Desde o passatempo radiofónico Tribunal da Canção, onde fez sucesso em 1952, que o nome e a voz de Anita Guerreiro não deixaram de se ouvir, com maior ou menor intensidade. Fadista, atriz, cantadeira, residia desde 2018 na Casa do Artista, onde morreu, durante o sono, depois da meia-noite deste domingo, 7 de Dezembro. Tinha 89 anos e deixa-nos a memória de décadas de intensa vida artística, da rádio aos fados, do teatro de revista às marchas de Lisboa e à televisão.
Anita Guerreiro, fadista e atriz, artista com papel de destaque nas Marchas Populares de Lisboa, morreu este domingo. Tinha 89 anos e residia na Casa do Artista, que divulgou a notícia nas redes sociais.
Nasceu a 13 de novembro de 1936, em Lisboa, Bebiana Guerreiro Rocha Cardinalli que viria a adotar o nome artístico de Anita Guerreiro. Começou a cantar aos sete anos na coletividade Sport Clube do Intendente. Em 1952 concorreu ao “Tribunal da Canção”, um passatempo radiofónico do programa “Comboio das Seis e Meia”, à época um enorme sucesso que a tornou conhecida do grande público.
Deu voz a fados e marchas emblemáticos, como “Lição de Amor”, “O fumo do meu cigarro” e “Cheira bem, cheira a Lisboa”, respetivamente.
Fados, cantou-os em várias casas de Lisboa, integrando o elenco d’O Faia, no Bairro Alto. Mas foi no teatro de revista que ela teve, à data, maior projeção, a par dos fados: “Fiz muita revista, cantei e dancei muitos fados originais, mas talvez o mais conhecido é o Cheira bem, cheira a Lisboa, com letra do César de Oliveira”, recordou a fadista em entrevista concedida ao Olhares de Lisboa em junho de 2017.
Madrinha de marchas
“Também fui Madrinha de muitas marchas populares de Lisboa, entre elas a Marcha dos mercados. Fiz teatro, cinema, televisão e muita avenida abaixo nos Santos Populares. Abri ainda um restaurante e casa de fados, a casa típica Adega da Anita, à entrada do Parque Mayer. Em tudo fui feliz, porque me entreguei com toda a minha alma. Ainda gosto muito de cantar. A voz pode não ser a mesma, mas a alma é”, relembrou a artista que gostava de ser conhecida como “a miúda do Intendente”.
Em 2004, no dia 17 de Fevereiro, Anita Guerreiro foi homenageada num espetáculo no Teatro Municipal São Luiz, durante o qual recebeu da Câmara Municipal de Lisboa a Medalha Municipal de Mérito, Grau de Ouro, distinção a juntar às várias que foi recebendo ao longo da vida.
Vinte anos mais tarde, em Junho de 2024, foi inaugurada em Lisboa, por iniciativa da Junta de Freguesia de Avenidas Novas, uma exposição intitulada Retratos Contados de Anita Guerreiro, percorrendo a sua vida e obra. A exposição esteve no Centro Comercial Campo Pequeno durante um mês.
Num texto publicado em 2023, Anita Guerreiro escreveu: “A Casa do Artista é hoje a minha casa”, concluindo: “e o fado sempre foi a minha alma…” Afirmação certeira, que a vida confirmou.
Ainda não são conhecidas informações sobre as cerimónias fúnebres da fadista, por se aguardar a chegada da filha, Pepita Cardinali, que se encontra no estrangeiro, apurou a agência Lusa junto de fonte da Casa do Artista.






