A segurança, o ruído, os problemas de lixo e a má utilização da rua estão «a acabar com a noite de Lisboa tal como ela era». Afirma Luís Paisana, presidente da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia.
O sistema de videovigilância, instalado no Bairro Alto em maio de 2014, tem tido repercussões positivas na segurança de quem vive na freguesia da Misericórdia, principalmente no Bairro Alto, reconhece o presidente da Associação de Moradores da freguesia da Misericórdia (que inclui Bairro Alto e Cais do Sodré), Luís Paisana.
Na realidade, a opinião de que os moradores se sentem mais seguros e protegidos é, desta forma, partilhada por Luís Paisana, ao considerar que os moradores se sentem mais seguros e protegidos com a videovigilância, devendo esse sistema ser alargado ao Cais do Sodré e ao miradouro de Santa Catarina.
«O balanço não excede as expetativas, mas é positivo», refere este responsável associativo, acrescentando que a associação tem recebido da PSP informação sobre a diminuição do número de ocorrências desde que as câmaras foram instaladas, tendo algumas pessoas já sido detidas em assaltos.
No entanto, por parte de alguns moradores há ainda algum sentimento de descrença face ao funcionamento das câmaras, ainda que estas já tenham servido de testemunho em casos de agressão e assalto.
O mesmo, de certa forma, pensa Luís Paisana que considera que não é apenas a presença do sistema de videovigilância que faz a diferença, é necessário reforçar o patrulhamento e a fiscalização.
O sistema de videovigilância do Bairro Alto, uma zona com muitos bares e restaurantes, tem 27 câmaras que permitem a visualização de imagens em tempo real, entre as 18:00 e as 07:00, podendo servir como meio de identificação e prova.
Ruído noturno
Aliado ao problema da segurança está o ruído noturno provocado pelos clientes dos bares e restaurantes da zona da Misericórdia, principalmente do Bairro Alto e Cais do Sodré. O representante da Associação de Moradores da Misericórdia revela que continuam a existir «muitas queixas» de barulho por parte de moradores por cima de bares, sendo que o processo de medições de ruído demora muito tempo e tem «muita burocracia», pelo que defende medidas mais apertadas para a abertura destes espaços, principalmente quando são espaços muito pequenos.
«Há muitas queixas de ruído noturno nas ruas, com as pessoas a gritar, há muitas queixas por causa dos vendedores de droga, que são bandos organizados que funcionam em diversas zonas, em Santa Catarina, no Cais do Sodré, na Rua das Flores, princípio da Rua de São Paulo, no Largo de São Paulo e ali perto da Rua Cor de Rosa. Há bandos de umas 30, 40, 50 pessoas a vender todo o tipo de droga – droga verdadeira, droga falsa -, a importunarem as pessoas», afiança.
Para Luís Paisana, «as pessoas continuam a fazer um uso intensivo da rua e isso provoca o ruído que muitas vezes é alvo de queixas. E os problemas também da falta de higiene das ruas, por causa e as pessoas usarem as ruas como casa de banho».
Encontrar equilíbrios
Por outro lado, e, como «temos de viver todos em comunidade, não é com conflitos que vamos chegar a algum lado», Luís Paisana pretende «encontrar um equilíbrio entre moradores, comerciantes de todo o tipo, donos de bares que fazem ruído, turistas e os que vêm aqui só sair à noite e não são turistas».
«Os comerciantes têm de perceber que estão numa zona residencial, mas que o negócio também não pode acabar porque, senão, a zona fica desvalorizada», explica Luís Paisana. No entanto, «temos de evitar esta dicotomia de que os moradores estão contra os comerciantes», acrescenta o dirigente associativo, que considera crucial o combate ao despovoamento e à descaracterização da freguesia.
“Este conceito de proximidade, que cuida e informa, é algo que nos anima, mas sabemos que é um trabalho muito difícil e, por isso, temos de o fazer com calma e passo a passo, porque não vamos ter resultados imediatos, temos consciência disso”, admite.
Lixo acumula-se
Um outro facto que preocupa esta associação, é o excesso de lixo nas ruas. Bairros históricos, zonas turísticas e locais de diversão, nada escapa ao acumular de dejetos na via pública.
O Bairro Alto e o Cais do Sodré são, provavelmente, as zonas mais sujas da capital: caixas de pizza, copos deixados nos rodapés das portas, são uma das ‘imagens’ deixadas quase todas as noites pelos frequentadores do bairro. Os moradores culpam o aumento do turismo, a ausência de meios de limpeza e a falta de civismo da população.
O presidente da Associação de Moradores da Misericórdia (onde se localiza o Bairro Alto e o Cais do Sodré), Luís Paisana, que culpa a Junta de Freguesia da Misericórdia de alguma inatividade, reconhece que o turismo não tem permitido «aos serviços de limpeza encararem esta realidade de 32 toneladas de lixo por dia». O lixo no chão além de ser um risco para a saúde pública, «atrai ratos, baratas e pombos», afirma Luís Paisana.
Desertificação
Mas, para além destas situações gravíssimas, uma das principais preocupações da Associação de Moradores prende-se com os despejos de moradores mais antigos. Luís Paisana é perentório: «As pessoas estão a desaparecer dos sítios onde habitam para dar lugar a alojamentos locais e hostels».
Luís Paisana alerta para o facto de se estarem a descaracterizar os bairros, lembrando que os turistas querem, no fundo, conhecer e perceber os nossos hábitos e cultura.
Algo que, no fundo, contribui também para manter a comunidade unida em torno do conceito de vizinhança.
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