A maçonaria explicada de dentro para fora. Foi este o propósito de Henrique Tigo quando se lançou na escrita de “Maçonaria ComTigo”.
O autor quer desfazer alguns mitos e, talvez, por fim a alguns segredos. De acordo com Henrique Tigo, o lançamento do livro foi a primeira vez que estiveram presente tantas obediências maçónicas juntas numa mesma sala: a Grande Loja Legal de Portugal, o Grande Oriente Lusitano, o Grande Oriente Ibérico, a Grande Loja Unida de Portugal, a Grande Loja Feminina de Portugal, a Le Droit Humain, o Grande Oriente Nacional Francesa e a Grande Loja Francesa Mista de Memphis Misraim.
Olhares de Lisboa – A Maçonaria continua a ser um tabu?
Henrique Tigo – Espero que não. Existe algum desconhecimento sobre o tema, o que leva as especulações. Infelizmente, a imprensa é um pouco culpada disso pois, como em tudo, só fala dos pontos negativos ou cria mitos sobre o tema. Esquecem-se das coisas boas. Mas em abono da verdade, a culpa também de alguns maçons que continuam sem dar a cara e dizerem ‘nós fazemos isto ou aquilo em prol dos outros’. Pois a verdade é que a Maçonaria é composta por homens que trabalham e se esforçam para ajudar uns aos outros em companheirismo, amizade e boa cidadania.
OL – O Henrique Tigo já foi discriminado por ser maçon?
HT – Sim e não. Já houve pessoas que olharam para mim de lado, que me disseram ‘mas tu és maçon, devias ser político ou conduzires um Ferrari’. Que é outro mito: não se necessita de se ser milionário para se ser maçon, nem ser político, nem muito influente. Houve outras pessoas que ficaram com curiosidade e quiseram saber mais, o que nós fazemos e principalmente como se entra.
OL – Então, o que é necessário para se entrar para a Maçonaria?
HT – Ser homem e ter, pelo menos, 21 anos de idade. Algumas Obediências aceitam homens que tenham 18 anos de idade ou mais, desde que estes sejam filhos de membros ou para estudantes universitários (eu pessoalmente acho que devem ter mais de 21 anos). Também ter princípios morais elevados. Talvez esta seja a qualidade mais importante para se ter como um Maçon. O lema da fraternidade é ‘homens melhores fazem um mundo melhor’ e a honra, integridade pessoal e responsabilidade são levadas muito a sério. Tem de ser capaz de demonstrar que é um homem de bons costumes e (bom-caráter) das seguintes maneiras: ter uma reputação tão boa a ponto das pessoas que o conhecem possam garantir que é uma pessoa de caráter, e ser um bom familiar, com meios de apoiar e sustentar sua família. Tendo estas características, um membro maçon deve, se assim entender fazer o convite. Pois para a maçonaria só se entra por convite. Caso aceite o convite, será apresentado em loja. Depois de aprovado em loja, passa-se para a entrevista com uma comissão de maçons. Nessa entrevista perguntarão porque se quer tornar maçon, para além de outras questões sobre a sua própria história e caráter. Claro que o candidato a maçon terá a oportunidade de fazer perguntas sobre como as coisas funcionam na maçonaria.
OL – E depois de entrar, como é?
HT – Depois da Iniciação, o candidato torna-se Aprendiz Maçon e aprenderá os princípios básicos da Maçonaria. Após adquirir conhecimento suficiente, e já ter algum tempo de casa, irá trabalhar para subir mais dois graus simbólicos. Depois avança para o grau de Companheiro Maçon, onde terá mais conhecimento dos ensinamentos da Maçonaria, principalmente, no que diz respeito às artes e ciências. Para finalizar esse grau, os Mestres da Loja testarão seu conhecimento sobre tudo o que aprendeu até o momento. Finalmente chega a Mestre. Este é o nível mais alto que você pode alcançar. Normalmente, leva muitos meses, ou até anos, para lá chegar, pois, para conseguir o referido grau, tem que mostrar capacidade nos valores da Maçonaria. Ao alcançar esse grau, é um Maçon de plenos direitos.
OL – O que nós trás de novo deste livro?
HT – Este livro é o ponto de vista de um maçon que relata através de poesia, desenhos e pranchas (nome que damos aos trabalhos apresentados numa loja) o que é para si a maçonaria, para que de uma vez por todas se deixe de olhar para a mesma como um bicho de sete cabeças. Pelo que sabemos, é a primeira vez que, em Portugal, um maçon escreve um livro e se assume como tal. Outros maçons escreveram livros sobre a maçonaria, antigos Grão-mestres, ou antigos ou ex-maçons se assim o quiserem chamar. Mas escreveram livros sobre a história da maçonaria, a influência na maçonaria nisto ou naquilo. Eu conto na primeira pessoa a minha experiência e o que fazemos dentro de loja.
OL – Então irá contar tudo? Vão-se acabar os segredos?
HT – Talvez sim. Desde que saibam ler e interpretar o que escrevi, sim.