Numa crise de “meia-idade”, Filipe Santos sentiu o apelo da música. Em vez de quedar-se pela lusitana procrastinação, fechou-se numa sala de ensaios e compôs dezenas e dezenas de canções, mesmo ao lado do local de ensaio dos Xutos e Pontapés. O álbum “Vivências” nasceu em plena pandemia.
Filipe Santos é um empresário de sucesso. Trabalhou muito (desde a adolescência, segundo conta) para alcançar a desejada tranquilidade financeira. Mas continua a andar de fato de macaco, de igual para igual com os seus empregados. Dando uma mão “onde for preciso” na sua empresa de construção e montagem de equipamentos metalomecânicos.
Quando ultrapassou a barreira dos quarenta (os terríveis “entas”), teve uma “crise de meia-idade”, deu-se conta que “não tinha vivido”, que tinha passado grande parte da vida inteiramente dedicado ao trabalho.
Esse momento, narra ao OLHARES DE LISBOA, serviu de abanão: estava na altura de fazer coisas que lhe dessem prazer. Compraria então uma mota – uma Harley Davison – e passaria a ter “algumas aventuras” em Portugal e no estrangeiro, como uma viagem aos EUA, em que calcorrearia o estado da Flórida debaixo de chuva, frio, um sol inclemente, recorda Filipe Santos.
XUTOS NO (RE)NASCIMENTO PARA A MÚSICA
Não obstante a adrenalina causada pelas duas rodas, o empresário sentia que ainda lhe faltava algo – os míticos Xutos & Pontapés ensaiam no armazém contiguo ao dele e esse facto despertou “algo” no empresário. Alavancado pela música dos ensaios dos Xutos, apaixonado por música, pelos grandes clássicos do rock, como os Led Zeppelin ou os Pink Floyd, Filipe Santos sentiu a “urgência” de aprender música. Contratou os serviços de um profissional da guitarra, aprendeu canto, para poder “deitar para fora” o turbilhão de melodias que viviam dentro dele, mas que não sabia como “pôr fora do peito”.
Depois de dar os primeiros passos na compreensão da aritmética da música, o empresário mostrou o seu trabalho a amigos e a alguns músicos, que foram unânimes em considerar “que havia qualquer coisa” na arte do empresário. Entusiasmado, Filipe Santos perdeu a “vergonha” e a “timidez” e resolveu avançar para “uma coisa mais à séria”. Criou uma sala de ensaios no escritório da sua empresa – onde pontificam guitarras, bateria, colunas de som, computadores – e é lá que, agora, passa alguns dos momentos de “descompressão” do seu agitado quotidiano, compondo e ensaiando os temas que lhe ocupam a alma.
Filipe Santos sublinha que não quer “fazer vida da música”, porque não precisa dessa atividade para viver, mas ninguém lhe tira da cabeça a ideia de que “nunca é tarde” para concretizar os desejos mais secretos.
CONFINAMENTO E INSPIRAÇÃO
O primeiro confinamento provocado pela pandemia do Covid-19, assegura o empresário, moveu uma torrente de “novas ideias”, que foram materializadas em novas canções. “Senti-me verdadeiramente inspirado. Havia coisas que tinha dentro de mim que necessitavam deste empurrão para ver a luz do dia. O confinamento despertou-me e ‘obrigou-me’ a compor”, revela.
Filipe Santos criou tanto que reuniu as canções necessárias para a edição de um álbum, que será editado em março, com edição paga do próprio bolso. De seu nome “Vivências”, trata-se de um trabalho discográfico roqueiro, onde se podem perscrutar as influências das bandas clássicas do rock português. Com os Xutos como principal influência, Filipe Santos assume ainda ser fã dos UHF e dos GNR. Apesar de algum ceticismo no início por parte da mulher e das filhas, estas logo se habituaram à ideia de que a música é um excelente «escape» para a vida stressante de um empresário português, sendo sempre as primeiras a avaliar os novos temas que vão surgindo. Por isso, é caso para dizer: é hora de fazer o que realmente se gosta.
Perfil
Filipe Santos é empresário e músico de alma e coração nas horas livres. Diz que já passou as passas do Algarve para ter uma vida confortável e que chegou a altura de dar asas à sua veia musical.