António Vitorino acusa Moedas de ter deixado a cidade nos “cuidados intensivos”

Jantar-comício dos quatro partidos da coligação liderada pelo PS em Lisboa juntou mais 1000 pessoas no pavilhão do Casal Vistoso. Alexandra Leitão prometeu Fundo de Apoio às Vítimas do Elevador da Glória logo nos primeiros 30 dias de mandato. Dando alfinetadas na PCP, elogiou os parceiros de coligação que puseram “os interesses de Lisboa à frente de todos os outros interesses”. O mandatário da coligação António Vitorino arrancou muitos aplausos com uma intervenção centrada na inoperância da liderança de Carlos Moedas, que deixou Lisboa “nos cuidados intensivos”.  

António Vitorino, mandatário da coligação Viver Lisboa (PS/Livre/BE/PAN), foi o primeiro a subir ao púlpito no jantar da candidatura liderada pela socialista Alexandra Leitão, que reuniu ontem, dia 6 de outubro, mais de mil pessoas no Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa.

O ex-governante começou por considerar que o jantar-comício “é a arrancada para a vitória” nas eleições de 12 de outubro.

“Esta noite é arrancada na reta final para dizer a todos os lisboetas que temos toda a confiança na vitória da Alexandra, que será a próxima presidente da capital do país”.

Vitorino instou todos os presentes para “mobilizarem todos os lisboetas a votaram no projeto ‘Viver Lisboa’”, pois é a candidatura de “um sonho” que tem uma visão cosmopolita, mas “inclusiva”, o sonho de uma cidade “que não deixa ninguém para trás”, a visão de uma cidade acolhedora “mas que precisa de cuidados intensivos”, que está entregue a uma “vil e apagada vivência” ao “desleixo, a incúria ao abandono”, num projeto político “que, nos últimos 4 anos, viveu à custa dos projetos que tinham sido lançados pelo executivo anterior”.

António Vitorino considerou que Lisboa está a ser governada “pelas redes sociais” e carece de “empatia”, de um “coração que bata pela cidade de Lisboa”.

“Esta coligação é o fruto de uma vontade de convergência entre várias forças políticas e muitos independentes no respeito pela identidade de cada uma das forças aqui presentes e, por isso, sinto-me à vontade, para aqui hoje perguntar àqueles que não se juntaram, àqueles que não quiseram juntar-se, como é que se sentiriam, na noite de domingo, se a dispersão de votos abrisse a porta à apagada e vil tristeza da continuidade”, perguntou ao PCP, apesar de não dizer o nome do partido que decidiu não integrar esta coligação e concorrer sozinho.

O antigo comissário europeu foi mais longe e quis saber como se sentiriam se a continuidade de Carlos Moedas “acabasse por abrir a porta a uma influência desmedida nos destinos de Lisboa, da direita radical e populista que faz campanha contra a democracia, contra a liberdade e contra o poder local”.

“Já é tempo de votar numa mulher para presidir a Câmara de Lisboa, coisa que nunca sucedeu”, pediu.

Alexandra Leitão: Moedas, o autarca que “falhou em tudo”

A cabeça de lista da coligação Viver Lisboa considera que o atual presidente da autarquia lisboeta falhou na habitação, higiene urbana e mobilidade da cidade. Num jantar-comício que reuniu mil apoiantes, apresentou medidas urgentes para os primeiros 30 dias de governação.

Alexandra Leitão manifestou a vontade de “devolver a cidade aos lisboetas” e trabalhar para “uma cidade mais justa, mais coesa, mais igual, com mais e melhor habitação, melhor mobilidade, mais cuidada, mais limpa, mais verde”, o que passa por “afastar Carlos Moedas”.

Para Leitão, o atual presidente da autarquia “falhou em tudo”, afirma, exemplificando com as áreas da habitação, da higiene urbana e da mobilidade. Pelo que “Lisboa merece muito mais”. E precisa de mais exigência “com todos, sem admitir desresponsabilizações, nem passa-culpas, a começar pela câmara” e não “de unicórnios”.

A candidata desta coligação de esquerda comprometeu-se com várias medidas “não nos primeiros 100 dias, mas nos primeiros 30”. Entre elas está a criação do fundo de apoio às vítimas do acidente no elevador da Glória, uma providência cautelar contra o aumento dos voos no aeroporto de Lisboa, aprovar o regulamento do alojamento local e promover “uma grande operação de higiene urbana” na cidade.

