A 36.ª edição começou ontem, dia 23 de outubro, e vai até 2 de novembro. O evento conta com 14 exposições e vai destacar nomes consagrados da BD mundial e os autores portugueses, emergentes e consagrados, bem como as criadoras de BD no feminino.
Considerada como um dos maiores acontecimentos no panorama da cultura, o Amadora BD marca presença no calendário dos acontecimentos de banda desenhada a nível internacional, afirmando-se como um dos eventos da chamada “9ª Arte” mais participados em Portugal.
Em conversa com o “Olhares de Lisboa”, Catarina Valente, diretora do Amadora BD, refere que o evento é já um marco no universo cultural, enquanto festival internacional, e que é a sua intenção promover, anualmente, o melhor do universo da banda desenhada mundial, reunindo na Área Metropolitana de Lisboa os mais distintos autores e representantes deste género criativo.
Catarina Valente destaca a presença de alguns dos nomes mais relevantes do universo da BD mundial, com exposições individuais que celebram as carreiras de grandes criadores de banda desenhada, como Paco Roca, Luís Louro e Fábio Moon & Gabriel Bá. Ainda no Núcleo Central, está também confirmada a presença de heróis que celebram os seus aniversários em 2025 – 150 Anos de Zế Povinho, 85 Anos de Spirit, 75 Anos da série Peanuts e 65 Anos da Liga da Justiça – e exposições que nos revelam envolventes e impactantes histórias de mulheres – Radium Girls, de Cy e O Corpo de Cristo, de Bea Lema.
A Galeria Municipal Artur Bual acolhe duas exposições retrospetivas de Alice Geirinhas e Diniz Conefrey, ficando a Bedeteca reservada para o álbum vencedor do Premio Revelação na edição de 2024 dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora: Amor, de Filipa Beleza.
Entre as novidades mais recentes introduzidas no certame, destaca-se a “gaming arena”, inaugurada em 2022, mantém-se com um espaço alargado e como sempre com as últimas novidades do universo dos videojogos e cultura pop.
A diretora do Amadora BD explica que a “gaming arena” pretende captar “novos públicos” para um festival que já conta com 36 anos de existência, mas que “está muito atento” à necessidade de atrair os mais jovens para este universo “tão particular” da criatividade humana. Neste contexto, o universo dos mangas e animes japoneses ganha destaque no festival.
Catarina Valente destaca que a edição deste ano comemora várias datas redondas, que são efemérides “muito importantes” de assinalar, pois tratam de tentativa de aproximação ao grande público enquanto séries populares que atravessam gerações de leitores e admiradores”.
Zé Povinho e super-heróis
A criação da figura do Zé Povinho, da autoria de Rafael Bordalo Pinheiro, mas também a Liga da Justiça, a série Peanuts ou Spirit, o herói de Will Eisner “têm um comum o facto de assinalarem este ano datas redondas e estarão em destaque na 36.ª edição do Amadora BD”, que arranca na quinta-feira, 23 de outubro, em três localizações distintas: o Parque da Liberdade, a Galeria Municipal Artur Bual e a Bedeteca da Amadora. Ao todo, são 14 exposições que podem ser vistas até 2 de novembro.
Além dos 150 anos da figura criada por Rafael Bordalo Pinheiro para representar o povo português, dos 65 da equipa de super-heróis da DC Comics — entre os quais personagens desenhados pelo lápis dos seus criadores e que já fazem parte do imaginário coletivo, como o Super-Homem, o Batman, a Mulher Maravilha, Flash, Lanterna Verde ou Aquaman –, dos 75 anos de Charlie Brown, Snoopy e companhia, o Amadora BD celebra ainda os 40 anos de carreira do veterano da BD Luís Louro, um nome incontornável da BD em Portugal.
A diretora do Amadora BD assinala que todos estes protagonistas e alguns outros podem ser encontrados na ilustração original desta 36.ª edição, que ficou a cargo de Jorge Coelho, vencedor no ano passado do Prémio para a Melhor Banda Desenhada de Autor Português do Amadora BD.
Catarina Valente diz que o universo das criadoras femininas de BD necessitava de ser “exaltado” e “mostrado” ao grande público, até porque as mulheres estão em minoria neste género de criação artística. Foi com o objetivo de promover a “diversidade na BD” que a organização resolveu destacar o trabalho que está a ser produzido por artistas como da libanesa Zeina Abirached, da francesa Cy ou da espanhola Bea Lema
A este propósito, face à escassez de representatividade feminina na “9ª arte”, o certame deste ano “tem a preocupação de assinalar a produção destas autoras em igualdade e posicionamento”, sublinha a diretora da Amadora BD.
BD portuguesa a bater à porta do “Olimpo”
Além dos aniversários que celebram os nomes maiores da BD e do universo feminino, destaque ainda para os autores portugueses, até porque, destaca Catarina Valente, a BD nacional está em fase de afirmação e já não pede licença para entrar pela porta grande do reconhecimento público das suas obras.
“A BD nacional atravessa uma fase de grande produtividade, resultante do aumento do número de edições e de editoras nacionais. Há hoje uma diversificação dos temas e dos autores representados, desde o mercado independente ao mais comercial.”
A diretora do festival, criado em 1990 por iniciativa da Câmara Municipal da Amadora para promover e divulgar a banda desenhada, garante que “esta situação é visível na variedade de candidatos aos Prémios de BD da Amadora, onde coexistem veteranos e emergentes”, que traduz a evolução positiva que a BD portuguesa tem tido.”
Novos leitores e entusiastas do mundo da BD
Nos últimos anos as realidades de leitura (ou da falta dela) transformaram o modo como se “consume” a cultura livresca ou a musical. Com a massificação das redes sociais e da internet acessível em todas as horas, em todos os locais, as gerações mais jovens cresceram já com o acesso ilimitado a todo um mundo à distância de um toque no telemóvel.
Para Catarina Valente, contudo, esta realidade “sci fi” não afastou os mais novos do mundo da BD. Ao invés, teve o efeito contrário, uma vez que os mais novos têm hoje “acesso a produção de BD que as gerações mais antigas desconheciam”, como as histórias de quadradinhos da cultura nipónica ou coreana, por exemplo. A responsável acredita que os jovens são influenciados pelos fenómenos planetários, como a manga, e, posteriormente, procuram os livros nas feiras e livrarias.
Novidades e descontos na aquisição de livros
A 36.ª edição do Amadora BD oferece aos visitantes algumas novidades. Para responder ao crescente interesse do público, a organização decidiu alargar o horário dedicado às sessões de autógrafos com os autores. Além dos já habituais períodos durante os fins de semana, este ano haverá sessões adicionais às sextas-feiras, entre as 18.00 e as 20.00.
Nesse mesmo horário, mas de segunda a quinta-feira vai decorrer a Hora da BD, um período durante o qual os visitantes poderão beneficiar de descontos de até 15% na compra de livros, destaca a diretora do festival.
A responsável tem boas expetativas em relação ao número de visitantes na edição deste ano, esperando superar os números de 2024. “No ano passado tivemos 19 mil visitantes, mas acreditamos que nesta edição vamos ultrapassar esses números. Estamos a contar com a presença de um número que ronda os 20 a 22 mil visitantes”, conclui.
Esta 36.ª edição é concluída com a cerimónia de entrega dos Prémios de Banda Desenhada da Amadora, que atribui cinco mil euros à Melhor Obra de Banda Desenhada de Autor Português.









