O formato circular é «tramado» para pessoas com pouco sentido de orientação, mas é o caminho para descobrir os tesouros que se escondem naquele que é ainda é um dos grandes mercados da cidade de Lisboa, o de Benfica. Com uma tendência para preservar a diferença – ou não existisse ainda um talho só com carne de cavalo e algumas bancas com produtos exóticos – o Mercado de Benfica «enche o olho» dos clientes com a quantidade de cores diferente das bancadas. São frutas e legumes de todos os géneros, que fazem uma paleta de cores intensa.
Em forma circular, encontramos no mercado de Benfica, ao centro, o sector de peixe, no círculo seguinte o peixe e marisco congelado, logo seguido pelo sector das frutas e legumes e, no círculo final, as padarias, talhos, cafés e lojas diversas.
Um típico mercado lisboeta, aberto desde 1971, que durante a manhã é percorrido por dezenas de clientes que procuram os produtos fracos, diariamente renovados.
Em Benfica a grande aposta dos comerciantes é o preço. Algo que uma visita pelas diferentes bancadas permite constatar. Por exemplo, o preço da fruta e dos legumes são inferiores aos praticados nos super e hipermercados. A frescura dos produtos também é outra aposta dos vendedores, com a renovação diária dos produtos que têm à venda.
Serviço inovador
O Mercado de Benfica é o primeiro da rede “Mercados de Lisboa” a disponibilizar o serviço de entregas ao domicílio, um projeto promovido pela Câmara Municipal de Lisboa e pela Junta de Freguesia de Benfica.
Este serviço está disponível para clientes particulares e profissionais da restauração. E para o poderem usufruir, têm de fazer compras no valor mínimo de 5€ para clientes particulares e 50€ para profissionais da restauração, existindo também horários de entrega e áreas limite definidas para cada um destes segmentos de clientes.
O raio de entrega das compras é de cinco quilómetros para os profissionais da restauração e até 20 quilómetros para clientes particulares.
Visões diferentes sobre o negócio
Teresa Barbosa, há mais de 30 anos no mercado de Benfica, tem assistido muitas mudanças ao longo das décadas. “Há muitos jovens a fazerem compras, mais do que antigamente”, revela a proprietária da banca de frutas e legumes. A razão para este êxito junto da população mais jovem, tem a ver com a ação “da administração, que está a fazer muita publicidade ao mercado”. Por esta razão, Teresa Barbosa nota “que há bastante clientela nova, que iam aos supermercados e agora preferem fazer compras no mercado”.
No entender de Ermelinda, que está no mercado há 30 anos, sempre a vender legumes e fruta, a situação está pior. Esta comerciante tem uma opinião muito diferente no que respeita aos clientes que frequentam este espaço. Para esta comerciante, “a situação tem piorado muito, por causa da abertura dos hipermercados e supermercados nas redondezas”.
Refere que o “negócio diminuiu, para pior. E isto é assim de há 10 anos para cá”. “Temos preços muito mais baratos que essas superfícies e a frescura nem se compara”. Esta comerciante está pessimista quanto ao futuro, pois para ela “os mercados têm tendência a acabar”.
Para Lurdes “o negócio também está péssimo”. Dona de uma banca de fruta e legumes há mais de 20 anos, a esperança de dias melhores são poucas.
E as razões apontadas são as mesmas que outros comerciantes: “Com duas grandes superfícies aqui perto isto só pode estar péssimo. Com a concorrência deles não se vai a lado nenhum”.
“Mesmo com as melhorias introduzidas no mercado, não se está a conseguir angariar mais clientes”, refere esta comerciante.
Nem os clientes escapam a esta polémica. Para Carla Borges, cliente, “este mercado é uma mais-valia para os consumidores, devido aos preços praticados e à frescura do que encontramos aqui”. No seu entender; “os supermercados não vieram tirar clientes ao mercado, porque aqui o atendimento é diferente, mais personalizado”.
Já Carminda Freitas, também cliente, tem uma opinião diferente: “Já venho aqui há anos e, nos últimos tempos, vejo que existe menos gente a comprar”. As causas são óbvias: “Abriram os supermercados e os clientes fugiram”.
Apesar destas opiniões diferentes, os comerciantes vão continuar a apostar nas suas principais “armas”: a frescura dos produtos e preços competitivos – argumentos que tem atraído novos clientes.