Frades franciscanos alugam quartos a professores deslocados

O Convento da Luz, em Lisboa, abriu as suas portas para receber professores deslocados. Os frades franciscanos decidiram arrendar 8 quatros para fazer face às dificuldades que os docentes têm em alugar casa na Grande Lisboa.

O acesso dificultado à habitação, a preços de luxo, está a inviabilizar a vinda de professores para a Grande Lisboa, pois não conseguem pagar um quarto – e muito menos uma casa – e optam por pôr de lado a ideia de exercer a docência na capital e inclusive nos subúrbios da cidade.

Há câmaras municipais, como a de Oeiras e de Cascais, que estão a tentar mitigar a escassez de professores recorrendo à oferta de habitação pública para captar estes profissionais para as suas escolas, mas a realidade pura e dura traduz a evidência de que é praticamente impossível aceder ao mercado imobiliário aos preços atuais.

Aberto a todas as confissões  

Foi a pensar neste vedar do acesso a um bem essencial ao comum dos mortais, consagrado na Constituição, a habitação, que os frades franciscanos decidiram abrir portas do seu reduto para acolher professores deslocados (e estudantes de doutoramento), no Largo da Luz, em Lisboa, nas instalações do Convento.

A fé que professam não é um critério para serem acolhidos nesta casa. “Desde que a pessoa aceite, não fazemos qualquer exigência, nem de terem de participar em atos religiosos nem de terem um culto específico”, explica à Renascença frei Daniel Teixeira.

Frei Daniel Teixeira é o guardião da casa, o posto mais alto na hierarquia do local, e explica à rádio católica que o projeto nasceu da vontade de combater a “situação de emergência e necessidade de habitação”, tendo assim que surgiu a ideia de arrendar quatros a preços abaixo dos praticados no mercado privado — os Franciscanos já têm esta iniciativa a funcionar no Porto e em Leiria há cerca de um ano.

Cada um dos 8 quarto tem um secretária, um armário e uma casa-de-banho individual. Para se alimentaram, os hospedes poderão partilhar uma cozinha comum, estando tudo preparado para que possam preparar as suas refeições.

Exige-se silêncio

Mas os frades clamam pelo dever de obediência à lei da introspeção (do silêncio) para levarem a cabo as suas preces e orações, não sendo possível trazer pessoas de fora para pernoitar nas instalações.

De acordo com o responsável, o preço será sempre abaixo do nível de mercado, mas ajustável a cada situação. Servirá para manutenção e amortização do investimento feito no espaço.

Para o frei Daniel Teixeira, a Igreja pede-nos que saiamos da “indiferença”. Havendo espaço para fazer mais e ajudar quem precisa, “não podemos ficar instalados comodamente nos nossos conventos”.

“Não estávamos habitados a ter leigos habitualmente no nosso espaço”, reconhece o líder da casa franciscana em Lisboa sobre a abertura do local a leigos, afirmando também que este exemplo pode abrir caminho a que outras instituições façam o mesmo.

Foto de capa: Projeto e-Carnide / Inventário do património cultural de Carnide, em Lisboa

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