Tal como explica Mário Ribeiro, as novas instalações situam-se na Rua Gualdim Pais, já na Freguesia da Penha de França. O comandante dos Bombeiros Voluntários do Beato revela que “o projeto já está na Câmara Municipal de Lisboa desde março, mas que só agora é que teve andamento”.
O bombeiro acredita que o projeto será aprovado, uma vez que “a autarquia esteve a acompanhar o seu desenvolvimento”.
Segundo Mário Ribeiro, “será um quartel operacional simples”, sem luxos, com cerca de 2500 metros quadrados, que à partida poderá ser pequeno para as ambições desta corporação. Daí que o projeto preveja o crescimento em altura, ganhando um segundo piso através da construção por módulos.
A execução deste projeto poderá custar cerca de 900 mil euros, um valor abaixo da média de um quartel normal, rondam os 2 milhões de euros.
É neste aspeto que o comandante mantém a expetativa. “A Câmara Municipal de Lisboa não vai dar nenhum apoio financeiro e nós estamos na aprovação do projeto. Só aí que as entidades bancárias nos dizem quanto nos emprestam”, esclarece.
O contributo do município está na cedência de posição do terreno durante 50 anos, renováveis.
Mário Ribeiro tem consciência da dificuldade que terá em obter toda a verba necessária, mas adianta que conta já como apoio financeiro das freguesias do Beato, Penha de França, Arroios e Marvila. “Só não conseguimos falar com Areeiro”, afirma.
SEM CONDIÇÕES
Saindo das antigas cavalariças do Palácio do Duque de Lafões, o responsável entende que terá “mais capacidade para albergar mais recursos humanos e técnicos”. E relata: “muitas pessoas vêm aqui para ser bombeiro e a primeira coisa que faço é mostrar as condições”. Muitos acabam por desistir logo quando verificam a situação do atual quartel.
Pelos corredores exíguos, descobre-se a cada sala o estado degradante com o qual homens e mulheres têm de conviver todos os dias para manter a corporação de bombeiros em funcionamento.
“Conciliar as necessidades de respostas com as condições do quartel não tem sido fácil. Tem sido um jogo de cintura muito grande e tem de haver um amor muito grande pelo corpo de bombeiros”, explica Mário Ribeiro.
“Quando estamos de alerta temos, no mínimo, vinte elementos no quartel. Nas camaratas feminina dormem duas, na masculina quatro. O resto dorme no chão ou vão para os carros dormir”, refere.
No verão, as temperaturas nas camaratas chegam a atingir os 45 graus e a falta de janelas não permite aliviar o ambiente.
O comandante conta mesmo que chegou a haver ratos que passavam por cima dos bombeiros enquanto dormiam.
Na opinião de Mário Ribeiro, há vários motivos para que esta situação se tenha prolongado por tantos anos. Em primeiro lugar, a Câmara Municipal de Lisboa. Para o comandante, a autarquia “esqueceu-se um pouco do quartel”.
Depois, Lisboa é o único concelho que não dá apoio mensal aos bombeiros. Existia uma verba anual de 25 mil euros que foi retirada quando António Costa chegou à presidência da autarquia. Mas também as próprias direções da corporação foram baixando os braços.
“Mesmo assim conseguimos manter a operacionalidade 24 horas”, defende.
Este ano pela primeira vez, “estivemos no distrito de Viana do Castelo a combater os incêndios, durante três meses, com 14 homens e quatro veículos”.
MUDAR A IMAGEM
Atualmente, o corpo de bombeiros do Beato é composto por 45 operacionais, dos quais 22 são profissionais. Quanto aos meios técnicos, a corporação tem vinte e uma viaturas, fazendo apenas falta “um veículo urbano de combate a incêndios”.
Os serviços mais frequentes são as emergências pré-hospitalares. “Há pouco tempo fomos considerados o quarto corpo de bombeiros a fazer mais emergências a nível nacional”, lembra Mário Ribeiro. “Entre os pedidos encaminhados pelo CODU e os contactos diretos devemos rondar as 1300 emergências por mês”.
Esta capacidade de resposta levou ainda ao crescimento da área de atuação há cerca de dois anos: “cobríamos Beato, Alto de São João e São Vicente de Fora. Agora é Beato, Marvila, Areeiro, Arroios e Penha de França”.
Mas nem tudo operava de forma tão eficaz quando Mário Ribeiro assumiu o comando deste corpo em 2009.
“Acabei com alguns vícios. Os bombeiros estão cá para servir a população, mas não para a população se aproveitar dos bombeiros. As pessoas vinham aqui enviar e receber faxes, fazer telefonemas, pedir material emprestado. Por outro lado, antes de eu chegar, os bombeiros passavam muito tempo nos cafés. Tive de proibir essa situação enquanto fardados.”
O comandante recorda-se que, em 2009, o corpo do Beato era para fechar, ficando apenas a associação humanitária. “Com a minha vinda para cá, conseguimos manter a corporação”.
Dispensou mais de oitenta elementos, acabou com o consumo de álcool dentro do quartel, normalizou a forma de fardar, começou a dar formação, mudou a imagem negativa que pairava sobre o quartel.
“Não tenho cá bombeiros para o número”, justifica, “os que tenho cá são os que cumprem”.
E os que cumprem, não são só Bombeiros Voluntários do Beato mas também da Penha de França. A nova designação foi aprovada há mais de um ano pela assembleia geral, depois da sugestão da presidente da Junta de Freguesia da Penha de França.