A Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, homenageou, esta quinta-feira, dia 5 de outubro, Carlos Mendonça, antigo ensaiador da Marcha de Alfama, com um busto em mármore colocado à porta do Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, coletividade que organiza a marcha.
Esta iniciativa está inserida nas comemorações dos 10 anos da freguesia de Santa Maria Maior. Ao Olhares de Lisboa, o presidente da junta, Miguel Coelho, explicou que “as marchas têm um papel muito importante nestes bairros”. O autarca acrescentou ainda que “estamos a homenagear o povo de Alfama, através do Carlos Mendonça, uma figura que deu visibilidade e a aura de ‘melhor marcha’ a Alfama”.
Para Miguel Coelho, “o Carlos Mendonça não foi só um ensaiador. Foi um inovador das marchas. Até ao final do século passado, as marchas tinham características similares a ranchos folclóricos e foi ele que trouxe esta imagem e noção teatral das marchas”. Na opinião do autarca, Carlos Mendonça criou um “estilo que as outras marchas de Lisboa replicaram” e foi “uma pessoa muito importante para a cultura popular da cidade”.
Por outro lado, o presidente adiantou ainda que, na próxima segunda-feira, a Assembleia de Freguesia de Santa Maria Maior vai votar uma proposta para atríbuir, a título póstumo, uma medalha de Mérito Associativo a José Júlio Rocha, antigo presidente do Centro Cultural Dr. Magalhães Lima, falecido em 2006. “Tenho a certeza que vai ser aprovada por unanimidade”, acrescentou Miguel Coelho. José Júlio Rocha é também pai da atual ensaiadora da Marcha de Alfama, Vanessa Rocha, que assumiu “a pasta” que era de Carlos Mendonça.
Carlos Mendonça conquistou 13 primeiros lugares por Alfama
Vanessa é ensaiadora desta marcha desde 2010. Ao Olhares de Lisboa, contou que suceder a Carlos Mendonça “é uma responsabilidade muito grande”. Na sua perspetiva, “ensaiar a Marcha de Alfama é sempre uma grande responsabilidade, porque é aquela que toda a gente está à espera de ver”. A atual ensaiadora entrou na Marcha de Alfama como marchante em 1991, com 14 anos. “Com o Carlos Mendonça aprendi a gostar de certas coisas, e ainda a ver o teatro e a cultura de uma maneira diferente”, conta.
Para a ensaiadora, “o Carlos Mendonça mostrou o brilho que as marchas podiam ter”. Carlos Mendonça faleceu em 2016, e ao longo da sua vida, fez teatro e bailado, foi figurinista, cenógrafo e escreveu vários espetáculos musicais e teatro de revista. Esteve na Marcha de Alfama entre 1990 e 2010, onde foi coreógrafo, figurinista, cenógrafo, letrista, músico e compositor, tendo arrecado 13 primeiros lugares e vários prémios de categoria.
O sucesso valeu-lhe a alcunha de ‘Mourinho das Marchas’. Por sua vez, entre 2011 e 2014, dirigiu ainda a Marcha do Alto do Pina. Em 2014, foi distinguido com a Medalha de Ouro da Cidade de Lisboa e em 2015, escreveu o livro ‘As Minhas Marchas’.
Transmitir humanidade
Joana Alves é a autora da escultura que homenageia Carlos Mendonça. Ao nosso jornal, conta ainda que demorou dois meses a fazer este busto. A obra é feita em pedra mármore, “para perdurar no tempo”, explica a artista, que fez a escultura após um convite da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. “Tentei fazer uma representação realista da figura. Procurei, de uma forma realista e idealizada, representar” a pessoa que foi Carlos Mendonça.
Por fim, a artista confessa que não conhecia o antigo ensaiador, e que fez a obra a partir de registos fotográficos. “Uma das preocupações que tive, além da fisionomia e semelhança, foi também transmitir uma certa humanidade na escultura”, concluiu a artista. Contudo, a par desta inauguração, houve ainda uma exposição com fotografias e figurinos desenhados por Carlos Mendonça, bem como um pequeno lanche para os convidados.