Na tomada de posse, o socialista Vítor Ferreira abriu a porta da Câmara da Amadora à oposição. Os socialistas venceram as eleições, mas estão a braços com a necessidade de negociar a entrega de pelouros aos partidos da oposição para exercer uma governação mais fluída. Vítor Ferreira avisa, porém, que a vereação dos outros partidos “tem de estar em leal sintonia com o presidente de câmara”. O edil assegura que a habitação será a prioridade do município.
As últimas eleições para o Parlamento Europeu mudaram o cenário de liderança política na Amadora. A eleição de Carla Tavares, então presidente da Câmara da Amadora, para o lugar de eurodeputada, alterou o organigrama do poder socialista na Amadora. Vítor Ferreira, que até então assumia o cargo de vice-presidente e de vereador do município, viu-se com a presidência em mãos no verão de 2024, sem ter tido a necessidade de ir a votos, uma vez que a transferência automática do poder está prevista na lei.
Nas eleições de 12 de outubro o povo da Amadora voltou a dar um voto de confiança a Vítor Ferreira, conquistando, porém, uma magra vitória, sem maioria, que obriga agora o arquiteto a projetar cenários governativos com negociações entre os vencedores e os vencidos das eleições autárquicas.
Foi neste quadro que Vítor Ferreira foi formalmente empossado como presidente de Câmara da Amadora. A cerimónia de instalação dos órgãos autárquicos, realizada no Cineteatro D. João V no dia de 5 novembro, o presidente socialista reeleito afirmou que conta com a colaboração de todos, propondo a cedência de pelouros à oposição.
A tomada de posse contou com a presença de vários presidentes de câmara da área metropolitana de Lisboa (AML), deputados, o embaixador da Guiné-Bissau, os representantes das embaixadas de Cabo Verde e Angola, bem como a presidente da CCDR de Lisboa e Vale do Tejo e os presidentes de câmara de São Miguel e Tarrafal (Cabo Verde), entre outras autoridades militares, policiais e civis.
Vítor Ferreira agradeceu o apoio de todos aqueles que o acompanharam na caminhada eleitoral rumo à vitória nas eleições, mas assume as funções com “profunda responsabilidade”, e com “humildade e determinação”, para continuar a melhorar a cidade “onde nasci, que me viu crescer, que me formou como pessoa, e que me inspira todos os dias a querer fazer mais e melhor”.
“Quero, antes de mais, agradecer pelo voto de confiança, em mim e na minha equipa. A vossa confiança é o alicerce sobre o qual construiremos o nosso trabalho. Honraremos a confiança que em nós foi depositada com trabalho, responsabilidade, motivação e humildade, comprometendo-nos a não defraudar as legítimas expectativas daqueles que reconheceram e continuam a acreditar no projeto do Partido Socialista para a nossa cidade”.
O autarca aproveitou para homenagear os vereadores que cessaram funções, fazendo uma menção especial a Susana Nogueira, Ana Venâncio, Agostinho Marques, Martinho Caetano e António Borges, mostrando a todos “uma palavra de reconhecimento por todo o trabalho desenvolvido em prol da cidade da Amadora e dos amadorenses”.
“Um devido e justo reconhecimento a todos e a cada um dos deputados municipais e autarcas das juntas e assembleias de freguesia, que agora cessam funções, e em especial aos presidentes Jaime Garcia, Joaquim Rocha e Carla Neves pelo seu legado cívico e político”, sublinhou.
Com fair-play, Vítor Ferreira dirigiu “uma palavra de respeito e reconhecimento a todos os candidatos e partidos que participaram neste ato eleitoral”.
Entrega de pelouros à oposição
Nesse quadro de respeito pelas ideias opostas às suas, o autarca lança o desafio de se estabelecerem pontes de negociação com os partidos da oposição, nomeadamente o PSD, Chega e CDU, que conjuntamente obtiveram uma votação que retirou a maioria aos socialistas.
“Com a devida humildade democrática, percebemos bem o significado dos resultados e a mensagem dos amadorenses. Os eleitores renovaram a confiança na equipa apresentada pelo Partido Socialista, dando também uma responsabilidade acrescida às oposições. Do nosso lado, agiremos dando sequência à vontade popular, e com grande determinação”.
“A lei eleitoral nas autárquicas implica a corresponsabilidade. Mas, sejamos claros. Há um só presidente de câmara, o que se apresentou aos eleitores com as ideias e o programa da sua equipa e do partido que localmente o propôs”.
“Na honesta interpretação dos resultados eleitorais, este presidente de câmara – repito, com toda a humildade – sabe que tem de contar e acredita, com franqueza, que pode contar com todos e todas. É um imperativo democrático, uma exigência do amor à nossa cidade. Neste sentido, com bom senso democrático, proponho que a oposição assuma pelouros e responsabilidades, em honesto espírito construtivo”.
