“Sou uma autarca que gosta de ouvir para governar”, defende Elisa Madureira

Depois de um interregno de alguns anos, a socialista Elisa Madureira volta a candidatar-se pela coligação “Viver Lisboa” à presidência da Junta de Freguesia da Penha de França. Revela que resolveu interromper a reforma para concluir a missão de ser “uma autarca que gosta de ouvir para governar”. E diz que a sua intervenção como autarca se assemelha ao trabalho de “voluntariado”.

Elisa Madureira está regresso à Penha de França para tentar reconquistar a presidência da Junta de Freguesia. Por decisão própria, “por cansaço”, a histórica autarca socialista afastou-se das lides autárquicas no final de seu segundo mandato em 2015, sendo então substituída pela atual presidente de Junta, Sofia Dias, que era a sua nº 2 e que já não se pode recandidatar.

Em entrevista ao “Olhares de Lisboa”, Elisa Madureira admite que não estava nos seus horizontes um regresso à política, até porque estava “descansadinha em casa a viver a reforma”. Mas vida tinha outros planos para a autarca.

“Neste momento, com a não continuação da Sofia Dias no cargo, fui convidada pelo Partido Socialista para voltar a candidatar-me. Não estava nos meus objetivos voltar à Junta de Freguesia, queria estar sossegada, porque eu acho que quando saímos devemos deixar governar quem nos substitui. Mas acabei por aceitar o desafio e cá estou”.

Com uma carreira profissional ligada à gestão na área alimentar, mas também ao sindicalismo — Elisa Madureira é um dos fundadores da União Geral dos Trabalhadores (UGT) – revela que aceitou o desafio de voltar a liderar uma Junta pelo compromisso “com o sentido de missão e espírito de entrega total à causa pública”, de voltar a viver “na rua, para ajudar a resolver os problemas das pessoas”.

“O meu compromisso é claro: proximidade com toda a população, rigor, transparência e experiência ao serviço da nossa comunidade. Governar a Penha de França é estar presente todos os dias. É percorrer rua a rua, ouvir os fregueses, conversar com os comerciantes, apoiar as associações e trabalhar lado a lado com todas as forças vivas da nossa freguesia. É unir esforços para que cada um de nós sinta que faz parte desta construção comum”.

Apresentação mais “informal”

Elisa Madureira abdicou de fazer a apresentação da sua candidatura à população– realizou apenas um almoço num restaurante local com a população. A candidata explica que não foi por sobranceria ou receio da avaliação pública do seu projeto; foi, pelo contrário, por considerar este género de apresentações são demasiado formais para o seu entender daquilo que deve ser o trabalho de um autarca.

“Não quero ser mal interpretada, mas para mim uma apresentação pública é muito formal e não é para a população em si, é para os amigos, para os camaradas do partido, mais propriamente do que para a população. Eu pretendia apresentar o meu projeto de forma mais informal. As pessoas conhecem-me, ainda se lembram de mim, e eu gosto é de andar no terreno, junto das pessoas… continuo a ter muito apoios e acho que as pessoas ainda se lembram da minha intervenção como autarca e não foi necessária à minha apresentação. Preferi chegar aos fregueses, aos séniores, que é uma área pela qual me preocupo muito. Os ficam em casa e é preciso saber como eles estão”.

Ser autarca é uma espécie de “voluntariado”

No programa, a candidata diz que é preciso “dar um novo impulso à Freguesia”. Questionada sobre a liderança anterior deixar estagnar a Penha de França, a candidata diz que “não estou aqui para criticar o trabalho das outras pessoas. Cada um faz o melhor que sabe e pode. Somos pessoas diferentes e talvez tenhamos prioridades distintas”.

Elisa Madureira assume que aquilo que distingue a sua candidatura das demais, é o peso da experiência, mas também a “própria forma como eu vejo o trabalho de autarca”, que também “é diferente”. “Acredito que esta missão é uma espécie de voluntariado, pela qual me irei bater. Não tenho ambições de fazer carreira política, já estava reformada, na tranquilidade da minha casa, mas aceitei o desafio para tentar deixar a freguesia um bocadinho melhor do que quando aqui cheguei”, aponta.

Na rua é que se faz caminho

Dada a experiência anterior na liderança da Penha de França, a candidata socialista acredita que os eleitores da freguesia irão reconhecer o seu trabalho anterior e voltar a apostar numa liderança de proximidade, que é a “marca” da sua gestão.

