiro quer Lisboa ambiciosa que se oponha à “cidade de resignação” de Moedas.
O líder dos socialistas, que já havia marcado presença aquando da apresentação da coligação “Viver Lisboa”, acredita na candidatura de Alexandra Leitão, em que reconhece as qualidades humanas, cívicas, técnicas e profissionais para ser a primeira mulher presidente da autarquia lisboeta
Num discurso na sessão de apresentação do programa eleitoral da coligação autárquica “Viver Lisboa” (PS, Livre, BE e PAN), na freguesia de São Domingos de Benfica, José Luís Carneiro garantiu que a candidatura encabeçada pela socialista Alexandra Leitão ambiciona uma Lisboa “aberta ao mundo”, cosmopolita e que “assuma as suas responsabilidades” não só nos momentos fáceis, mas também quando são “difíceis de entender”.
Para o líder socialista, “está tudo explicado sobre os quatros anos perdidos em Lisboa” com Carlos Moedas à frente da autarquia, quando a sua “principal proposta política e mais importante preocupação continua a ser resolver um problema tão básico como a recolha do lixo. Está tudo explicado (…)” – declaração efusivamente aplaudida pelas centenas de apoiantes que acorreram à iniciativa.
Carneiro afirmou que o atual executivo municipal não se “pode queixar da atitude” dos vereadores ou deputados eleitos pelo PS. “Desde a primeira hora ao último minuto do mandato mostraram um grande sentido de responsabilidade em todos momentos difíceis desta cidade”.
Cidade “menos agressiva”
O secretário-geral do PS defendeu também a necessidade de Lisboa ser uma cidade “menos agressiva” do “ponto de vista das condições de vida”, afirmando que embora “haja uma cultura de compreensão e entendimento”, por exemplo, nos transportes públicos as pessoas sentem “uma agressividade da própria cidade”.
“Para quem percorre a pé só obstáculos no espaço público. Eu pergunto muitas vezes como é que as pessoas com mais idade, com dificuldades de locomoção, podem caminhar em segurança. O ruído da própria cidade. É uma agressividade que efetivamente tem efeitos na nossa saúde pública, tem efeitos na vida e na qualidade de vida das pessoas”, apontou.
Carneiro disse ainda ver em Alexandra Leitão as qualidades humanas, cívicas, técnicas e profissionais para ser a primeira mulher presidente da autarquia lisboeta e para permitir que se possa “voltar a cantar ‘cheira bem, cheira a Lisboa’”, mas também que os valores máximos das políticas humanistas, “igualdade, liberdade e fraternidade”, voltem a ecoar por toda a capital.
O líder socialista aproveitou para tecer rasgados elogios à apoiante de Alexandra Leitão, a atriz Maria do Céu Guerra, que, no entender de Carneiro, encarna a os valores da resistência face à intolerância das forças políticas de extrema-direita.
“A Maria do Céu Guerra foi alvo de uma agressividade extrema dos partidos que estão nos antípodas dos valores socialistas”, servindo como “símbolo” e “exemplo máximo” do humanismo, que está no centro de toda a ação política dos socialistas, quer nas câmaras e juntas de freguesia, quer no combate político a nível nacional, afiança Carneiro.
“Caçar” o voto da esquerda
Alexandra Leitão apresentou esta sexta-feira o programa que vai levar a votos pela coligação “Viver Lisboa”, que junta PS, BE, Livre e PAN. Com a CDU de fora da coligação, os socialistas já perceberam ter, nestas eleições, um adversário duro de roer. Nos debates, João Ferreira tem marcado pontos nas classificações dos analistas políticos, mostrando capacidade de roubar o voto de parte da esquerda a esta coligação. Alexandra Leitão, assim como os parceiros de coligação, têm vindo a avisar que “só há uma única alternativa” a Carlos Moedas, e “essa alternativa é a coligação Viver Lisboa. É a única alternativa”, reitera.
