O conhecido advogado e político Pedro Cabeça apresentou hoje o seu romance “Até as galinhas têm nomes de santos”, dado à estampa pela editora Étimos, no Arquivo Municipal de Loures. O autor descreve esta obra como uma imersão no Portugal do Estado Novo, contando a história de António, um homem comum, mas que soube desembaraçar-se das amarras de um destino castrador através do riso.
“Até as galinhas têm nome de santos”, da autoria de Pedro Cabeça, marca a passagem do escritor para a ficção. Depois de “Olhos Gastos”, obra que reúne contos e poemas, o autor apresenta agora o seu primeiro romance.
Nascido no Entroncamento, em 1968, mas a viver em Loures há muitos anos, Pedro Cabeça é um homem multifacetado. Considerado no meio judicial como um advogado brilhante, divide o tempo entre a barra do tribunal de Loures, os palcos de teatro, a política e a vida autárquica. O agora também escritor, foi mandatário da candidatura de Ricardo Leão às eleições autárquicas de 12 de outubro, onde Leão conquistou uma maioria absoluta, e é também apontado como o “homem por detrás dos bastidores” do Partido Socialista de Loures, onde coleciona amigos, admiradores e vitórias históricas — a eleição “inesperada” de Ricardo Leão no primeiro mandato face ao candidato favorito, o comunista Bernardino Soares, e a conquista de uma maioria absoluta do PS nas últimas eleições.
Justiça, política e arte
Pedro Cabeça assume que se “guia” por grandes paixões: a justiça, a política e a arte. Como advogado, sempre procurou a defesa da justiça social, entrelaçando-se a atividade jurídica com a política, onde está na barricada das lutas e das causas que promovem a igualdade e o bem-estar coletivo.
O advogado escritor revela que por detrás desses papeis existe um pulsar criativo, de amor às palavras e à escrita.
António, um português como nós
O personagem principal do livro “Até as galinhas têm nome de santos”, António, um camponês alentejano pobre e pouco instruído, nasceu em plena época salazarista, em que vivia com o pé descalço, com os pés na terra, e olhar voltado para longe, para o futuro. Cresceu entre o riso e o silêncio, apendeu a sobreviver à guerra (do Ultramar), às ausências e ao tempo. Certo dia, descobriu que rir é também resistir.
A obra é uma viagem pelas vidas de pessoas simples que sustentam um país inteiro, um romance sobre o amor a perda e a coragem de continuar, refere a editora.
No lançamento do livro, realizado no dia 28 de novembro no Arquivo Municipal de Loures, Pedro Cabeça salienta que foi seu objetivo retratar uma personagem “simples e normal”, mas que se apercebe que, apesar de estar amarrado a circunstâncias castradoras, não apontando para voos mais altos, António sabia que “tinha deixado muitas portas abertas” e que, através do riso, iria conseguir desatar os nós que o prendiam à fatalidade de ter o destino previamente traçado.
Pedro Cabeça refere que esta obra, que estava “escondida” entre os escritos antigos, “é uma tentativa de ouvir o país pelos seus silêncios”, retratando o ecossistema de um Alentejo de casas caiadas, “a Índia que ficou dentro de quem lá passou, a Guiné que feriu sem dizer, a vida de artista nómada que se salvou pelo riso”.
Para o autor, António é, no fundo, o homem comum. Um cidadão português que viveu entre as décadas de 1940 e 1970 tempos de obediência e de contenção, em que o Povo trabalhava mais do que sonhava e o medo e silêncio era natural. “Não era indiferença, era sobrevivência”. Naquele tempo, “viver sem discursos nem heroísmos, mas resistir ao silêncio, à pobreza e a injustiça era também um ato de coragem. Procurar o riso, a fé e amor, mesmo quando o mundo os negava”, explica.
Pedro Cabeça justifica que, a escolha do título, nasceu da constatação de que, mesmo nas vidas mais humildes, “há sempre um gesto de devoção. É uma frase que carrega ironia e ternura, o sagrado e profano de mãos dadas”, em que o humor assume a forma de sobrevivência “à dureza do tempo”.
Para o autor, todas as pessoas “importam e são importantes” e deve ser essa a “mensagem principal do livro”, acrescentando que, se o livro tiver um destino, “que seja este: lembrar-nos de que ninguém se faz sozinho e que a dignidade cabe tanto num trapézio como num banco de jardim”.
O “novo” Miguel Torga
A revisora Isabel Maurício, da editora Étimos, assume ter ficado surpreendida com a “evolução literária” do autor. Após ter passado a pente fino o primeiro livro de Pedro Cabeça, “Olhos Gastos”, a revisora revela que, à terceira página revista do novo livro, abandonou a sua revisão para o ler compulsivamente, enquanto leitora.
Isabel Maurício refere que a qualidade da escrita revelada por Pedro Cabeça nesta segunda obra “superou largamente as expetativas”, fazendo inclusive lembrar o seu escritor favorito: o genial Miguel Torga, na obra os “Contos da Montanha”.
Depois de ler uma passagem de um texto de cada autor (Miguel Torga e Pedro Cabeça), em que encontrou semelhanças de construção de personagens e narrativas de dureza (e beleza sublime) da vida rural, vaticinou que o novo escritor está talhado para a “eternidade”, comparando-o a Miguel Torga, defendendo, aliás, que Pedro Cabeça “é o segundo Miguel Torga”.
Humilde, Pedro Cabeça defende que a comparação é manifestamente exagerada. “Agradeço muito os elogios da Isabel, mas ainda tenho de comer muita sopa para chegar lá…”, reconheceu, bem-humorado.
A sessão de lançamento da obra contou com a presença muitos amigos e a família do autor, de várias figuras do território, como a vice-presidente da Câmara de Loures, Sónia Paixão, o vereador André Antunes, o deputado e autarca Ricardo Lima, o presidente da junta de freguesia de Loures, Eugénio Oliveira, assim como vários magistrados do Tribunal de Loures.
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