Alexandra Leitão agradeceu ainda aos muitos independentes que fazem parte das listas da coligação e que a apoiam e aos partidos parceiros que “souberam pôr os interesses de Lisboa à frente dos seus próprios interesses”.

A candidata garante conhecer os problemas da cidade e “não foram unicórnios” que lhe transmitiram anseios e preocuopções, “foram empresários e comerciantes reais de Lisboa – desde hoteleiros a donos de lojas de bairro – preocupados com os buracos nas ruas, com o lixo à sua porta, com as pragas de ratos e baratas que invadiram a cidade”.

Apelou ao voto dizendo que “nada é irreversível. Mas quanto mais deixarmos crescer o fosso da desigualdade em Lisboa, mais difícil será́ voltar a superá-lo.” “Cada ano perdido é uma oportunidade desperdiçada para garantir habitação acessível, melhorar os transportes e cuidar do espaço publico, com um custo humano e social enorme”, avisou a socialista.

Aos presentes, pediu que “imaginem o que será́ acordar para mais quatro anos de Carlos Moedas” na segunda-feira: “Mais propaganda, mais desculpas, mais vitimização, mais descuido e abandono”.

Coligação como a “força transformadora” de que Lisboa precisa

José Luís Carneiro, secretário-geral do PS, defendeu que o “voto consequente” em Lisboa é na “alternativa, séria e credível” liderada por Alexandra Leitão. Elogiou ainda a “sensibilidade, força e capacidade para ser intransigente quando tem que ser com aquilo que é fundamental” da cabeça de lista.

“Como tens dito e bem, isso é ser radical nos valores e nos princípios. Eu também sou radical nos valores e nos princípios e não é necessário afirmá-lo com uma tempestade. Não. É preciso perseguir um caminho”, enfatizou.

Carneiro lamentou que nos dias de hoje a vida política em Portugal esteja “marcada pela indiferença e pela insensibilidade” e lembrou que no parlamento questionou o primeiro-ministro sobre listas de espera de cirurgias oncológicas, rendas moderadas ou falta de vagas de creches e de jardins-de-infância.

“O primeiro-ministro não me respondeu. Virou-se para temas laterais que é isso que eles sabem fazer. É desviar as atenções e colocar na agenda mediática os temas que não interessam às pessoas”, acusou.

Segundo o líder do PS, a candidatura encabeçada por Alexandra Leitão “é uma grande responsabilidade porque a Europa olha e inspira-se em Lisboa”.

Foi neste momento que Carneiro recordou o legado dos antigos presidentes socialistas da câmara da capital, começando por Jorge Sampaio, “fonte de transformação”, João Soares “trouxe a erradicação das barracas e terminou com o Casal Ventoso, marcas humanistas nessa cidade”, António Costa “fez o reencontro da cidade com o rio”, Fernando Medina “que fez com que Lisboa fosse mesmo a capital verde europeia”, enalteceu.

Segundo o líder do PS, estas “são marcas” das quais os socialistas se orgulham, defendendo que a candidatura da Alexandra Leitão “é já uma forma de ver e compreender o mundo”, aquilo que identificou como “uma casa comum onde estão todas e todos quantos quiseram estar depois de convidados”.

O líder socialista anotou ainda a união da esquerda em torno de um projeto socialista para a capital. “Quero dar as boas-vindas a este grande movimento e dizer que é um orgulho encontrar-me hoje aqui convosco, com Rui Tavares, Marisa Matias, Inês Sousa Real, nesta que já é a forma de ver o mundo do PS”, enalteceu.

A ambição que a coligação tem para Lisboa não foi esquecida por Carneiro: “Que seja uma luz, que seja uma força transformadora da vida em sociedade e que seja um modo de entender e de compreender o mundo, que é a nossa visão humanista da vida, das sociedades e do mundo”, afirmou.

Moedas “refém da extrema-direita”

Representantes de todos estes partidos também falaram comício. Pelo Livre, Rui Tavares, criticou Carlos Moedas porque “reunião após reunião, proposta após proposta, voto após voto” “simplesmente desleixou a cidade, negligenciou a cidade, não ouviu, não participou, não respondeu perante os vereadores”. Para Tavares, seria uma “irresponsabilidade” deixar Carlos Moedas mais quatro anos a governar a cidade de Lisboa. Até porque Moedas deu a mão a um parceiro de coligação, a Iniciativa Liberal, que tem no seu programa o “despedimento de funcionários públicos”, mas “não tem a coragem de dizer quem são esses funcionários. Serão os cantoneiros da Câmara? Quais os funcionários”, questionou.

