A Marcha de São Domingos de Benfica está de regresso, ao fim de cinco anos, ao concurso das Marchas Populares de Lisboa. Para já, e sem revelar muito, a organização promete um tema “diferente”. Ao Olhares de Lisboa, a coordenadora da marcha, Isabel Mendes, revela que não trabalha para ganhar, mas sim “para honrar as Festas de Lisboa”, e sobretudo a freguesia que representa.
A marcha é organizada desde 2018 pela Comissão de Moradores de São Domingos de Benfica. O grupo de marchantes já está formado e quase todos moradores na freguesia. Segundo Isabel Mendes, “têm idades entre os 16 e os 64 anos” e, a maioria foi marchante em 2018.
Isabel Mendes é também presidente da Comissão de Moradores. Para além de estar a ultimar todos os preparativos, adiantou ainda que os padrinhos deste ano serão Toni (António Oliveira), antiga glória do Benfica, e a modelo Jani Gabriel, residente na freguesia.
“Não podíamos ter melhores padrinhos, estamos felicíssimos”, acrescenta a coordenadora. Ao mesmo tempo, acrescenta que o tema deste ano foi pensado por si e promete “ser diferente”. O cenógrafo e ensaiador da marcha é Nuno Frazão e as músicas da autoria de Artur Jordão. A Marcha de São Domingos de Benfica ensaia de segunda a sexta, na Escola D. Pedro V.
Comissão de Moradores já tem espaço para as suas atividades, mas continua a sonhar com sede
Uma das grandes reivindicações da organização é a criação de uma sede para instalar a marcha e a Comissão de Moradores, fundada em 2017. Segundo José da Câmara, presidente da Junta, ao Olhares de Lisboa, “não é competência das Juntas de Freguesia a atribuição de sedes a associações ou outras instituições de caráter associativo”. Por sua vez, sublinha, esta é uma responsabilidade da Câmara Municipal de Lisboa.
Contudo, “foi aprovado, em reunião da Junta de Freguesia, no passado dia 12 de abril, um acordo de cedência de uma loja no Mercado de São Domingos”. Desta forma, a Comissão de Moradores já tem ao seu dispor um espaço para “a realização de reuniões, encontros e sessões de preparação e conceção da Marcha Popular”.
Ao mesmo tempo, poderá ainda “armazenar materiais e documentos associados a esta”, garante o autarca. Até ao momento, todo o material da marcha esteve guardado em armazéns e garagens arrendadas pela organização, aguardando transferência para outro local. Para já, esta solução ajuda a resolver parte das necessidades da Comissão de Moradores, que, todavia, continua a sonhar com uma sede para finalmente instalar a marcha.
Homenagear a freguesia
A última participação de São Domingos de Benfica nas Marchas de Lisboa foi há cinco anos, em 2018. Nesse ano, ficaram em 20º lugar, o que não dá acesso direto à edição do ano seguinte. A marcha teve de ir a sorteio e não foi selecionada para a edição de 2019, não tendo participado no concurso, o que voltou a suceder em 2022.
Para Isabel Mendes, a Marcha de São Domingos de Benfica, ao contrário de outras marchas, não trabalha para ganhar o concurso. Ou seja, trabalha para homenagear a freguesia e as festas da cidade. “O que eu acho é que as freguesias, fora do centro da cidade, não têm um peso tão significativo nas Marchas”, acrescenta a coordenadora.
Visão realista
Por isso, prefere ter uma “visão realista” acerca do concurso e aceitar que as probabilidades de ganhar as Marchas de Lisboa são remotas. “Gostava de ficar bem qualificada para poder voltar a participar, no próximo ano”, sublinha Isabel Mendes. “Uma marcha não deve ser só rivalidades, deve ter também um conteúdo social”, acrescenta. A presidente da Comissão de Moradores já teve a oportunidade de ser marchante em São Domingos de Benfica, Benfica, Campo de Ourique e Baixa.
Para a coordenadora da marcha, há ainda a perceção “de que tudo é Benfica”. Por isso, defende a importância desta marcha para o público perceber que existem duas freguesias distintas. Para já, o tema ainda não pode ser revelado. Todavia, a organização promete “muitas surpresas” e tem esperança de fazer uma boa prestação. A Marcha de São Domingos de Benfica atua na Altice Arena, a 2 de junho, e depois na Avenida da Liberdade, na noite de Santo António.
Mais apoios financeiros
Para além do espaço físico, outra das reivindicações da Comissão de Moradores era um apoio monetário por parte da Junta, para apoiar a realização da marcha. O executivo da Freguesia vai reunir-se no final do mês em sessão ordinária, para discutir e apreciar uma proposta “neste sentido”.
Caso seja aprovado, este apoio junta-se à verba de 30 mil euros dada anualmente pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) às coletividades que organizam as marchas. Até ao momento, a Marcha de São Domingos de Benfica sempre organizou as marchas apenas com as verbas da câmara, e é com expetativa que Isabel Mendes vê esta possibilidade.
Por outro lado, a coordenadora explica que já teve a oportunidade apresentar o projeto da marcha a José da Câmara, o qual foi muito bem recebido pelo autarca. A Comissão de Moradores de São Domingos de Benfica organiza a marcha desde 2018. Esta organização pegou na marcha após a coletividade que o fazia, a Associação de Moradores Flor da Serra, ter desistido de organizar a marcha. O último ano em que tinha participado foi em 2015 – a marcha ficou em 16º lugar. Antes disso, já tinha participado no concurso 25 anos antes.
“Podíamos ter concorrido no ano seguinte, mas a coletividade não quis”, salienta Isabel. Por isso, e como amante das marchas que é, a presidente da Comissão de Moradores pegou na organização da marcha, porque “São Domingos de Benfica também tem direito a estar nas Festas de Lisboa”.
Freguesia é “um dormitório”
No entender da presidente da Comissão de Moradores de São Domingos de Benfica, existem poucos atrativos na freguesia. “Temos Monsanto, temos jardins bem tratados, temos o Jardim Zoológico, mas depois à noite isto torna-se um dormitório”, sublinha a responsável. Isabel olha para a freguesia do lado, Benfica, com “inveja”, uma vez que “é uma freguesia que tem tudo”.
A comissão de moradores funciona, essencialmente, como “um apoio” entre os cidadãos e a Junta de Freguesia. Segundo Isabel Mendes, algumas das principais necessidades dos fregueses prendem-se, sobretudo, com “a solidão” dos mais idosos.
“Nós estamos numa freguesia de classe média-alta e as pessoas sentem muita vergonha de pedir ajuda para fazer compras ou para ir ao cabeleireiro, por exemplo”, reforça Isabel, moradora na freguesia há quase 30 anos.
NR: Artigo atualizado dia 19/4/2023 às 11h20