Aliança Democrática vence eleições legislativas com 29,49%

A noite eleitoral deste domingo foi de enorme incerteza até ao último minuto. Numa altura em que faltam apenas apurar os votos da emigração, os resultados apontam para uma vitória escassa da Aliança Democrática e a consolidação do Chega como terceira força política. Destaque ainda para a redução significava da abstenção, que registou o valor mais baixo em três décadas. Apesar de os resultados serem ainda incertos, Pedro Nuno Santos já admitiu a derrota. Já Luís Montenegro expressou “expectativa” de ser indigitado por Marcelo Rebelo de Sousa.

Ao contrário do que aconteceu nas últimas eleições, o mapa eleitoral que saiu deste domingo não é tão claro e aponta para uma vitória ténue da Aliança Democrática. Luís Montenegro, que tem a “expectativa fundada” de formar um executivo, espera que Chega e PS não se aliem para derrubar o governo da AD.

A Aliança Democrática (AD) foi a formação mais votada, com 29,49% dos votos e 79 deputados nas eleições legislativas de domingo, em que o Chega quadruplicou o número de deputados, com 48 mandatos.

O PS foi o segundo mais votado, com 28,66% e 77 deputados, no final do escrutínio em Portugal, e quando ainda faltam apurar os resultados nos círculos da emigração, que elegem quatro deputados, segundo dados da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna – Administração Eleitoral.

Capitalizando no voto de protesto, da anti-imigração e anticorrupção, o Chega disparou de 7,14% dos votos para 18,03%, passando de cerca de 382 mil votos para mais de 1,1 milhões. Em soma, vai ter 48 deputados na Assembleia da República, mais de quatro vezes os 11 que elegeu em 2022.

André Ventura não perdeu tempo e aproveitou logo a vitória, dizendo que “o Chega e PSD têm maioria absoluta nestas eleições” e “só um ato de grande irresponsabilidade pode afastar uma solução de Governo à direita”. Apontando ao futuro, vincou que poderá ser “daqui a seis meses, daqui a um ano ou daqui a dois anos, mas o Chega vai mesmo vencer as eleições legislativas em Portugal”.

Perante estas afirmações, o presidente do PSD disse esperar que PS e Chega “não constituam uma aliança negativa para impedir o Governo que os portugueses quiseram”, e voltou a recusar entendimentos com o partido de André Ventura, mas sem excluir diálogo.

Na fase das perguntas dos jornalistas, Luís Montenegro foi questionado se, com uma vitória por margem curta da Aliança Democrática (coligação que junta PSD/CDS-PP e PPM), mantém o “não é não” que tinha dito a entendimentos com o Chega antes e durante a campanha.

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“Eu assumi dois compromissos na campanha eleitoral e naturalmente que cumprirei a minha palavra. Nunca faria a mim próprio, ao meu partido e à democracia portuguesa tamanha maldade que seria incumprir compromissos que assumi de forma tão clara”, disse.

Chega pode derrubar governo

Sobre a margem da vitória, salientou que “ela tem a expressão que os portugueses lhe quiseram dar”, acrescentando que “há dois anos havia uma maioria absoluta do PS, agora há uma maioria relativa da AD”.

Montenegro foi questionado se não teme que o Chega possa derrubar o Governo à primeira oportunidade.

“Estamos cientes que, em muitas ocasiões, a execução do programa de Governo terá de passar pelo diálogo na Assembleia da República. É natural e é nossa expectativa que todos partidos possam assumir a sua responsabilidade, a começar pelo principal partido da oposição”, disse.

Neste ponto, o líder do PSD disse compreender que o PS não se reveja no programa do Governo, nem adira às propostas da AD, mas defendeu que tem a responsabilidade de respeitar “a vontade do povo português”.

“E é nessa lógica que a minha mais firme expectativa é que o PS e o Chega não constituam uma aliança negativa para impedir o governo que os portugueses quiseram”, enfatizou.

Ainda sem os resultados finais apurados e com uma “diferença tangencial”, Pedro Nuno Santos assumiu a derrota do PS e felicitou “a AD pela vitória nestas eleições”. Admitindo que o Partido Socialista não será o “partido mais votado”, o secretário-geral socialista garantiu que o partido irá “lidera a oposição” e que não vai suportar um Governo de direita.

PS passa á oposição

Assumindo a derrota, Pedro Nuno Santos afirmou que o PS será a oposição, renovará o partido e procurará “recuperar os portugueses descontentes com o PS”. Sobre os resultados nacionais, o líder socialista destacou o resultado “expressivo” do Chega “que não dá para ignorar”.

“Não há 18,1 por cento de portugueses votantes racistas ou xenófobos em Portugal”, continuou. “Mas há muitos portugueses zangados que sentem que não têm tido representação e que não foi dada resposta aos seus problemas concretos”.

“Queremos reconquistar a confiança destes portugueses e mostrar-lhes que as soluções para os problemas concretos das suas vidas passam pelo Partido Socialista e não pelo Chega nem pela AD”, salientou, prometendo que o partido vai trabalhar para “conseguir convencer” todos os que “estão descontentes com a política” e com o PS.

Depois, citou Mário Soares: “Só é vencido quem desiste de lutar, nós não desistimos. Vamos ter muito combate pela frente, com a convicção que voltaremos a reconstruir uma maioria que nos permita governar Portugal”.

Questionado pela comunicação social, Pedro Nuno Santos disse que “não podemos manter o país em suspenso” e que o PS não vai inviabilizar a formação de Governo da AD.

“O Partido Socialista não venceu as eleições. O Partido Socialista vai liderar a oposição. O Partido Socialista nunca deixará a liderança da oposição para o Chega ou para André Ventura”, deixou claro. “A liderança da oposição é do PS”.

O PS “está unido, está forte e está coeso”, sublinhou ainda.

“A direita ou a AD que não conte com o PS para governar. Não vamos ser nós que vamos suportar da AD. Que fique claro”, concluiu.

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