Quim Barreiros e o ator Carlos Cunha foram duas das personalidades da cultura portuguesa distinguidas pela Junta de Freguesia das Avenidas Novas nas cerimónias comemorativas do seu 12º aniversário, que também homenageou o antigo ministro dos Governos de Cavaco Silva Mira Amaral, a arquiteta Filipa Roseta, Fernanda Bandeira, diretora da biblioteca das Galveias, o relojoeiro Maria Mendes, Almira Vila Nova, o empresário Hélder Freire Costa e a pastelaria Versailles. Segundo Daniel Gonçalves, ”esta Freguesia tem memória, tem identidade, e sobretudo tem um futuro a construir”.
O presidente da Junta de Freguesia das Avenidas Novas, Daniel Gonçalves, considerou que as comemorações do 12º aniversário da autarquia ”é a prova viva de que a nossa Freguesia é feita de laços, de proximidade, de olhares que se reconhecem nas ruas, de vozes que se cumprimentam e se apoiam”.
Para o autarca, que se encontrava acompanhado pelo vereador e vice-presidente da câmara de Lisboa, Diogo Moura, e pela bastonária da Ordem dos Contabilistas, Paula Franco, ”as Avenidas Novas não são apenas os edifícios, avenidas, ruas e praças. São as pessoas. São os fregueses e vizinhos que oferecem um sorriso, os comerciantes que dão alma aos espaços, as famílias que aqui cresceram, os mais velhos que guardam preciosas memórias e os mais jovens que, todos os dias, nos recordam que o futuro projeta-se já hoje”.
O ainda presidente e recandidato ao cargo fez questão de salientar que ”ao longo destes anos, enfrentámos dificuldades, celebrámos vitórias, levantámos projetos, transformámos espaços e construímos novas respostas sociais. E nada disto teria sido possível sem a vossa participação, sem a vossa energia, sem os vossos gestos – por mais pequenos que pareçam ser, pois são eles que sustentam a nossa força comum”.
É, por isso, que afirma ”hoje não celebramos apenas uma data. Hoje celebramos pessoas. Celebramos a confiança que partilhamos, a proximidade que nos une, o orgulho de sermos Avenidas Novas”.
O recandidato à autarquia, que prometeu que enquanto lhe confiarem essa responsabilidade, estará com a população, deixou também uma palavra aos colaboradores da junta.
”Sei bem o quanto se empenharam, o quanto deram de si, para que a Freguesia avançasse e para que este dia fosse possível. Nada se constrói sozinho e muito menos sem dedicação verdadeira. Vocês são parte essencial desta história”, afirmou.
Os homenageados
As comemorações do 12º aniversário decorreram este ano, se assim se pode dizer, também sob o signo da homenagem a “oito pessoas e entidades que se notabilizaram a nível profissional, social, cívico, cultural ou outro, sobretudo a quem deixou um legado marcante na freguesia e que, em função disso, constitui um exemplo para toda a comunidade”.
Dois nomes que todos conhecem e que marcaram a cultura portuguesa: Quim Barreiros, ícone da música popular portuguesa e do acordeão que nos faz rir e cantar há décadas, e Carlos Cunha, ator de referência cujo trabalho no teatro e na televisão reflete talento e dedicação à cultura portuguesa, foram as duas figuras distinguidas no decorrer da cerimónia comemorativa do 12º aniversário da junta.
«Nesta singela homenagem, a Junta de Freguesia das Avenidas Novas presta reconhecimento a Quim Barreiros, cantor e compositor que, com o seu talento, irreverência e enorme carinho pela nossa terra, tem levado o nome de Portugal aos quatro cantos do Munddo», justifica a autarquia.
A junta de freguesia considera que «mais do que um artista popular, é um verdadeiro embaixador da nossa identidade, da nossa cultura e da nossa hospitalidade. Obrigado, Quim Barreiros, por tantos nos dares e por tantos representares».
Com vasta fama nacional desde a década de 1980, Quim Barreiros é conhecido pelas suas letras de duplo sentido, normalmente de teor considerado brejeiro. É também, desde há décadas, um dos músicos mais bem-sucedidos em termos de popularidade junto do público português, independentemente do género, e a face mais conhecida da música ligeira portuguesa, vulgarmente conhecida como “música pimba” desde a década de 1990, prometendo continuar a cantar até aos ”103 anos”.
Por seu turno, Carlos Cunha tem 71 anos e mais de 50 anos de carreira. Conta que começou no teatro muito por causa do pai, Luís Cunha, conhecido como Luis dos Trapos, por estar ligado a lojas de roupa.
“Era um homem que frequentava muito o Parque Mayer, conhecia toda a gente e um dia o Vasco Morgado, avô do presidente da junta com o mesmo nome, disse se eu não queria experimentar porque estavam a precisar de um miúdo para entrar numa peça, e pronto, deu-se a minha estreia.”