Prioridades: “habitação, habitação, habitação”
Não obstante a necessidade de reunir dos votantes de toda a esquerda, para a coligação “Viver Lisboa”, acima de todas as prioridades está “a emergência” da habitação. A cabeça de lista da coligação, Alexandra Leitão (PS), resumiu as prioridades da coligação para o mandato: “habitação, habitação, habitação”.
Nesse quadro, criticou a decisão anunciada pelo Governo na quinta-feira de alienar património público, a maioria do qual em Lisboa e prometeu “tudo fazer para evitar que imóveis públicos com aptidão habitacional sejam vendidos no mercado livre”, admitindo que o município os adquira.
Além da habitação, o programa tem outros dois grandes focos, os transportes e a limpeza. “Nunca foi tão mal gerida a higiene urbana”, avaliou, sublinhando que “uma cidade limpa é uma cidade mais segura”.
A cabeça de lista referiu ainda “a degradação” das escolas de Lisboa, anunciando um “programa urgente de requalificação do edificado” e garantir refeições de qualidade, reforçando a ligação à comunidade.
Alexandra Leitão destacou que lidera “uma equipa de pessoas de todos os partidos e sem nenhum partido” e, à semelhança de Carneiro, agradeceu “o privilégio” de contar com a atriz Maria do Céu Guerra, diretora do grupo de teatro “A Barraca”, como apoiante da candidatura. Em 2019, a atriz ganhou o prémio de melhor ator /atriz europeu no Festival Internacional de Teatro, realizado na Macedónia do Norte.
“Depois de quatro anos de falhanços, não podemos esperar mais”, instou. “Não queremos uma cidade de unicórnios”, vincou, sublinhando “os problemas reais” da cidade e dos seus habitantes.
Promete “construir uma alternativa sólida, aberta e plural, que coloque a habitação, a mobilidade, a sustentabilidade e a qualidade de vida no centro das prioridades”. E embora jure que não é uma coligação “contra ninguém”, aponta baterias a Carlos Moedas: “Lisboa não pode continuar a perder tempo com uma governação assente em propaganda, que atira para outros a responsabilidade pela sua própria incapacidade de cuidar da cidade”, afirmou sobre o atual presidente da Câmara.
Alexandra Leitão atirou uma outra farpa na direção de Moedas, sublinhando que Lisboa precisa, acima de tudo, de uma liderança que “governe para as pessoas, e não para uma pessoa (…)”.
“Perceção de insegurança” combatida com policiamento de proximidade
Há outra área sensível onde a coligação defende medidas concretas. Ainda que a candidata já tenha criticado, no passado, respostas à “perceção de insegurança” quando não há sinais nesse sentido em Lisboa, o tema é abordado no seu programa onde prevê “reforçar o policiamento de proximidade e expandir a Polícia Municipal” e também “reforçar e modernizar a iluminação pública e instalar câmaras em zonas críticas”.
Na opinião da líder da coligação, as políticas de segurança de um capital “não resolvem com um polícia a cada esquina”, mas sim com patrulhamento de proximidade.
Recolha de lixo todos os dias da semana
Antes da cabeça de lista, André Moz Caldas, candidato a presidente da Assembleia Municipal e responsável máximo pelo programa da coligação, resumiu-o a “casas que as pessoas podem pagar, transportes em que as pessoas podem confiar e uma cidade limpa”.
Começando pela habitação, a coligação propõe, entre outras medidas, lançar a construção de 4500 casas até 2029, “desbloquear já operações de renda acessível que ficaram suspensas no último mandato”, mobilizar terrenos e casas devolutas, permitir alojamento local “só onde faz sentido” e adotar uma moratória a novos hotéis.
No que diz respeito à limpeza da cidade, a coligação quer marcar o ritmo do jogo, prometendo recolha de lixo sete dias por semana (Carlos Moedas comprometeu-se com seis dias na apresentação do seu programa, na quinta-feira).
Passes e creches gratuitas
Nos transportes, defende o passe Navegante gratuito para todos os lisboetas e mais corredores BUS. Creches gratuitas e universais. “Os lisboetas não podem ficar reféns da decisão de poder pagar a casa ou ter filhos”, justificou.
