A cidade de Lisboa vai ter um Museu Judaico que irá contar «sem reservas» a história dos judeus em Portugal. Ontem, ao fim da manhã, foi assinado o protocolo de colaboração entre a Câmara de Lisboa e a Associação Hagadá para a sua criação, que conta com uma doação de 2 milhões de euros de um milionário francês.
Em frente ao Tejo, na continuidade da Avenida da Índia e com vista para a Torre de Belém e a Fundação Champalimaud, mais concretamente no número 5 da Rua das Hortas, vai nascer o Tikva (Esperança em hebraico) Museu Judaico de Lisboa, para «contar a história da presença dos judeus no território a que hoje chamamos Portugal, nomeadamente Lisboa».
O arquiteto Daniel Libeskind, apoiado em Portugal pelo atelier Miguel Saraiva+Associados, assina o projeto com grande impacto cultural na cidade de Lisboa, estando previsto que o arranque das obras aconteça já no primeiro semestre de 2022 e a abertura de portas se concretize em 2024.
Este projeto, hoje apresentado pelo presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, e que implica que vai custar 15,5 milhões de euros, conta já com uma doação de 2 milhões de euros de Claude Berda, dono da Vanguard Properties, que admite ainda a hipótese de investir outros dois milhões de euros numa fase posterior.
Depois de um processo atribulado que culminou com a implosão dos planos para que nascesse em Alfama, o projeto, lançado em 2016, foi contestado pelos moradores, e o Tribunal confirmou a proibição, em junho de 2019, de demolição dos edifícios que existiam no local, o Museu Judaico tem finalmente perspetivas de, até 2024, contar a história, sem reservas, dos judeus em Portugal a partir do novo edifício que vai nascer em Pedrouços, Belém, para acolher o Tikvá Museu Judaico de Lisboa.
Assim, no dia simbólico, em que se celebrou o segundo centenário da abolição do Tribunal da Inquisição, passo fundamental para a abertura do caminho da liberdade, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, a vereadora com o pelouro da Cultura, Catarina Vaz Pinto, e a presidente da Associação Hagadá, Esther Mucznik, deram os «primeiros passos» para contar «sem reservas» a história dos judeus em Portugal, garantiu o presidente da autarquia, Fernando Medina. Com uma superfície de 3.869m2, este equipamento cultural vai retratar os quase dois mil anos de história do judaísmo no território português, pretendendo preservar e divulgar a memória e a vivência judaica e valorizar as diferenças culturais, promovendo a integração inter-religiosa.
A memória desse percurso vai ser contada no novo edifício que irá «acentuar os lados positivos e os contributos da comunidade judaica» ao país, refere a presidente da Associação Hagadá, Esther Mucznik, sem deixar esquecidos os períodos mais obscuros – leia-se a expulsão e perseguições aos judeus.
Já para Fernando Medina, presidente da autarquia, «a presença da comunidade judaica em Portugal, além de milenar, é feita de períodos de luz e de períodos negros. O museu tem que ser capaz de contar essa história no que ela teve de brilhante e de sombrio».
Daniel Libeskind, é o arquiteto responsável pelo desenvolvimento do Museu Judaico em Lisboa, tendo já desenhado os museus judaicos de Berlim, São Francisco e Copenhaga, bem como os memoriais do Holocausto nos Países Baixos, no Canadá e nos Estados Unidos e a reconversão do Ground Zero, em Nova Iorque.