O Cais do Sodré é como o Vinho do Porto: quanto mais velho, melhor. E, como canta o fadista Rodrigo, «o Cais do Sodré não é só bares de prostitutas, também é gente a alombar caixa de peixe e de fruta» e «é cais onde embarca quem busca no mar o pão».
Mas, hoje em dia, graças a obras de reabilitação e renovação é considerada como umas das zonas «mais in» da «movida noturna», com alguns dos melhores restaurantes e bares de Lisboa e onde o antigo se mistura com o novo.
O Cais do Sodré já foi zona de prostituição, lugar de lojas de pesca e local obrigatório de paragem de marujos que desembarcavam em Lisboa. Desde então, muitas coisas mudaram e, hoje em dia, é um bairro que está na moda na noite lisboeta. Os bares, discotecas e restaurantes ajudaram a mudar a imagem do bairro, o que «levou» artistas, intelectuais e estudantes a residir no Cais.
De bairro abandonado e «marginal» da zona ribeirinha, passou a ser, com a sua Rua Cor de Rosa, um local «chique» da boémia lisboeta, afirma Gonçalo Riscado, um dos elementos da Associação de Comerciantes do Cais do Sodré. Atrás deste «boom» boémio, que também «desenvolveu» vários eventos culturais, «vieram as pessoas/residentes, o que trouxe uma nova vida ao bairro», acrescenta Gonçalo Riscado, um dos fundadores da Associação de Comerciantes.
A Rua Cor de Rosa é provavelmente a zona «mais in» do Cais. Antigamente, era famosa pelos bares de alterne e pelas «meninas» que aí paravam, hoje, após a Câmara ter transformado a rua em cor-de-rosa, animando a reabilitação do local, a artéria mudou a sua imagem e, neste momento, é um grande centro turístico.
Até há uns anos, mais propriamente até 2017, o «Cais» manteve-se intocado durante décadas. À beira-rio era um rodopio de cargueiros e barcos de pesca, para lá do vai-e-vem dos cacilheiros a garantir acesso à Margem Sul. A estação ferroviária ganhou terminal de metropolitano e tudo o que era gente de trabalho ou veraneante desemboca no Cais.
Com a ‘reconquista’ do Tejo e os seus paredões largos onde agora cabem restaurantes, bares, alguns com música ao vivo, quiosques e esplanadas, o bairro ganhou nova vida. No entanto, para Gonçalo Riscado, a zona pode perder «a sua identidade» porque, depois do aumento do número de residentes, agora está a assistir-se à «expulsão dos moradores», correndo-se o risco de o Cais deixar de ter habitantes.
Segundo este empresário, todos os bairros «são diferentes e o “Cais” sempre esteve ligado à boémia» e sempre teve uma «identidade cultural muito própria».
Perder-se o património cultural, cimentado já este século, é uma das preocupações de Gonçalo Riscado que afiança que se tem «de apostar na identidade e cultura do bairro», criando-se polos de ensino e, ao mesmo tempo, diversificando a oferta cultural.
Gonçalo Riscado, que foi um dos organizadores do Festival Silêncio, lembra que existem várias salas para concertos e para outros eventos culturais no bairro. «A oferta cultural do Cais continua a ser uma das mais ricas da noite lisboeta», defende. E, é isso, que permite ao bairro «brilhar na vida noturna da capital».
Mas, como todas as rosas, o Cais também tem os seus espinhos encravados, nomeadamente a falta de policiamento, a higiene urbana e o ruído.