Para que haja entendimento, sublinha o edil, implica a construção de “um processo negocial, de diálogo racional, criativo e permanente. Uma vereação, mesmo em diversidade partidária e corresponsabilidade, tem de ser uma equipa coesa no propósito de servir a cidade, de confiança, com lealdade e respeito pelos resultados eleitorais”.
Primazia do vencedor e exigência de lealdade
Vítor Ferreira sublinha, todavia, que os pelouros serão atribuídos sob proposta prévia do vencedor das eleições. “Como entenderão, cabe ao presidente da câmara, eleito pelo povo, a iniciativa e primazia de constituir a equipa, tendo naturalmente em conta a vereação eleita pelo partido vencedor, o seu partido, que, em princípio, deverá ser chamada a assumir áreas de responsabilidade mais sensível, sem prejuízo de vereadores das outras forças partidárias, estando disponíveis, virem a fazê-lo”.
Assim, “a condição é evidente: uma vereação tem de estar em leal sintonia com o presidente de câmara. Isto não significa total concordância, como é natural em democracia, mas sintonia e lealdade na ação”.
Para Vítor Ferreira, o executivo com partilha de pelouros terá de ter um só objetivo e um só interesse: “O bem da nossa cidade, o progresso e a procura das melhores soluções para os problemas das pessoas”.
Mas, para que o acordo aconteça, “tem de haver diálogo, muito diálogo, por vezes difícil diálogo sobre ideias e propostas, e procura de consensos dentro da razoabilidade e das circunstâncias, no interesse supremo da cidade e dos amadorenses”.
Intolerância à instabilidade
Não obstante a abertura da porta da CMA aos partidos da oposição, todas as propostas podem e devem ser dialogadas, sujeitas à apresentação de argumentos e à decisão.
Porém, o edil avisa previamente que se houver “manobras de instabilidade, se significar a inversão da vontade maioritária dos eleitores, ou decisões lesivas para o bem comum, o interesse da cidade e dos amadorenses, os responsáveis por um impasse vão ter de assumir essa responsabilidade”.
“As pessoas vão saber quem quer o progresso, a decisão, o bem da cidade, e quem só está por interesses individuais, táticas meramente partidárias ou outras…”
Haja ou não distribuição de corresponsabilidades no executivo, “a cidade sabe que conta com todo o meu empenho, dedicação e firmeza, agregando as pessoas que possam ajudar a dar sequência ao que de melhor todos tivermos para dar à nossa terra. É assim que entendo a exigência de uma liderança. E nesta exigência sou intransigente”, anota.
E acrescenta estar consciente de que nem sempre será fácil, até porque “o verdadeiro diálogo, aquele que edifica e aproxima, requer paciência, humildade e coragem”.
Requer, também, “a sabedoria de saber ceder quando é necessário e a firmeza de defender, com convicção, o que é essencial, que transcende as diferenças ideológicas, e seja comum a todos nós: o bem-estar dos amadorenses e o futuro da Amadora”.
Elogio da diversidade
Na ótica de Vítor Ferreira, a Amadora é uma cidade jovem na sua história, mas madura no seu espírito. Em pouco mais de quatro décadas de existência, “ergueu-se como um símbolo de progresso e da diversidade, traçando um caminho de afirmação na área urbana de Lisboa e no panorama nacional”.
“A sua origem está profundamente ligada à força das gentes que aqui se fixaram — vindas de diferentes lugares e de diferentes culturas e é este mosaico de identidades que, juntas, formam a alma desta cidade”.
Hoje, a Amadora está em permanente transformação, “reinventando-se a cada dia, com a coragem de quem acredita no futuro e com a ambição de quem sabe que a modernização e a sustentabilidade não são apenas metas — são deveres. Uma cidade consciente da sua responsabilidade perante as gerações vindouras, solidária na ação e humanista na visão. Aqui, aceitamos a diferença, cultivamos o respeito e alimentamos a esperança. É esse espírito inquieto, esse impulso de querer sempre fazer melhor, que nos move e nos une”, assevera.
Construção coletiva
O desenvolvimento e crescimento da Amadora é resultado do trabalho conjunto de juntas de freguesias, entidades públicas, instituições, movimento associativo, tecido empresarial.
Nesta construção coletiva, “não posso deixar de expressar o meu profundo reconhecimento a todos os trabalhadores e dirigentes da Câmara Municipal da Amadora. O vosso empenho, a vossa competência e o vosso sentido de missão são pilares essenciais na consolidação deste projeto comum”.
Medidas para este mandato
Segundo o autarca, os próximos quatro anos assumem uma importância decisiva para o novo ciclo de desenvolvimento do território. “Serão um período determinante para consolidar conquistas, colmatar fragilidades e, sobretudo, lançar as bases estruturais de um futuro sustentável, inovador e coeso”.