Para Rui Tavares, A coligação liderada por Moedas “pode ficar refém da extrema-direita” a partir de domingo. É assim “uma responsabilidade histórica” mudar de executivo porque mais quatro anos deste deixar-nos-iam com “uma cidade dividida, polarizada, a continuar a expulsar a classe média e a classe trabalhadora e a deixarem uma Lisboa para o futuro onde as forças do progresso, da ecologia e do humanismo estariam politicamente acantonadas durante décadas”.

Lisboa para pessoas e não para “unicórnios”

Marisa Matias, dirigente nacional do Bloco de Esquerda, destacou que é objetivo da coligação “Viver Lisboa” “tornar Lisboa uma cidade justa para todas as pessoas, uma Lisboa que não se rende à especulação, mas que se abre à solidariedade. Uma Lisboa onde se possa viver, e não apenas sobreviver”, “que não é só para quem nos visita, mas também para quem cá vive e trabalha, em que o futuro não seja decidido em gabinetes fechados, mas construído com a participação ativa”.

A bloquista, que falou em representação de Mariana Mortágua, apontou a bateria das críticas para a crise na habitação em Lisboa. Para ilustrar os problemas de habitação na cidade, contou a história de uma amiga, nascida no Bairro da Graça, que recebeu uma notificação do senhorio a aumentar a renda, que “não aguenta uma renda que lhe leva dois terços do ordenado” e que pediu apoio à Câmara, mas obteve como resposta que “não há nada a fazer”. A história de Sofia é a de “milhares” em Lisboa que todos os meses “tremem com medo de receberem a carta que vai subir a renda e que as vai expulsar da cidade” e que “passam a vida nos sites de casas a procurar, a procurar, a procurar um T0 onde possam viver…”

A dirigente bloquista sublinha que nos últimos quatro anos “as rendas subiram 70%” e recorda a proposta de “renda moderada” do Governo de 2300 euros, quando o salário médio é de cerca de 1500 o salário mínimo é de 870. Carlos Moedas, afirma Matias, tem a mesma política: “as suas propostas foram sempre de rendas que ninguém pode pagar”. Para além disso, há um ano “tentou vender sete terrenos municipais à especulação imobiliária que poderiam ter permitido a construção de centenas de casas municipais”.

Pelo contrário, “Alexandra Leitão quer governar para os jovens, para as famílias, para as pessoas idosas, para quem vive do seu trabalho, não para os unicórnios ou para a autopromoção”.

Marisa Matias invocou ainda a coligação que Jorge Sampaio liderou para derrotar a direita, afirmando “somos herdeiras, somos herdeiros dessa força”. “E se em 1989 foi necessário juntar forças para lutar pela habitação, pelos transportes, por melhor higiene urbana, agora é ainda mais e é preciso virar a página ao desastre que foi o mandato de Carlos Moedas. Se ganhar, Moedas quererá levar o seu programa ainda mais longe, agora com a IL e, quem sabe, com a extrema-direita”, indica.

Acabar com a Lisboa de “roteiros turísticos e unicórnios”

A porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, também marcou presença no jantar. A deputada, nascida e criada em Lisboa, lembrou “com saudade” a cidade que “tinha jardins e espaços verdes”, onde se “brincava livremente”, uma realidade que terá sido evaporada pela política do atual presidente da autarquia que deixou a vivência em comunidade para trás e virou Lisboa para “roteiros turísticos e unicórnios”.

A responsável defende que o voto dos lisboetas em Alexandra Leitão significa a aposta “certa”, que tem pautado a sua intervenção “pela razão, o humanismo, pelo coração”, tendo sublinhado que não há “outra oportunidade de fazer história” em Lisboa a não ser elegendo Alexandra Leitão como presidente de Câmara.

Para Inês Sousa Real, Alexandra Leitão lidera uma candidatura “por mais espaços verdes e habitação digna, por uma cidade para as gerações mais novas”, com alojamento para estudantes e que “não deixa os animais para trás”.

 

 

 

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