“Poderá considerar que estou a ser vaidosa, que não é caso, mas se há orgulho que tenho é o de entrar num café ou de falar com os idosos e me perguntarem diretamente se vou voltar para liderar a freguesia. Não estava à espera que, depois de tantos anos, os fregueses manifestassem esta vontade em apoiar-me. Acredito na vitória porque o contacto com a população tem sido muito positivo e as pessoas dizem-me que irão voltar a apostar em mim”.

Esta “proximidade” com a população e com os trabalhadores da Junta, de resto, continua a ser um dos trunfos da sua liderança, diz Elisa Madureira.

“A agenda da minha campanha foi feita por mim. Tive o cuidado de fazer com que a nossa candidata à Câmara, Alexandra Leitão, viesse ter connosco ao Centro de Limpeza da Junta da Penha de França, porque, quando se ouve na rua aquilo que não está a correr bem, a minha procuração imediata é para resolver o problema. Será porque não temos o pessoal motivado? Sempre tive esta preocupação, que já vem do tempo em que fui sindicalista. Quando era presidente da Junta, vinha almoçar com eles muitas vezes para saber como estavam a correr as coisas no terreno. No pelouro da higiene urbana, nunca tive um vogal para a área, porque o pelouro era meu. Agora, depois das eleições, vou fazer um levantamento com o chefe do posto e com os trabalhadores, para perceber se há algum descontentamento entre o pessoal”.

A candidata acredita que o facto de ter sido um dos fundadores da UGT tem peso na sua intervenção como autarca, tendo mais poder reivindicativo junta da Câmara.

“Junto da Câmara, enquanto presidente da Junta, vou pedir reuniões, insistir, insistir e insistir para que a voz da nossa população seja ouvida. Depois da reforma e da transferência de competências para as juntas, as competências estão definidas, mas poderá haver falta de recursos e má ligação entre a Câmara e as juntas”.

Craque da higiene urbana na equipa

Elisa Madureira elege a higiene urbana como uma das prioridades a serem resolvidas. “Fui buscar um engenheiro, que trabalhou muitos anos nesta área da Câmara é uma referência na área, para nos fazer um levantamento da situação. Este técnico superior, que já está reformado, vai ajudar-nos a operacionalizar as intervenções que temos de levar a cabo na higiene urbana”.

Para além da higiene urbana, “um problema sentido em toda a cidade”, é objetivo dar uma vida aos jardins e espaços verdes da freguesia e o estacionamento. “Vou preocupar-me com a reconstituição dos espaços verdes na freguesia, que não tem áreas verdes. Em termos da falta de estacionamento, vou identificar os muitos terrenos baldios que existem na freguesia para, conjuntamente com a CML, poder transformar estes terrenos em espaços para estacionamento. Vou estabelecer diálogo com a CML e a EMEL para saber o que pode ser feito, reunindo também com os moradores, porque é fundamental ouvir sempre a voz da população”.

Em termos de segurança, “só faz sentido falar de segurança se houver uma boa iluminação. Esta freguesia está muito mal iluminada e, estando mal iluminada, aumenta a insegurança. Repito que a freguesia tem um claro problema de iluminação e será uma das prioridades iluminar condignamente a Penha de França”.

Elisa Madureira pretende também melhorar os parques infantis na Penha de França. “Quando passo na General Roçadas e vejo que está um parque há mais de ano sem os equipamentos, não faz sentido”.

Intervenção “urgente” nos bairros municipais

Os bairros municipais são muitas vezes apontados a dedo por serem potencialmente barris de pólvora prontos a explodir a qualquer momento. A candidata dá como exemplo a situação num dos bairros sociais da Penha de França, onde a população estará alegadamente entregue a si própria.

“Na Quinta do Lavrado, por exemplo, é um bairro municipal em que as entradas para os prédios dão para o lado do cemitério… fiquei em choque em ver essa situação. Com tanto espaço de frente, não consegui perceber as razões da construção ter sido feito com que as entradas dos prédios estejam praticamente em cima do cemitério. Depois, queixam-se que as pessoas estejam revoltadas. Pelo explicado, é imperativo construir um parque infantil no bairro para que os miúdos não se sintam abandonados e revoltados”.