“Este mandato representa, portanto, um tempo de planeamento estratégico e de ação responsável, no qual serão definidos e implementados os alicerces dos grandes projetos que marcarão o crescimento da Amadora na próxima década”, nomeadamente iniciativas de natureza estruturante nos domínios da mobilidade urbana, da habitação, da sustentabilidade ambiental, da digitalização dos serviços públicos e da valorização do espaço público, “que terão impacto direto na qualidade de vida das pessoas e na competitividade do nosso território”.
Ao longo deste ciclo, “será nossa prioridade preparar a cidade para os desafios de um tempo em mudança, articulando a inovação com a coesão social, a modernização com a preservação da identidade local e o progresso económico com o bem-estar coletivo”.
Entre os projetos mais relevantes, é objetivo levar a cabo “a cidade desportiva da Reboleira”, que “será uma realidade e toda a área envolvente reconvertida e revitalizada.
Também a zona norte da cidade “encontrará na zona desportiva do Alto da Mira modernos equipamentos para a prática desportiva informal”.
Vítor Ferreira assume que a higiene urbana será uma prioridade. “Reconhecemos que há falhas e que devem ser supridas rapidamente, com investimento ajustado à prestação de um serviço de excelência”, reconhecendo que não “descuraremos a aposta na Educação, investindo em infraestruturas e em projetos transformadores, da primeira infância à universidade”.
A segurança e o bem-estar dos munícipes “continuarão a ser prioridades fundamentais da ação municipal”, tendo presente “o reforço da presença e da capacidade operacional da Polícia Municipal, a par da relação de cooperação institucional sólida e permanente com as forças de segurança, estarão na ordem do dia”.
Habitação “é prioridade”
No domínio da reabilitação urbana, o município vai apostar na continuação da qualificação do parque habitacional privado, garantindo continuidade dos programas existentes e promovendo novas iniciativas que contribuam para a valorização e coesão do território. “A habitação é e continuará a ser uma das grandes prioridades da nossa política municipal. Estamos comprometidos em ampliar e valorizar o parque habitacional municipal, colocando-o ao serviço das famílias que mais dele necessitam e garantindo uma gestão rigorosa e transparente”.
“Trabalharemos também para aumentar a oferta de habitação, promovendo a construção de novas casas e fomentando parcerias que permitam criar soluções acessíveis para diferentes realidades”.
Governação de proximidade
Vítor Ferreira sustenta que é objetivo “reconectar a administração municipal com os cidadãos”, reforçando a proximidade entre o poder local e a vida quotidiana dos amadorenses. “Pretendemos consolidar uma relação de confiança mútua, assente na transparência, na escuta ativa e na participação cívica, garantindo que cada munícipe se sinta parte integrante do processo de construção da cidade”.
Nesse sentido, “trabalharemos, com determinação e sentido de missão, para fortalecer os canais de comunicação entre a autarquia e a comunidade, promovendo um atendimento mais célere, eficiente e humanizado. Queremos que a Câmara Municipal da Amadora se afirme como uma instituição aberta, acessível e moderna — um espaço onde cada cidadão saiba que será ouvido, respeitado e valorizado nas suas opiniões e contributos”, assume.
O edil amadorense concluiu a sua intervenção reforçando a ideia da necessidade de união entre todos quadrantes e ativos do concelho. “Unir para fazer. Unir para transformar. Unir para garantir que esta cidade continua a ser um espaço de oportunidades, de respeito e de esperança para todos”.
Vítor Ferreira defende que se sente capacitado para enfrentar este novo capítulo da sua liderança. “Com coragem e com determinação, “abriremos um novo ciclo, um ciclo de progresso, de participação e de confiança”.
Após o discurso do autarca, procedeu-se à eleição da mesa da Assembleia Municipal. Apresentaram-se duas listas a votação, uma do PS e outra que juntou três partidos: PSD, CDS e Chega. No final, foi aprovada a lista dos socialistas, que ganharam a liderança da Assembleia Municipal por apenas um voto: A lista do PS obteve 19 votos e a lista opositora de direita contou com 18, havendo duas abstenções.
O novo executivo municipal, presidido por Vítor Manuel Torres Ferreira (PS), integra uma vereação de dez elementos composta por 4 elementos do PS, 4 da coligação “Amadora Resolve”, 2 do Chega e 1 da CDU.
Executivo
Partido Socialista: Presidência: Vítor Ferreira, Telma Correia, Luís Lopes, Ricardo Franco Faria
Coligação “Amadora Resolve” – PPD/PSD.CDS-PP.PPM.MPT.RIR:Suzana Garcia, Man Lin, Hermenegildo Carvalho, Filipe Ferreira
Chega: Rui Paulo Sousa, Ana Cristina Carvalho
CDU: “Coligação Democrática Unitária”: João Pimenta Lopes
Assembleia Municipal
Presidência: António Ramos Preto, 1º Secretário: Rita Madeira, 2º Secretário: Vanda Carmo
Fotos: CMAmadora



