MARCHA DA GRAÇA VOLTA A DESFILAR EM 2023

Vasco Cruz, coordenador da marcha, considera que a Graça foi injustamente classificada em 2019

Após quatro anos, a Marcha da Graça vai voltar ao concurso das Marchas Populares de Lisboa em 2023. Vasco Cruz, coordenador da marcha, considera que a Graça foi injustamente classificada em 2019. No ano passado, viu negada uma providência cautelar contra a EGEAC, o que impossibilitou a readmissão no concurso de 2022.

Contudo, e com o trabalho preparado, a Marcha da Graça, organizada pelo Clube Desportivo da Graça, saiu na mesma à rua. Em 2023, prepara-se novamente para brilhar na 89ª edição das Marchas Populares de Lisboa, que acontece entre os dias 2 a 4 de junho, na Altice Arena, e de 12 para 13 de junho, na Avenida da Liberdade.

Afastada do concurso das Marchas Populares em 2022, a Marcha da Graça já começou a trabalhar nos figurinos e na cenografia. Ao mesmo tempo, prevê iniciar os ensaios em abril, e uma coisa é certa: em 2023, o desfile terá uma “responsabilidade acrescida”. Neste sentido, o grande objetivo, além de ganhar, será sobretudo “desfilar com a certeza que não vamos passar pelo mesmo que passámos durante três anos”, explicou o responsável da Marcha da Graça, Vasco Cruz, ao Olhares de Lisboa.

No concurso de 2019, o último em que a Marcha da Graça marcou presença, esta ficou classificada em 17º lugar. Porém, e após a descoberta de vários erros na classificação por parte da EGEAC, a empresa voltou a recontar as pontuações. Desta forma, a Graça foi relegada para 18º lugar, posição que não deu acesso direto à edição seguinte. De acordo com Vasco Cruz, a organização da marcha contestou o resultado à EGEAC, dentro do prazo legal.

Ao mesmo tempo, juntou as imagens da transmissão televisiva da RTP, mas a resposta foi que “não havia VAR (vídeo árbitro) e que não ia considerar imagens de carácter duvidoso como prova”.

EGEAC não “deu abertura”, considera o responsável

Mesmo assim, a Marcha da Graça não desistiu e tentou falar, várias vezes, com a EGEAC. No entanto, segundo o coordenador, “eles iam-nos chutando para canto” e evitaram chegar a um consenso. Por isso, e insatisfeitos, os responsáveis pela marcha levaram uma petição à Assembleia Municipal de Lisboa, que foi votada em março de 2020, “pouco antes do início da pandemia”.

Contudo, o documento foi reprovado, e de seguida, a organização da Marcha da Graça colocou uma providência cautelar contra a EGEAC. Já com o processo em tribunal, a esperança renovou-se. Neste sentido, na expectativa de ser readmitida no concurso de 2022 (uma vez que as edições de 2020 e 2021 das Marchas Populares de Lisboa foram, entretanto, canceladas devido à pandemia), a organização preparou tudo, desde músicas a figurinos.

Porém, “a uma semana antes do desfile no Altice Arena”, a providência cautelar foi negada. O motivo, explica o coordenador da Marcha da Graça, foi que o documento não deu entrada no Tribunal Administrativo dentro do prazo legal de seis meses. Ou seja, a única solução foi, inevitavelmente, ficar de fora da edição de 2022.

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Por outro lado, já que estava tudo preparado, a Marcha da Graça (que até então nunca tinha ficado de fora do concurso) não quis desperdiçar o trabalho. Desta forma, na noite de Santo António, fez um desfile pelo bairro, enquanto decorria o concurso na Avenida da Liberdade.

O feito repetiu-se uma semana depois, mas já em conjunto com as marchas da freguesia de São Vicente. Neste sentido, recorde-se que, em 2022, apenas São Vicente e Voz do Operário participaram no concurso. Por sua vez, a Marcha de Santa Engrácia não entrou nesta edição, regressando em 2023 a par com a Graça e São Domingos de Benfica.

Experiência foi “espetacular”

De acordo com Vasco Cruz, a experiência “foi espetacular”. Ao mesmo tempo, considera ainda que “foi talvez a saída mais emotiva que nós tivemos desde que eu me lembro de fazer marchas”. Para além de coordenador, Vasco é também figurinista, ensaiador e cenógrafo da Marcha da Graça, onde já foi marchante.

“Nós sem qualquer comparticipação financeira da Câmara Municipal, tínhamos ali 48 pessoas a marchar”, reforçou o responsável. Ao mesmo tempo, este salientou o espírito “de união e de solidariedade” dos marchantes da Marcha da Graça, cuja exibição de 2022 foi totalmente financiada pelo Grupo Desportivo da Graça (CDG).

