A necessidade de políticas de promoção de uma alimentação saudável e limitando as desigualdades sociais na alimentação, são objetivos da União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada/Dafundo que, desde 2018, tem uma parceria com a nutricionista Mirna Oliveira.
Apenas 1/4 da população portuguesa tem um padrão de alimentação baseado na dieta mediterrânica e isso faz com que os principais erros alimentares se centrem no baixo consumo de cereais integrais, elevado consumo de sal de mesa, baixo consumo de leguminosas e grande consumo de carne vermelha. Quem o diz é a nutricionista Mirna Oliveira que, desde 2018, tem uma parceria com a União de Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada/Dafundo, com o objetivo de consciencializar os residentes para a «importância da aquisição e manutenção de bons hábitos alimentares.»
Para a União das Freguesias de Algés, Linda-a-Velha e Cruz Quebrada-Dafundo, este «serviço inovador», realizado em parceria com a Hora de Nutrir, além de disponibilizar consultas de nutrição e reeducação alimentar para a população de freguesia, visa identificar, diagnosticar e orientar a população sobre o seu estado nutricional e otimizar a sua saúde ao longo do ciclo da vida.
Já para a nutricionista Mirna Oliveira, este protocolo pretende promover a saúde, o bem-estar, a prevenção e tratamento da doença, de acordo com as respetivas regras científicas e técnicas.
Desde finais de 2018, o Gabinete de Nutrição da União de Freguesias já realizou mais de 300 consultas, sendo a maioria em Linda-a-Velha, seguida da Cruz Quebra/Dafundo e Algés, revela Mirna Oliveira, lembrando que os «hábitos alimentares inadequados são a segunda causa da morte por fatores evitáveis, a seguir ao tabaco.
Após referir que o serviço de nutrição da União de Freguesias, frequentado maioritariamente por pessoas do sexo feminino, com mais de 50 anos, tem sido recomendado por médicos de Centros de Saúde de Carnaxide e Paço de Arcos, Mirna Oliveira adianta que «o estado nutricional dos pacientes que procuram este serviço da União de Freguesias é preocupante».
Cerca de 80% dos utentes apresenta excesso de peso e obesidade. Linda-a-Velha é a localidade «com um maior percentual de excesso de peso», enquanto em Algés se encontram os maiores «percentuais de utentes com colesterol elevado e hipertensão. Na Cruz Quebrada/Dafundo surgem as doenças associadas ao ácido úrico e aos problemas renais.
Perante estes dados é urgente agir em prol da promoção da saúde da população, porque, neste momento, «temos os ingredientes que apontam para que o resultado seja um claro agravamento do estado nutricional e de saúde dos portugueses». Sabe-se que os hábitos alimentares inadequados são um dos principais fatores de risco para a perda de anos de vida saudável. Contrariar esta penosa realidade não é impossível e, em Portugal, existe a receita certa: a prodigiosa dieta mediterrânica.
Por isso, Mirna Oliveira, que está a tirar o doutoramento na Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, defende: «ao incutirmos um comportamento alimentar ajustado estamos a ganhar anos de vida saudável. Se tentarmos perceber onde é que a alimentação mais interfere vamos referir-nos às principais causas de morte a nível mundial: cancro, doença cardiovascular, diabetes e doença renal».
Para a nutricionista, empenhada no combate à iliteracia nutricional, o grande desafio advém do acréscimo de informação sobre este tema. «Hoje em dia, com todos os canais de partilha e de comunicação que temos, todos sabem sobre alimentação e acham que podem contribuir com alguma informação neste contexto e a verdade é que caímos no risco da desinformação» e, por isso, é preciso que as pessoas saibam filtrar a informação e tenham um acesso direto àquilo que são cuidados de saúde primários no contexto da nutrição, mas chamou à atenção para a quantidade mínima de nutricionistas existentes nos cuidados de saúde primários.
«É impossível querer apostar na literacia alimentar da população portuguesa sem que os profissionais de nutrição com competência para tal estejam próximos da população», acrescentou Mirna Oliveira, cuja tese de mestrado foi sobre a iliteracia alimentar.
Pandemia altera hábitos alimentares
Apesar de não se realizarem consultas presenciais, a nutricionista alerta para o facto da covid-19 ter agravado a situação e contribuído para uma alteração, para pior, dos hábitos alimentares de uma parte significativa da população nacional, durante o período de confinamento.
Esta crise sanitária trouxe uma crise económica sem precedentes. Ainda não são calculáveis as quebras, ainda estamos na ponta do iceberg, mas já se percebeu que, de acordo com estudos recentemente divulgados pela DGS, um terço dos portugueses manifestou preocupação com uma eventual dificuldade no acesso a alimentos, tendo experimentado dificuldade em fornecer alimentos suficientes a todo o agregado familiar, ou seja, tiveram aquilo a que se designa por insegurança alimentar, por falta de recursos financeiros.
Desigualdade na alimentação
Desta forma, a influência das desigualdades sociais nas doenças de origem alimentar é clara, admite Mirna Oliveira.
Em Portugal, adiantam estudos da DGS, os erros alimentares seguem uma gradação social: quanto mais baixa a posição social, pior o consumo alimentar, potenciando danos no estado de saúde, o que indica a necessidade de políticas que, alem de promoverem uma alimentação saudável em geral, foquem em particular as populações mais vulneráveis, no sentido de limitar as desigualdades sociais na alimentação.
É preciso fazer mais e melhor para reduzir desigualdades no acesso a uma alimentação adequada, defendem os técnicos, nomeadamente a nutricionista Mirna Oliveira.
Neste momento, todas as consultas, que se realizavam na 1ª e 3ª semana de cada mês, nos postos de atendimento Cruz Quebrada-Dafundo e de Linda-a-Velha e no Centro Cultural de Algés, estão canceladas, sendo retomadas após este período de confinamento geral.