O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, garantiu, esta segunda-feira, dia 4 de julho, em entrevista à Rádio Renascença, que vai abandonar o projeto pensado pelo executivo anterior, liderado por Fernando Medina, para a construção da Feira Popular na freguesia de Carnide.
As declarações do autarca valeram diversas reações por parte dos partidos da oposição, que pedem que se encontrem novas alternativas para a criação do espaço, que foi uma referência da cidade de Lisboa.
A instalação da Feira Popular de Lisboa, encerrada em 2003, em Carnide, foi um projeto prometido pelo anterior presidente da autarquia lisboeta, Fernando Medina, em 2015. Á Rádio Renascença, Carlos Moedas garantiu que “este projeto de um parque de diversões nunca foi conseguido”, acrescentando que “a razão é que esse tipo de parques de diversão no centro de cidade não fazem o mesmo sentido que faziam no passado”.
No entanto, o presidente da Câmara de Lisboa frisou ainda que “podemos ter diversão, podemos ter uma parte do parque com alguns equipamentos para esse tipo de diversão, mas não podemos ter um parque, como foi pensado de forma errada, como a Eurodisney. Isso não vai acontecer”. O Bloco de Esquerda já reagiu a estas declarações e acusa, em comunicado enviado à comunicação social, Carlos Moedas de “deixar de governar” para quem vive na capital, concentrando-se apenas no turismo e no imobiliário”.
O PCP, também em nota de imprensa, lamenta a decisão do presidente da Câmara de Lisboa e manifesta a sua “disponibilidade para discutir alternativas para aquele espaço, tendo em conta as necessidades existentes e a vontade da população”. Contudo, os comunistas consideram ainda que que “qualquer projeto diferente para os terrenos de Carnide deve ser acompanhado de uma proposta de localização alternativa para a Feira Popular”, e adiantam ainda que, por enquanto, ainda não foi apresentada nenhuma proposta alternativa para os terrenos municipais junto ao Bairro Padre Cruz.
Recorde-se que o projeto apresentado para aquele espaço consistia numa nova Feira Popular, com características distintas da que antes existiu em Entrecampos, e que seria inserida num Parque Urbano. Para o PCP, a cidade de Lisboa deve ter “um espaço de diversão, fruição e lazer, ao ar livre, para os que vivem em Lisboa, para os que visitam a cidade, um espaço de encontro de gerações, de características marcadamente populares”, escreve o partido na mesma nota.
Já o Bloco de Esquerda garante que irá apresentar propostas alternativas na Câmara Municipal e na Assembleia Municipal de Lisboa para que a cidade “não perca a Feira Popular”, prometendo ainda que vai questionar “Carlos Moedas sobre o destino que dará aqueles terrenos em Carnide”.
A vereação do Partido Socialista na Câmara de Lisboa acusa ainda Carlos Moedas de “falta de visão e de ambição para governar a cidade, ao desistir do projeto da Feira Popular em Carnide”. Segundo uma nota enviada à Agência Lusa, os socialistas dizem que a “imagem de marca de Carlos Moedas, como se viu hoje uma vez mais, é não fazer. Perante o desafio de algo que possa dar trabalho, ou gerar alguma crítica, Moedas recua, suspende ou cancela”.
O PS, que vai levantar a questão na próxima reunião de câmara, diz ainda que o presidente da autarquia de Lisboa está a incumprir com uma das promessas da sua campanha eleitoral. No entanto, e apesar das críticas, o programa eleitoral de Carlos Moedas já apresentava uma ideia diferente para os terrenos situados junto ao Bairro Padre Cruz.
Ou seja, o objetivo do atual presidente da Câmara de Lisboa é transformar aquele espaço num Parque Urbano, com equipamentos de lazer e desporto, incluindo uma piscina exterior. Outra das ideias é complementar aquela zona com equipamentos culturais e reconverter a Avenida Professor Francisco da Gama Caeiro, construindo uma ligação ao Bairro Padre Cruz.
Ainda de acordo com o PS, partido que perdeu, nas eleições autárquicas de 2021, a presidência da Câmara de Lisboa para a coligação Novos Tempos, liderada por Carlos Moedas, o autarca “não tem uma visão de cidade e, muito menos, uma ambição para Lisboa, razão pela qual já pouco resta do seu programa eleitoral, sendo rara a semana que não deixar cair uma das bandeiras”.
Os socialistas defendem também que a conclusão do projeto da Feira Popular em Carnide, apresentado em novembro de 2015 por Fernando Medina, era “um instrumento crítico para o equilíbrio da carga económica e turística da cidade”, para além de ser “uma ambição fortemente reclamada pelos lisboetas há quase 20 anos”.
A Feira Popular de Lisboa encerrou em 2003, na altura em que a autarquia lisboeta era gerida por Pedro Santana Lopes. Desde então, o PCP avançou, duas vezes, em 2008 e em 2015, com uma proposta de localização da Feira Popular junto ao rio, numa área integrante do Plano de Urbanização da Zona EXPO (abrangida pelo Plano de Pormenor PP6 – Parque Tejo).
No entanto, O PCP salienta ainda que “sempre esteve disponível para equacionar outras hipóteses de localização da Feira Popular, tendo dado o seu acordo à solução encontrada em Carnide”. Apesar de ter concordado com esta localização, criticou “a ausência de envolvimento prévio da população local, e da Junta de Freguesia de Carnide na escolha do sítio”. Os comunistas aproveitam ainda para criticar o tempo perdido na resolução da questão e ainda o estado em que se encontram os terrenos da antiga Feira Popular, que estão, no entender do PCP, “numa situação de insalubridade, abandono e perigosidade”.
Já os vereadores do PS consideram que é necessário diversificar os pontos de atração na capital, de forma a diminuir a concentração do turismo em Belém e que a desistência do projeto da Feira Popular “representa uma quebra com o imaginário afetivo da cidade, a história de Lisboa e as pretensões dos lisboetas”.
Até ao seu encerramento definitivo, há quase 20 anos, a Feira Popular de Lisboa foi um espaço de referência da capital, e funcionou em Entrecampos durante seis décadas. O fecho daquele recinto deu-se numa época em que “o espaço estava decrépito e que era alvo de grande pressão imobiliária sobre os terrenos de Entrecampos”, sublinhou o Bloco de Esquerda.
Em 2016, o então presidente da autarquia lisboeta, Fernando Medina, deu início à preparação dos novos terrenos da Feira Popular, num investimento de 70 milhões de euros, mas o projeto ficou ao abandono. Para o Bloco, o novo espaço, “pelas suas características, serviria a população de Lisboa e não apenas os turistas, pelo que se a ideia de Carlos Moedas avançar, as famílias e as crianças de Lisboa ficam com menos equipamentos e perdem-se os milhões que se previam de investimento”.
O partido defende ainda que a Feira Popular devia voltar à cidade integrada num “espaço requalificado que conciliaria um grande parque urbano com área de diversões populares”. Ao mesmo tempo, o Bloco fala ainda numa “falta de clareza do PS sobre o formato e envolvimento de privados neste projeto”.
O projeto para a construção da Feira Popular em Carnide foi anunciado em novembro de 2015 e as obras arrancaram um ano depois, tendo sido demolidos os edifícios existentes nos terrenos junto ao Bairro Padre Cruz, para criar um parque urbano de 20 hectares.
De acordo com Fernando Medina em março de 2021, este parque verde iria ser aberto “antes do verão” desse ano, o que não se veio a concretizar, devido aos atrasos provocados pela pandemia.