E exemplifica com outra incompreensão. “A Quinta do Lavrado tinha apenas um café, que está fechado. Os moradores disseram-me que o café não se aguentou porque pagava uma renda como se estivesse no centro de Lisboa, na Avenida de Roma. Não pode ser. Aqueles moradores precisam de alguém que olhe por eles e crie as condições para que não se sintam afastados, que construa equipamentos e valorize o bairro. Estes tipos de situações só podem ser resolvidos por quem anda na rua e percebe os porquês das situações. A mim, ajuda-me muito andar na rua para governar”.

Em resumo do programa, Elisa Madureira revela aquilo que vai mudar na Penha de França com a sua liderança.

“Tenciono criar mais espaços verdes, melhorar substancialmente a limpeza e a iluminação. Paralelamente, pretendemos criar ciclovias, conciliando com as melhorias no trânsito, porque temos várias situações que me preocupam, como cruzamentos perigosos, lombas feitas pela metade em vez de estarem completas, etc. No fundo, é meu objetivo cuidar melhor toda a freguesia.

Também vou ter especial atenção às melhorias nas escolas. Por exemplo, no meu tempo as atividades extracurriculares (AEC) das escolas eram da responsabilidade da Junta, mas neste momento estão entregues a privados. Não estou a criticar a decisão, mas vou avaliar o funcionamento das AEC e tomar decisões. Vou também criar uma Universidade Sénior, e ficar muito atenta às necessidades da população idosa, porque a freguesia tem muitos seniores, que têm necessidades específicas. A Junta vai investir em andarilhos e bengalas, por exemplo, para emprestar à população.

Vamos também avaliar o regresso da nossa Escola de Teatro, que deixou de existir, vendo se temos condições para reativá-la.

Por outro lado, vamos tentar arranjar um local para fazermos as nossas reuniões da Assembleia de Freguesia, pois, neste momento, as reuniões são realizadas no Salão Paroquial.

Vou insistir no Plano de Urbanização do Vale de Santo António, que já tinha sido aprovado aquando do meu tempo na Junta, mas continua sem ser feito. É nosso objetivo criar no Vale de Santo António os equipamentos que estão em falta na freguesia, como um ginásio, um teatro, entre outras valências”.

Ligação às Marchas da freguesia

A candidata socialista diz que foi responsável pelo renascimento da Marcha da Penha de França, no seu primeiro mandato. Esta iniciativa, segundo diz, criou laços de amizade entre a autarquia e os marchantes.

“Foi eu que reativei as Marchas na freguesia e ainda hoje as pessoas, os marchantes, têm grande apreço pela minha intervenção. Quando fiz a minha apresentação (não oficial), que foi feita nos armazéns/oficinas da Junta de Freguesia junto dos trabalhadores, houve
muita gente das Marchas, do Alto de Pina e Penha de França, que esteve presente para me mostrar apoio, mesmo aqueles que não puderam estar presentes no almoço, passaram por lá para dar apoiar”, assegura.

A terminar, Elisa Madureira diz-se reconhecida pelo trabalho anterior como autarca, mas não embarca em gestões “autistas” que não escutam a voz do povo, admitindo inclusive que toma decisões após andar na rua a ouvir as pessoas.

“Quando ando na rua, costumo dizer às pessoas que o meu cartão de visita é o meu passado como autarca. Quando as pessoas me dizem que não me conhecem, digo sempre: ‘tem um amigo ou familiar mais velho, pergunte pelo meu trabalho’. Sou uma pessoa muito determinada e que toma decisões consoante aquilo que vejo no terreno. Tenho o meu programa, mas vou acertando-o conforme aquilo que vejo na rua, ouvindo as pessoas, ponho-me sempre do outro lado. Não tenho qualquer problema em alterar os meus projetos depois de ouvir as pessoas. Sou uma autarca que gosta de ouvir para governar. É para isso que cá estou”.

Programa “Viver Penha de França”

O programa “Viver Penha de França” assenta no essencial nos transportes mais acessíveis, para ligar melhor o bairro e aliviar a pressão do estacionamento; higiene urbana visível, com ruas limpas e manutenção regular; mais e melhores espaços verdes, cuidados e acessíveis, devolvendo qualidade de vida a quem vive a Penha de França; estacionamento organizado e inteligente, para devolver espaço e tempo aos fregueses; mais segurança, com presença ativa e soluções práticas, sobretudo junto ao rio.

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