Carlos Cunha estreou-se em 1973 na peça “O Príncipe e a Corista” no Teatro Variedades. Desde então, participou em várias produções teatrais, como “Um Padre à Italiana”, “Há Petróleo no Beato” e “Cheira a Revista”. O ator, em tom irónico, fez questão de sublinhar ”, que ”não foi ele que escolheu o teatro, mas sim o teatro que o escolheu”.
No campo das ciências exatas, o primeiro homenageado foi Luís Mira Amaral, ministro do Trabalho e Segurança Social (1985-1987) e ministro da Indústria e Energia (1987-1995) dos governos de Cavaco Silva.
Mira Amaral, que ao longo da sua vida se destacou em várias ”dimensões” profissionais, nomeadamente engenharia, economia e gestão, frisou que ”era um jovem da Praça de Londres”, relembrando as corridas de automóveis que fez entre a Praça de Londres e a Avenida dos Estados Unidos da América.
O ex-ministro de Cavaco Silva – gestor de várias empresas e bancos e “Chairman” da BUSY ANGELS, SA e membro do Conselho Geral e Presidente dos Conselhos da Indústria e Energia da Confederação Empresarial de Portugal – reconhece que, ainda hoje, continua a frequentar a Mexicana.
Autora de diversas publicações, nacionais e internacionais, nas áreas da Arquitetura e Cidade, focadas nos temas da modernidade, sustentabilidade, ensino e inovação, Filipa Roseta foi outra das homenageadas pelo trabalho desenvolvido, como vereadora e técnica, na transformação urbana de Lisboa, criando novos espaços urbanos.
Professora associada da Faculdade de Arquitetura, Filipa Roseta, que nasceu e viveu nas Avenidas Novas, defende que ”não há igualdade de oportunidades, enquanto não existir igualdade no acesso à habitação, saúde e educação”.
Das ciências exatas aos livros
Das ciências exatas aos livros, a freguesia distinguiu a diretora da biblioteca do Palácio Galveias, Fernanda Bandeira, que levou ‘milhares de livros’ aos fregueses das Avenidas Novas, demonstrando que ”os livros alimentam quase tanto como a cozinha”.
Ainda na área da literatura foi homenageada Almira Vila Nova, uma gestora apaixonada pela literatura que é proprietária de uma das ”mais nobres livrarias das Avenidas Novas”.
Promotora de momentos literários inesquecíveis na freguesia, Almira Vila Nova promete manter viva ”a união e o espírito social da cultura” na vida das comunidades.
Intimamente ligado à literatura está o teatro e, por isso, a homenagem ao empresário Hélder Freire Costa que, em 1975, assumiu a responsabilidade de dirigir o Teatro Variedades, mantendo viva a memória do teatro popular.
O empresário, um homem de causas, do teatro e do público, é um dos grandes defensores do teatro de revista.
Com 90 anos de idade, António Maria Mendes é o relojoeiro mais antigo das Avenidas Novas. Acompanhado pelo filho, o mestre relojoeiro subiu ao palco para receber a distinção que premiou a sua ”dedicação” à freguesia e que deixou uma marca inesquecível na comunidade.
Versailles distinguida
Por último, foi distinguido o espaço mais icónico de Lisboa, onde a tradição ainda é o que era – a pastelaria Versailles. António Nunes Marques e Paulo Pereira Gonçalves, os proprietários, subiram ao palco para receber a distinção em nome desta pastelaria, fundada em 25 de Novembro 1922 por Salvador José Antunes.
Pessoa com formação francesa, deu-lhe o nome de “Patisserie Versailles”. Era um português que adorava a pastelaria francesa e a arte, inicialmente na Avenida da República nº15, a nova casa no estilo de Luís XIV, tinha um ambiente muito selecionado decorado com pinturas de Benvindo Ceia, retratando os lagos de Versailles, e o trabalho em talha por Fausto Fernandes.
Frequentada por diversas personalidades lisboetas, a Versailles tinha um atendimento distinto feito por empregados com “fardas impecáveis”. Com a mudança das Avenidas Novas entre os anos 80 e 90, a ocupação residencial diminuiu muito, o que acabou por afetar a vida do café.
Miguel Gameiro e a semana cultural
O músico Miguel Gameiro encerrou esta cerimónia interpretando vários êxitos seus.
Para celebrar o 12.º aniversário da Freguesia de Avenidas Novas, realizou-se uma semana cultural, recheada de música, teatro e momentos inesquecíveis para toda a família.
Assim, entre 22 e 29 de setembro, aconteceu, no Jardim do Arco do Cego, um Concerto da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, com homenagem especial a Carlos Paredes, uma peça de Teatro “Manual de Instruções para Mulheres e Homens”, o Concerto “The Jukeboxers”, tributo vibrante à música dos anos 50 e 60, a “Serenata” de Carlos Guilherme, fados de Coimbra e música napolitana, o Musical “Carmen”, espetáculo da Associação Setúbal Voz, o Teatro Infantil “Visita de Estudo – Uma Visita Diz Tudo” e um concerto dos Alunos da School of Rock.