No ano passado, o tema apresentado foi “Á Boleia do 28”, em homenagem ao famoso elétrico “que é um ex-líbris do bairro da Graça”. Neste sentido, este iria ser o tema proposto para a edição de 2020. Em relação aos marchantes, houve uma certa dificuldade em conseguir pessoas, devido à pandemia, “que levou a uma mudança de hábitos e a marcha deixou de ser uma prioridade para elas”.

Por outro lado, “houve também muita gente que se solidarizou connosco e fez questão de vir marchar no nosso grupo”, conta o responsável. Desta forma, Vasco considera que 2022 “foi um ano especial” para a Graça, devido ao forte apoio dos moradores do bairro, dos marchantes e ainda da atriz Carla Andrino, madrinha desta marcha há mais de 20 anos.

Grupo de marchantes será o mesmo

“As pessoas sentiram a emoção de desfilar e agora, em 2023, os marchantes vão sentir novamente essa emoção. Muitos deles vão também sentir o que é desfilar na Avenida e no pavilhão”, diz Vasco Cruz. Desta forma, a 2 de junho, a Marcha da Graça irá desfilar na Altice Arena, e depois de 12 para 13 de junho, na Avenida da Liberdade, marcando assim o regresso oficial ao concurso, que, em 2023, terá como tema o Parque Mayer.

Segundo o coordenador da Marcha da Graça, grande parte dos marchantes vai transitar do grupo do ano passado. Por sua vez, estes têm idades entre os 16 e os 60 anos, embora a grande maioria já não seja residente na Graça.

“Hoje em dia, já há muita gente de fora, não é como antigamente que 90 ou quase 100 por cento das pessoas eram daquele bairro”, explica o responsável. No mesmo sentido, Vasco acrescenta ainda que, para além de antigos moradores da Graça (que atualmente residem na Margem Sul e noutros concelhos limítrofes), o grupo é também composto por marchantes oriundos de outros bairros lisboetas.

Aqui, dá como exemplo “os Olivais, Alfama ou Castelo, que vêm para aqui por influência de amigos e familiares ou simplesmente porque se identificam mais com a nossa marcha”. O coordenador da marcha fala ainda de “uma perda da identidade” dos bairros lisboetas. O grande motivo prende-se com o aumento do custo das habitações em Lisboa, e que obrigou a muitos a saírem para os arredores.

Ao mesmo tempo, revela que existe alguma dificuldade em conseguir marchantes homens, embora sem saber porquê. “Nos anos 50 era ao contrário, os homens vinham todos para a marcha e a dificuldade era arranjar mulheres”, explicou Vasco Cruz, nascido e criado no bairro da Graça.

Organizada pelo Clube Desportivo da Graça

Em 2023, a Marcha da Graça será organizada novamente pelo Clube Desportivo da Graça (CDG). Esta coletividade conta com 200 sócios e “cerca de 180 atletas”, distribuídos por quatro modalidades. Estas são: Futsal, Karaté, Ballet e Atletismo, explicou ao Olhares de Lisboa o presidente do clube, Rui Vicente.

O CDG tem instalações próprias, e considera-se uma coletividade com uma situação financeira estável e com perspetivas de continuidade. Contudo, para além das modalidades e da organização da Marcha da Graça, o clube promove ainda o convívio entre os moradores da Graça, sendo já uma referência da freguesia.

Um dos objetivos da direção do clube “é aumentar as modalidades”, o que implica um aumento das instalações. “Temos o sonho de criar uma equipa de Futsal feminina, mas não conseguimos porque já não temos espaço. Contudo, sabemos que dentro de Lisboa é difícil fazer essa expansão”, explica o responsável do clube.

No mesmo sentido, Rui adianta que existem seis escalões (Petizes, Traquinas, Benjamins, Infantis, Iniciados e Juvenis) no Futsal masculino. Os atletas treinam na Escola Secundária Gil Vicente, a poucos metros do clube.

Contudo, até ao escalão de Iniciados, há a possibilidade de existir equipas mistas, que é o que acontece na formação do CDG. Porém, “a partir dos 15 anos, as raparigas só podem treinar em equipas femininas”. Por isso, não existem equipas femininas neste clube.

No entanto, e apesar destas limitações, existem quatro raparigas, ex-atletas do clube, a jogar no Benfica, reforçou Rui Vicente, presidente do CDG há quatro anos, e visivelmente orgulhoso deste facto.

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