É também objetivo apoiar a contratação de mais profissionais para os centros de saúde e voltar a dar vida aos três centros de saúde da cidade – entre os 11 existentes — que não estão operacionais.
André Moz Caldas defende que a coligação pretende “desbloquear já” as operações de acesso às casas devolutas. “Onde haja uma casa vazia, haverá casas para habitar”.
Proibir novos alojamentos locais
Outra das medidas para esta área é pôr travão a fundo (proibição) à criação de novos Alojamentos Locais em edifícios residenciais, o que acaba também por ligar com outra das prioridades da candidatura: a contenção do turismo na cidade. Neste ponto, o programa de Alexandra Leitão prevê “limitar usos turísticos em zonas saturadas e impor moratórias a novos hotéis” — suspensões temporárias de licenciamento, aprovação ou construção de novas unidades. Há já freguesias que identifica como pontos onde o controlo tem de ser apertado, nomeadamente no AL: “Vamos restringir o alojamento local, reforçar a fiscalização e dialogar com o Governo para recuperar instrumentos legais que permitam controlar o alojamento local em freguesias como, essencialmente, Santa Maria Maior ou Misericórdia”.
Tejo para “mergulhos”
Moz Caldas garantiu ainda que Lisboa “vai voltar a honrar o legado da capital verde”, mas também que Lisboa é “amiga dos animais”. Há ainda o compromisso do reforço da dotação orçamental para a cultura e a acessibilidade plena e a “canalizar 1% do orçamento municipal” para a ciência e inovação.
Moz Caldas adiantou que, se for eleita, a coligação vai avaliar o impacto da “Unicorn Factory Lisboa”, à luz dos dinheiros públicos nela investidos, e devolver o espaço à designação original de Hub Criativo do Beato.
No âmbito da sustentabilidade ambiental, e por proposta do cantor Fernando Tordo, há ainda um projeto para limpar o rio Tejo, convertendo a água do rio num local “para mergulhos” e “aberto à população”.
Destaques dos parceiros da coligação
Pelo Livre, Isabel Mendes Lopes situou a coligação em “construir uma Lisboa para viver”, sublinhando que “só há uma pessoa que tem uma hipótese real de ser presidente da câmara” em vez de Carlos Moedas, Alexandra Leitão, destacando os seus “sentidos de justiça, capacidade de trabalho e entrega”.
“Fazes muita falta na Assembleia da República, mas mais falta fazes a Lisboa”, disse, dirigindo-se a Alexandra Leitão.
Fabien Figueiredo, pelo BE, colocou a tónica numa “Lisboa mais limpa”, notando que a higiene urbana “falhou, porque faltou humildade e competência” ao atual executivo liderado por Carlos Moedas.
“A um autarca, de esquerda ou de direita, exige-se que cumpra os mínimos”, afirmou. acrescentando que a esquerda deve concentrar o seu voto na “única alternativa a Carlos Moedas: a coligação “Viver Lisboa”.
O bloquista criticou ainda Carlos Moedas por “estar mais concentrado nas suas comunicações do que em resolver os problemas dos lisboetas”.
Pelo PAN, Inês de Sousa Real acentuou a necessidade de “unir esforços”, destacando que muitas pessoas “já não conseguem viver Lisboa”, atualmente uma “cidade de contrastes” entre bairros. “Temos duas lisboas dentro da cidade”, concretizou, reforçando a vitória da coligação “Viver Lisboa” vai dar uma machada final na política que vive para as “campanhas”, que transformou a capital na cidade “das filas intermináveis, dos idosos que perderam autonomia, em que todos perderam qualidade de vida”.
“A coligação também não vai deixar os animais para trás e vai fazer diferente”, assumiu, levantando a principal bandeira do PAN na defesa da proteção animal.
“Carlos Moedas prometeu apoios para a as associações, mas não cumpriu”. Por isso, Lisboa “precisa de ser vivida com paixão, com compaixão”.
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