«A situação no Bairro Alto está descontrolada» afirma a presidente da associação de moradores “Aqui Mora Gente”, Isabel Sá da Bandeira, revelando que se tem assistido a um aumento de atos de vandalismo, assaltos e vendas de droga, tanto no Bairro Alto, como no Cais do Sodré e Largos de Santos. A polícia faz o que pode.
Depois de oito meses de um sossego possível as zonas de bares e restaurantes do Bairro Alto, Santos e Cais do Sodré, passaram a deparar-se em setembro com outra realidade. Centenas de pessoas nas ruas abertas ao trânsito durante várias horas até de madrugada. O que leva os moradores e comerciantes das zonas lisboetas do Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos a estarem preocupados com a criminalidade associada a ajuntamentos na via pública durante a noite, inclusive o aumento de ‘gangues’, defendendo o reforço do policiamento de proximidade.
Mas, como nos confirmam algumas fontes do comando de Lisboa da PSP, as autoridades policiais estão a reforçar a segurança nessas zonas da boémia lisboeta, tendo encerrado bares a partir da uma da manhã e impedido que muitos jovens permaneçam na rua a «fazer desacatos».
No entanto, para os moradores desses zonas alfacinhas, onde infelizmente já se registaram duas mortes (Largo de Santos), «a perceção é que a situação está completamente descontrolada, porque são milhares e milhares de pessoas que andam nas ruas e a polícia não dá conta do recado», afirma a presidente da associação de moradores Aqui Mora Gente, Isabel Sá da Bandeira, destacando a ocorrência de atos de vandalismo contra o património, assaltos, venda de droga, lutas de ‘gangues’ por controlo de território e «toda uma multidão de gente que bebe sem parar», apesar de ser proibido beber na via pública no âmbito das medidas para controlar a pandemia de covid-19.
Após uma reunião com a presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, realizada na semana passada, a representante dos moradores recebeu a confirmação de que «a situação está descontrolada e que a polícia faz detenções, muitas detenções por noite, mas que as multidões são tantas que não consegue dar conta do assunto».
Em declarações à agência Lusa, Isabel Sá da Bandeira referiu que estas situações de criminalidade em contexto de diversão noturna já aconteciam antes da pandemia, mas agravaram-se «talvez por força do confinamento e de as pessoas estarem sequiosas de saídas, com os ajuntamentos no meio da rua até às tantas da noite».
Detidas por roubo e agressões
A presidente da associação Aqui Mora Gente sugere «uma polícia mais firme e mais eficaz que disperse ajuntamentos», pedindo ainda para se «começar a limpeza das ruas com mangueiras às duas da manhã quando os bares fecham».
Ao que a PSP contrapõe com o facto de estar a reforçar a presença policial nesses locais com o objetivo de evitar problemas maiores, lembrando que tem sido detidas várias pessoas por roubo e agressão, feitas apreensões e, inclusivamente, já teve de efetuar disparos para o ar para acabar com ajuntamentos no Cais do Sodré.
Por seu turno, Luis Paisana, da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia, que resulta da antiga Associação de Moradores do Bairro Alto, Luís Paisana fala também no aumento de ajuntamentos na via pública durante a noite, a maioria jovens que «querem aproveitar o divertimento ao máximo» após os períodos de confinamento devido à pandemia, e «o aumento de ‘gangues’ de marginais, que não vão divertir-se, mas vão para roubar, para ter violência, para provocar, e esse tem sido um fenómeno novo, que dá origem aos atos de violência, aos esfaqueamentos».
«Há cenas de violência que não havia tanto no passado», indicou Luís Paisana, referindo que houve um aumento de comportamentos agressivos, o que tem assustado os moradores, em particular os mais idosos, «porque já não se limitam a estar na rua, já forçam portas, já tentam entrar nas portas e, se alguém diz alguma coisa, então rebentam mesmo a porta».
Segundo o presidente da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia, esses atos de vandalismo são «um fenómeno novo, que põem em causa o descanso e a segurança dos residentes».
«Já tivemos uma reunião com a Junta, com a PSP, com a associação de comerciantes, com a proteção civil, sobre a questão da segurança, e a polícia esclareceu que de facto é um fenómeno que eles estão a tentar controlar, mas que não é fácil porque estamos a falar de grupos enormes, de muita gente, que se movimentam muitas vezes sem qualquer previsão estão na praia de Carcavelos e, de repente, vão parar ao Cais do Sodré», avançou o representante dos moradores.
Todos estão a perder…
Ainda que seja apenas uma parte do problema, «o facto de as discotecas estarem fechadas também não ajuda», apontou Luís Paisana, propondo uma ação policial «mais musculada e mais dura», inclusive com a polícia de intervenção, considerando que há regras em vigor que não são cumpridas como, por exemplo, o consumo de álcool na rua.
«Neste momento, toda a gente está a perder, estão os moradores, estão os comerciantes de porta aberta com esplanadas que pagam impostos, está a própria cidade que está a ser vandalizada e que está a criar uma imagem de confusão, e a política também fica com uma imagem que não consegue controlar a situação», declarou à Lusa o presidente da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia.
Afastando a ideia de sentimento de medo e de insegurança, o presidente da Associação de Comerciantes do Bairro Alto, Hilário Castro, partilhou da ideia que as situações de criminalidade violenta, inclusive roubos e esfaqueamentos, são provocadas por grupos que vêm das periferias de Lisboa, com o propósito de assaltar ou vender estupefacientes.
Na perspetiva do representante dos comerciantes, o sistema de videovigilância que está instalado deve ser utilizado melhor pela polícia e a reabertura das discotecas pode ajudar a reduzir os ajuntamentos na rua.
PSP reforça policiamento
Um facto é que nas últimas semanas, Lisboa tem registado situações de criminalidade violenta em contexto de diversão noturna, nomeadamente no Bairro Alto, Cais do Sodré e Santos, com ocorrências de esfaqueamentos, ao que as forças policias tem reagido com o reforço da presença policial nesses locais, com o objetivo de evitar problemas maiores.
Contudo, a presença de jovens neste local pode ser explicada, segundo uma fonte da polícia, por se estar a viver um momento em que as pessoas sentem que «a pandemia está a acabar, ao mesmo tempo que acontece o regresso às faculdades e ao ensino secundário. A isto, acresce a situação das praxes».
Antes da pandemia, já havia um grande número de jovens que se juntavam nesses locais, referem. Agora, a PSP tem feito um novo «acompanhamento para perceber que novos fenómenos de deslocação vão ocorrer na noite lisboeta», explicando a nova gestão logística que a autoridade tem agora de ter em conta.